sábado, 30 de junho de 2012

Aprenda a rezar, rezando.


Pergunta: Se o senhor pudesse e quisesse dar às pessoas um breve conselho sobre como rezar, o que o senhor diria?

Resposta: Se você quiser aprender a nadar, pule na piscina. Esta é a única maneira. Só quem reza descobre o significado, o gosto e a alegria de rezar. Não dá para aprender a rezar sentado numa poltrona macia. Quando estiver pronto para se ajoelhar, para se arrepender com sinceridade, para levantar os olhos e aos mãos para o Céu, então muitas coisas lhe serão reveladas. Você até pode ler livros, ouvir palestras, conversar -- estas coisas também são importantes e ajudam a entender melhor a questão. Mas de que valem essas coisas se você não der o primeiro passo? Se você não começar a rezar?

Pe. Gabriel Bunge

quarta-feira, 20 de junho de 2012

"Vou me casar com uma noiva tão nobre e tão bonita como vocês nunca vão ver"


"Certo dia, tendo invocado mais completamente a misericórdia divina, mostrou-lhe o Senhor o que convinha fazer. A partir de então ficou tão cheio de alegria, que não cabia mais em si e, mesmo sem querer, deixou escapar alguma coisa aos ouvidos dos outros. Mas embora não pudesse calar por causa da grandeza do amor que lhe fora inspirado, era com cautela que comunicava alguma coisa, e falando em parábolas. Assim como falara ao amigo íntimo de um tesouro escondido, como dissemos, aos outros procurava falar por analogias. Dizia que não queria ir à Apúlia, mas prometia que haveria de fazer coisas nobres e estupendas em sua própria terra. Pensavam os outros que queria casar-se e lhe perguntavam: "Por acaso, você vai se casar, Francisco?" Respondia-lhes: "Vou me casar com uma noiva tão nobre e tão bonita como vocês nunca vão ver, que ganha das outras em beleza e supera a todas em sabedoria." Na verdade, a esposa imaculada do Senhor era a verdadeira religião, que ele abraçara, e o tesouro escondido era o reino dos céus, que buscou com tanto entusiasmo."

Tomás de Celano, Primeira Vida de São Francisco

domingo, 17 de junho de 2012

Recomendando um texto do Pe. Castellani


Passando rapidamente pare recomendar um excelente texto do grande Pe. Leonardo Castellani. Para lê-lo, clique aqui.

sábado, 16 de junho de 2012

Mil graças...


Mil graças, meu Senhor, por Tu me teres criado
Por teu amor, nasci, e vim sob teus cuidados.
Senhor, tu me livraste de uns tão nefandos laços
E, enfim, cheguei aqui, com o meu tão tímido passo.

A graça da existência é um dom de vosso amor
É pura gratuidade que Tu dás porque és bom.
Ninguém mereceu tal, pois o mérito não há
Num ser, antes de ser, e o ser és Tu Quem dás.

Oh Deus, quem saberá ser-vos grato o suficiente?
E eu: que posso dar que não seja ruim e doente?
Me dotaste, oh Sumo Bem, de uma alma imortal
Eu, porém, somente sei vos pagar com tanto mal.

Tu vieste, ainda, a Mim e subiste no Madeiro
As minhas tolas desculpas, Tu rasgaste com teu peito
E, de novo, tu me deste, sem eu nunca merecer
Uma tão pujante vida, a preço do teu sofrer.

Eis-me, pois, aqui, Senhor, com as minhas mãos vazias
Nu, sujo e sem graça, portando somente a vida
Culpado de tantos crimes, ingrato com vossa dor
Mas ouso seguir teus passos, constrangido em tanto amor.

Neste dia, nada tenho a vos dar ou a pedir
Quero, só, erguer os olhos; ver que o céu não é aqui.
Não faz mal que o meu sorriso seja, por ora, adiado
E mil graças, meu Senhor, por Tu teres me criado.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Sou o que sou diante de Deus, e nada mais


A sinceridade é o ato pelo qual me coloco a mim mesmo sob o olhar de Deus. Não há sinceridade de outro modo. Pois somente para Deus não há mais espetáculo, não há mais aparência. Ele próprio é a pura presença de tudo o que é. Quando me volto para ele, nada mais conta em mim, a não ser o que eu sou. 

Pois Deus não é apenas o olho sempre aberto ao qual nada posso dissimular do que sei de mim mesmo, ele é a luz que atravessa as trevas e que me revela tal como sou, sem que eu soubesse que era. O amor próprio que me ocultava de mim mesmo é uma roupa que cai de repente. Um outro amor me envolve, tornando minha alma transparente.

Enquanto a vida persiste em nós, conservamos ainda a esperança de mudar o que somos ou de dissimulá-lo. Mas quando nossa vida é ameaçada ou está perto de acabar, somente o que somos importa. Só diante da morte somos perfeitamente sinceros, porque a morte é irrevogável e dá à nossa existência, completando-a, o caráter do absoluto. É o que exprimimos ao imaginar o olhar de um juiz a quem nada escapa e que, logo após a morte, vê a verdade da nossa alma até nos seus meandros mais remotos. E o que significa esse olhar senão a impossibilidade em que estamos de acrescentarmos algo ao que fizemos, de nos evadirmos num novo futuro, de distinguirmos ainda nosso ser real do nosso ser manifesto e, no momento em que a vontade se torna impotente, de não abarcarmos num ato de contemplação pura esse ser agora realizado, ele que até então era apenas um esboço sempre sujeito a retoques?

Não basta à sinceridade evocar a Deus como testemunha, ela deve evocá-lo também como modelo. Pois a sinceridade não é somente ver-se em sua luz, mas realizar-se conforme sua vontade. Que sou eu, senão o que ele me pede para ser? Mas uma distância infinita logo se revela a mim entre o que faço e esse poder que está em mim e que meu único desejo é exercer: é que não cesso de faltar a ele e, na medida mesma em que falto, não sou mais para mim e para outrem senão uma aparência que um sopro dissipa e que a morte abolirá.

Tal é o verdadeiro sentido que devemos dar a estas palavras: "Todo aquele, portanto, que se declarar por mim diante dos homens, também eu me declararei por ele diante de meu Pai que está nos Céus. Aquele, porém, que me renegar diante dos homens, também o renegarei diante de meu Pai que está nos Céus" (Mt 10,32-33).

Louis Lavelle