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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Mistérios Gozosos - Um tratado sobre a Pobreza Interior - 2º Mistério


2º Mistério - A Visita de Maria a sua prima Sta Isabel

Maria estava grávida de Deus. Poderia ter ficado absorta na contemplação deste mistério e esquecer-se do mundo. Porém, ao saber que sua prima Isabel, de idade avançada, estava já no sexto mês de gestação, decide viajar até lá e se submete a uma caminhada cansativa de vários dias. Maria não pensa em si mesma. Nela se realiza aquilo que Sta Teresa D'Avila dizia sobre a alma enamorada: "E vive até de si tão descuidada." Ela tinha clara consciência de que a gravidez de Isabel era de origem divina, pois, além de a idade de Isabel não permitir mais que ela gestasse um filho de modo natural, o fato lhe fora comunicado pelo próprio Gabriel. A gravidez de sua prima, portanto, estava relacionada com a sua. Era igualmente manifestação da vontade divina, vontade que Maria amava e a que estava sempre atenta.

E Maria se dispõe e vai. Ela nos dá nisso uma lição. Todos conhecemos casos nos quais, mesmo sabendo da vontade divina, nós nos negamos a fazê-la por exigir de nós um mínimo de esforço. Isto só demonstra o quão poucos estamos esvaziados e o quanto ainda defendemos as nossas bagatelas - nosso bem estar, nossa imagem pessoal, nossa opinião - mesmo quando é Deus Quem nos pede abrir as mãos e soltá-las. 

Maria foi e aqui, pela primeira vez, há um indício sensível do que tinha acontecido no seu íntimo. O seu esvaziamento foi tão santo que o Verbo divino, no seu seio, pôde, a partir da sua voz, comunicar-Se. Maria apenas saudou Isabel. Isto foi suficiente para que esta última ficasse cheia do Espírito Santo. Certa vez, escutei uma palestra em que se falava do significado de ser pessoa. A palavra "pessoa" vem de "persona" que significa originalmente "aquele pelo qual - através do qual - o som soa". Na ocasião, o palestrante tomou um sino e demonstrou que ele só soa devidamente quando vazio. Maria é um sino vazio através do qual soa a voz silenciosa do Verbo divino. Ela é, neste sentido, plenamente pessoa. A tradição também atribuirá o qualificativo de pessoa a sujeitos que possuam a faculdade de autodeterminação, isto é, que sejam senhores de si e responsáveis por seus atos. Pessoa é, portanto, aquele cujo comportamento não se explica de modo puramente causal. Ser pessoa, então, é ser livre, isto é, dispor de sua inteligência e de sua vontade. Maria era pessoa porque através dela soava a voz divina e também porque ela era plenamente livre, sendo o seu Sim a Deus expressão mesma desta sua perfeita liberdade. Podemos então dizer: é livre aquele que é vazio. Logo, é a soberba que nos enche, isto é, são os apegos e os caprichos que nos fazem decair da nossa condição de pessoas, que reduzem a nossa liberdade e que impedem a voz de Deus de soar através de nós.

Isabel ficou cheia do Espírito Santo porque Este encontrou alguém vazio por quem pudesse soar. E foi enquanto cheia do Espírito Santo que Isabel exclamou: "de onde me vem a honra de que a Mãe do meu Senhor me venha visitar?". Os primeiros efeitos do Espírito Santo são, pois, uma nova clareza a respeito da natureza íntima das coisas - ela intui quem é Maria e a Quem ela traz no seu ventre, pelo que a chama de "Mãe do meu Senhor" - e uma atitude de esvaziamento de si mesmo - "De onde me vem esta honra?", isto é, "não vem de mim mesma". 



E aqui acontece algo que considero tão bonito: João Batista, ainda no ventre de Isabel, percebendo a voz de Maria e, nela, a presença de Jesus, estremece. Quando medito nisto, sempre o relaciono a duas coisas. Primeiramente, a um trecho do livro dos Cânticos: "Meu bem-amado passou a mão pela abertura da porta e o meu coração estremeceu." (Ct 5,4). João sentiu a presença do seu bem amado pela porta - isto é, pela via aberta - chamada Maria. Em seguida, comove-me o fato de que o próprio João Batista, quando crescido, dirá de si mesmo: "o amigo do Esposo alegra-se sobremodo com a voz do Esposo" (Jo 3,29). Parece-me que esta afirmação possui os ecos daquela visita.

Maria fica com Isabel ainda por seis meses, ajudando-lhe nos seus serviços domésticos. Nos trabalhos mais ordinários, ela encontra ocasião de servir a Deus e à sua prima. A partir de suas disposições interiores e da presença do Verbo no seu corpo e na sua alma, ela transfigura o comum em divino. Viver com ela é viver o céu na terra, pois Maria, como morada de Deus, é um tipo de Céu. S. Luís Maria Grignion de Montfort chega a dizer que ela é o paraíso particular de Deus. 

A pobreza interior torna a alma humana em terreno fecundo de Deus. Peçamos à Virgem Maria que faça a nossa alma semelhante à sua, que nos dê o seu desprendimento e que nos converta em veículos puros de Deus.

domingo, 21 de abril de 2013

Ó Virgem Maria, dá-me um coração bom


Ó doce mãe Maria, dá-me um coração 
Cheio de vitalidade, aberto como o coração de teu filho, 
E transparente como as águas de uma fonte clara. 
Dá-me um coração nobre e corajoso, que não se aborrece, 
Nem sequer liga para as chateações sofridas; 
Um coração despreocupado que se doa alegremente; 
Um coração que conhece as fraquezas, 
E por isso as sente e as experimenta interiormente; 
Um coração profundo e agradecido, 
Que não faz descaso das coisas pequenas. 
Dá-me um coração suave e humilde, 
Que ama sem reivindicar amor em troca, 
Que, cheio de alegria, libera espaço 
Noutro coração para teu filho; 
Um coração nobre e vigoroso, 
Que não se abate nas decepções; 
Que não se dispersa e não se zanga; 
Que não se paralisa com as provações; 
Que na falta de atenção não perde a sintonia, 
Que na indiferença não se desencoraja. 
Dá-me, porém, um coração, 
Impulsionado pelo amor que tens por Jesus, 
Pelo desejo da maior honra e glória de Jesus 
E nisso não se detenha, 
Até alcançar o céu. Amém.

Edith Stein

terça-feira, 27 de março de 2012

Ave Maria - Olga Szyrowa


Estamos nos aproximando da grande Semana Santa e, para bem vivê-la, é necessário que estejamos juntos à Virgem Santíssima. É nela que encontraremos o sustento para estarmos com Nosso Senhor, em sua Cruz. O Apóstolo João, o único que ficou com Ele no Calvário, alcançou tamanha fidelidade porque tinha ao seu lado a Mãe de Deus. Também nós, a fim de estarmos com Ele e O consolarmos na Sua dor, nos confiemos aos cuidados desta bondosa Mãe que, não obstante a Sua dor inimaginável, nos conforta e nos ajuda a contemplá-Lo no extremo do Seu amor.

Contemplemo-Lo e aprendamos que verdadeiramente ama quem doa a própria vida. É somente quem a perde, por Ele, que a encontra.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Impressionante relato de conversão de Afonso Ratisbonne


Afonso Ratisbonne foi um judeu que cresceu nutrindo ódio à Igreja Católica e, no entanto, como S. Paulo, foi pego de surpresa, rs. Logo após o ocorrido, ele exclamava comovido: “Oh, como eu sou feliz! Oh, como é bom o Senhor! Que plenitude de Graça e felicidade! Como é lamentável o lote daqueles que não sabem!” Para ler o texto, cliquem aqui.

sábado, 20 de agosto de 2011

5º Mistério Gozoso - A perda e o encontro do menino Jesus no Templo


Estamos uns doze anos depois do nascimento de Jesus. Ele e seus pais, como autênticos judeus, costumavam ir anualmente visitar o Templo de Jerusalém. Era sempre uma alegria essa viagem. Iam em caravanas e é neste contexto que devemos entender, primariamente, as palavras do Salmista: "Que alegria quando ouvi que me disseram: vamos à casa do Senhor; e agora, nossos pés já se detêm, Jerusalém, em tuas portas."

E lá ia Jesus, com seus pais. Chegados no templo, Lucas não fala dos pormenores. Mas, segundo alguns, era comum que as crianças de várias famílias ficassem juntas, de modo que os pais não se preocupavam, supondo que eles estavam com conhecidos. Quando Jesus chega ao Templo, não podemos sondar o que seu passou na sua alma. Erra, porém, quem pensa que Ele rejeitou o templo. De modo algum. Lembremos que, anos depois, o mesmo Jesus se levantará energicamente contra o comércio no interior do templo e sua desvirtuação do culto. Depois de ter derrubado bancas e lançado seu chicote contra os cambistas, os Apóstolos O olharão e lembrarão da Escritura: "O zelo por tua casa me consome". Jesus amava o templo.

Pois bem. Não temos como dizer, como já o adiantamos, os pormenores dessa visita. O que o Evangelista Lucas nos relata de modo mais claro é o que se deu quando esses judeus voltavam, já, às suas casas. José e Maria iam juntos e Jesus estava ausente. A suposição, como dissemos, é que Ele estivesse em alguma outra caravana. No entanto, ao final de três dias, perceberam que algo não estava certo. Depois de perguntar a todos os seus conhecidos e constatar que Jesus não estava entre eles, a aflição tomou conta do coração de Maria e de José. Decidiram voltar imediatamente ao templo de Jerusalém, com a esperança de encontrá-Lo lá.

Aqui a Virgem Santíssima nos dá uma grande lição. Sabemos, pela teologia, que perdemos a amizade com Nosso Senhor toda vez que caímos em pecado mortal. É então que se dá algo similar a essa perda de Jesus. Maria nos ensina o que fazer: procurá-Lo imediatamente, pois tudo é nada sem Ele. Para encontrá-Lo não se devem medir os esforços. Lembremos de Maria Madalena que, vendo como o corpo de Jesus não estava na tumba no terceiro dia após a Sua morte, pergunta aflita: "Onde O puseram? Digam-me e eu irei buscá-Lo". 

Também a esposa dos Cantares dirá coisa similar: 

"Durante as noites, no meu leito, busquei Aquele que meu coração ama; procurei-O, sem encontrá-Lo. Vou levantar-me e percorrer as ruas e as praças, em busca d'Aquele que meu coração ama; procurei-O sem encontrá-lO. Os guardas encontraram-me quando faziam sua ronda na cidade. "Viste acaso Aquele que meu coração ama?" Mal passara por eles, encontrei Aquele que meu coração ama. Segurei-O e não O largarei."

S. João da Cruz, numa poesia baseada neste livro dos Cânticos, põe a esposa a falar com os transeuntes nestes termos: "Se vires o meu Amado, dizei-lhe que adoeço, peno e morro"

Não podemos descrever a dor de Nossa Senhora ao supor ter perdido Jesus. Assim como Madalena se propunha a ir buscar o corpo do Senhor sem atentar à sua própria fraqueza física, também em Maria sumira-lhe o cansaço e todo o seu ser se voltava a um único objetivo: encontrar Jesus.

Esta deveria ser a nossa atitude toda vez que O perdemos pelo pecado mortal. Notemos que Maria volta imediatamente ao templo. Também nós, uma vez perdida a Graça, devemos retomá-la no templo, na Igreja, pelo Sacramento da Confissão. A esposa dos Cantares, vendo-se sem o Amado, O busca no leito, sem encontrá-lO. Isto pode referir-se a nós quando, hesitando em ir à confissão, tentamos retomar, por nós mesmos, isto que está muito além de nossas forças. Não O encontraremos desse modo. Ao ler este trecho dos cantares, associei os guardas aos sacerdotes da Igreja, que são os guardas dos Sacramentos e da doutrina. Diz a esposa que, tão logo passou por eles, encontrou o Amado. Assim é quando, arrependidos e com a disposição de não mais pecar, acorremos ao sacerdote. Reencontramos o Cristo.

Aqui, porém, Maria continua a sua angústia. Chegando ao templo, procuram apressadamente e, de repente, um nuance familiar lhe acelera o coração: era Jesus. Que alívio! Depois de tê-lO encontrado, Maria, por fim, se dá conta do que está a acontecer: Jesus está no meio de doutores da lei, homens extremamente inteligentes e conhecedores das Escrituras, e, coisa admirável, Jesus os deixa boquiabertos por Sua inteligência, não obstante tivesse apenas 12 anos. Naturalmente, Maria se surpreende... Depois, indo a Jesus, lhe faz uma censura: "Por que fizeste isto conosco?" ao que Jesus responde: "Por que vos preocupáveis? Não sabíeis que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?". 

De novo, há muito o que meditar aqui. Maria, a Mãe de Jesus, estava preocupada com o sumiço do seu Filho. E era um motivo bastante compreensível e justo. No entanto, Jesus mostra a Sua Mãe que, para além das convenções e cuidados humanos, Deus merece a absoluta primazia. Ele mesmo dirá, anos depois: "Não penseis que vim trazer a paz; vim trazer a espada: por minha causa, mãe se porá contra filho e irmão contra irmão". E isto porque, aquele que adere ao projeto de Nosso Senhor, naturalmente adentra num ambiente de largos horizontes e de valores muito diferentes dos de cá de baixo. Lembremos ainda o que Jesus diz: "Vós sois daqui. Eu sou de cima". Se tornar cristão é assumir esta descendência do alto; é descobrir-se exilado e reconhecer que os valores de cima é que são os verdadeiros. Isto, claro, causa uma grande incompreensão dos demais. É, talvez, fácil ver alguma arrogância ou irresponsabilidade em Jesus, neste episódio e em outros. Mas isto se dá porque O julgamos com critérios muito terrenos. Dirá Ele, no Antigo Testamento: "Meus pensamentos estão tão acima dos vossos pensamentos, como o céu dista da terra". Aderir a Jesus, portanto, expõe o cristão a uma série de coisas: o torna solitário, separando-o; e lhe atrai as reprimendas e as críticas dos que não o compreendem. Isto sempre foi assim. Lembremos do profeta que se lamentava: "Seduziste-me, Senhor, e eu me deixei seduzir; por Tua causa e por Teu nome estão todos contra mim"

Depois, há uma interessantíssima associação de idéias. Jesus fala que deve ocupar-se das coisas de Seu Pai imediatamente depois de ter demonstrado uma inteligência singular. Dedicar-se às coisas de Deus surge, no contexto cristão, como a verdadeira sabedoria. Esta constatação estará em S. Paulo, uma vez que ridicularizará a sabedoria deste mundo, chamando-a de estultícia. Ser sábio é, para este Apóstolo, aderir à "loucura da Cruz". Ser verdadeiramente sábio é abrir-se à transcendência de Deus e fazer d'Ele a prioridade da própria vida. É, nas palavras de Jesus, "ocupar-se das Suas coisas", ainda quando estas contrastam com outras coisas, mesmo que legítimas. É que nada é bom sem Ele. "Só Deus é bom", dirá Jesus. Sem Ele, portanto, nada é bom. 

Maria parecia não ter compreendido profundamente o que Jesus havia dito ali. No entanto, Lucas a descreve como "Aquela que guardava tudo no seu coração", e o coração é justamente, na linguagem bíblica, a sede da sabedoria no homem. 

Em seguida, Lucas conclui que Jesus permanecia obediente aos seus pais, e crescia em sabedoria, tamanho e em graça.

Por este mistério, e pela intercessão da Virgem Maria, peçamos a graça de ter a Nosso Senhor como centro absoluto da nossa vida, de sofrer quando d'Ele estamos distantes e de desejar, sobretudo, a Sua intimidade.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

4º Mistério Gozoso - A Apresentação do Menino Jesus no Templo e a Purificação de Nossa Senhora


Pouco tempo após o nascimento de Jesus, Maria e José vão a Jerusalém para apresentar o menino ao Templo. Isto era um costume judeu, segundo o qual o primeiro filho deveria ser apresentado ao Senhor. É justamente por isto, porque a Escritura determina a consagração do Primogênito, que os Apóstolos utilizam este termo para referir-se a Jesus, ao invés de "Unigênito". A objeção protestante de que Jesus teria tido irmãos de sangue já foi refutada de mil modos. Sigamos, então, a exposição.

A lei judaica determinava que a mulher que dava à luz um filho homem deveria esperar por um período de quarenta dias antes de entrar no templo. Obviamente, Maria era absolutamente isenta de qualquer mancha, pelo que não havia necessidade estrita de cumprir este preceito. No entanto, ela humildemente se submete e, mais uma vez, nos mostra que a grandeza não se associa à auto-suficiência ou auto-afirmação, mas é íntima da humildade e da obediência a Deus. Maria espera o tempo de purificação, embora fosse sem mancha, assim como o Seu Filho se submeterá a um batismo de perdão embora não houvesse cometido nenhum pecado.

E lá vai Maria ao templo, acompanhada de seu esposo, José, e de seu Filho Deus. Eles dão, como oferenda, um par de pombinhos, que era o típico dos pobres. Lembremos ainda que Maria era descendente direta de Davi e, portanto, possuía linhagem nobre. No entanto, ei-la aqui reconhecendo-se e se afirmando pobre. Da sua perfeita pobreza é que surge a sua imensa grandeza. Seu Filho um dia dirá que são felizes os pobres, porque deles é o Céu. Não à toa, o próprio Deus, o Amante da pobreza, quis nascer em tal meio, o que mais uma vez nos faz refletir: se queremos o convívio com o Cristo, necessário é fazer que o nosso coração se torne pobre, lembrando que a pobreza interior não se qualifica tanto como não ter nada, mas como um desapego, uma disposição de dar.

Maria foi perfeita em sua pobreza. Vimos como ela abandonou-se diante do anúncio do anjo. E por toda a vida, ela será constante nessa sua atitude interior. Quando a vemos, no livro do Apocalipse, tendo a lua por baixo dos pés, devemos entender que, sendo a lua o símbolo da inconstância, Maria pisou-a de modo tal que a retidão da sua alma nunca sofreu oscilação, nem mesmo a mais leve. Ela é a totalmente constante. Toda a vida de Maria foi uma plena perpetuação do seu "fiat".

Sabemos que as virtudes são amigas das virtudes, assim como os vícios são amigos dos vícios. Diz Nosso Senhor: "onde está o cadáver, aí estarão os abutres". Desse modo, Maria possuía em sua alma a plenitude de todas as virtudes. A sua perfeita pureza e a sua total pobreza permitiam um amor de tal modo grandioso e ardente por Jesus que, dizem os escritores espirituais, os seres angélicos poderiam ter descido a Nazaré a fim de aprender dela o amor a Deus. E, no entanto, ei-la apresentando o seu Filho no templo, como que fazendo um ofertório, reconhecendo que, embora O amasse imensamente, o seu Filho haveria de dedicar-Se à salvação de todo o mundo, obedecendo, antes de tudo, ao Pai, o que implicava toda uma vida de doação e sacrifício. Maria mantém a sua pobreza e oferta o seu bendito Filho. Abraão fora poupado deste sacrifício. Mas ela não será.

Ao chegarem no templo, havia um profeta idoso, de nome Simeão, que apenas esperava o dia, garantido por Deus, em que veria o prometido das nações e o objeto de espera de todos os profetas: Aquele que iria redimir a humanidade. Nos dias de hoje, temos muito pouca condição de compreender o que era esta espera visceral. Se fôssemos bons católicos, poderíamos entender algo disso em comparar com a espera que temos da vinda de Jesus. No entanto, para muitos esta promessa se tornou obscura e se converteu em matéria pouco provável ou distante. Para os profetas da Antiga Lei, porém, isto era o que havia de mais importava. E Simeão, agraciado pela promessa de que, literalmente, veria o Salvador, vivia apenas para este dia.

Quão profunda deve ter sido a alegria deste velhinho ao presenciar, diante de Si, Ele, o esperado! "Já podes deixar ir o teu servo, pois meus olhos viram a tua salvação", é o que ele exclamará. Agora, morrerá feliz, pois sabia que o Cristo já vivia no mundo. O fato de saber ou conhecer o Cristo, o libertava da sua longa espera. "Conhecereis a Verdade, e Ela vos libertará".

Dirá ainda, este profeta, a respeito de Jesus: "Ele será motivo de soerguimento para alguns, e de queda para outros", profetizando que ninguém permaneceria indiferente àquele menino. E a história o dirá: ou o amarão muito, ou o odiarão muito. Jesus mesmo se pronunciará a este respeito: "Quem não está comigo, está contra mim; quem comigo não ajunta, espalha" e ainda "feliz o homem para quem eu não for pedra de tropeço" e, por fim, "aquele sobre quem esta pedra cair se fará em pedaços". Toda a história humana tem o seu centro n'Ele e é o amor por Ele e a adesão a Ele o que determinará a bem-aventurança ou a eterna proscrição. Ele dividirá os homens à Sua direita e à Sua esquerda, sendo Ele mesmo o centro. Não é que seja amigo da arrogância, é que é, Ele mesmo, a Verdade, e não terá medo de o dizer.

E Simeão como que previra tudo isto quando O viu. Depois, olhando para os olhos da Virgem Santíssima, lhe adiantou: "Uma espada de dor transpassará o teu peito". Aqui se vê, claramente, uma alusão à Cruz e uma participação muito íntima de Maria na obra da Redenção. De fato, diz a Igreja: "O que Cristo sofreu no corpo, Maria o sofreu na alma". Desta dor, não fazemos sequer idéia. Alguém, sobre isto, se pronunciou deste modo: "Se a dor que Maria sentiu fosse dividida, em partes iguais, por todos os homens, todos, sem exceção, morreriam de imediato". Uma dor proporcional ao seu amor e, portanto, um abismo.

Por este mistério, peçamos, através da intercessão da Santíssima Virgem, um amor firmíssimo por Jesus, uma pureza imensa e uma pobreza perfeita.

domingo, 7 de agosto de 2011

3º Mistério Gozoso - O Nascimento de Jesus na gruta de Belém


"Ave, que a estrela perene geraste"
Ave, és aurora do Místico dia!
Ave, que a forja do engano extinguiste!
Ave, os mistérios de Deus iluminas"

Akatistos, Ikos V


Neste Mistério, contemplamos o nascimento de Nosso Senhor quando, por ocasião do recenseamento, José e Maria tiveram de viajar para Jerusalém. No meio do caminho, quando passavam por Belém, completaram-se os dias da gravidez de Maria e, notando-o, José procurou conseguir um lugar nalguma hospedaria. No entanto, onde quer que batesse, escutava sempre o mesmo: "Não há lugar aqui para vós".

Há um gênero literário bíblico que se chama "Midrash". Nele, os escritores esboçam, já no nascimento de um grande sujeito, algo do que ele será futuramente. Aqui, nós temos, no nascimento de Cristo, uma série de antecipações de coisas que é bom compreender. Desde o início, Ele será rejeitado, conforme diz a Escritura: "Ele veio para os seus, mas os seus não o receberam". Os homens estavam ocupados demais com os seus trabalhos, embotados de preocupações terrenas, fechados ao Mistério de tal modo que, ainda quando Ele bateu em suas portas, eles não o reconheceram e, portanto, não o receberam.

No entanto, é verdade que os homens encontram sua alegria em Deus. Portanto, aquela distração em ocupar-se somente com as coisas nas quais se importavam os afastava, concretamente, da alegria. Que honra teria sido hospedar aquela família! Eles não O reconheceram. Afinal, era uma noite aparentemente comum e nada de extraordinário se insinuava naquele homem que pedia abrigo.

Isto me faz lembrar de duas coisas. Primeiramente, de Elias que reconheceu a presença de Deus numa brisa suave. Soprou a brisa e Elias cobriu o rosto. Deus é discreto, é simples e não gosta de chamar a atenção. É muito amigo do silêncio e da humildade. Só que, para notar essas coisas, é preciso sair do frenético do dia-a-dia. Contemplar o silêncio implica pôr-se em silêncio. Aqueles homens da hospedaria estavam ocupados demais: "Não há lugar para vós".

Depois, quantas vezes teremos sido, nós mesmos, estes maus hospedeiros! Quantas vezes Jesus poderá ter batido em nossa porta e nós não O teremos reconhecido! Ocupados demais com as nossas bagatelas, com o draminha da nossa vida, ou preocupados demais com a aparência ou o cheiro deste que veio. "Não, não pode ser Ele". Como desconhecemos a Nosso Senhor! E como, por diversas vezes, estamos fechados ao Mistério. É precisamente este o sentido autêntico do que Jesus diz no Sermão da Montanha: "Ai de vós que rides", isto é, ai de vós que vos distraís com vossas coisinhas, fechados em vosso egoísmo, e desprezais as visitas que o Mistério vos faz. E, crentes de nossa bondade, nós perpetuamos o "não há lugar aqui para vós".

Nosso Senhor foi rejeitado desde o início. Nem havia ainda nascido, os homens já lhe negavam lugar em seu meio. E, no entanto, a Escritura nos diz que a alegria de Jesus era habitar no meio dos homens. Jesus não desiste e ama os homens de tal maneira que se exila com eles. E é, aí, feliz. Tem esperança de despertar-nos da nossa letargia.

José não conseguiu hospedagem. Voltando ao lugar onde estava sua Esposa, uma gruta em Belém, Jesus já era nascido e chorava sobre uma manjedoura. Primeiro, vejamos um ponto muito interessante. Toda aquela situação parecia muito inusitada, parecia algo meio caótico, uma coisa meio desesperadora. Ninguém poderia supor uma participação divina naquilo. Ao contrário, parecia talvez um descuido e era muito fácil lamentar-se, pensando ser obra do acaso. No entanto, a Escritura nos diz: "E nasceu em Belém para que se cumprissem as Profecias". De novo, Deus é discreto. Teríamos muito maior facilidade de acreditar a atuação divina se José tivesse encontrado uma hospedaria muito particular, ornada de ouro, e animada pelos músicos mais habilidosos da antiguidade. No entanto, a vontade divina se revela justamente aqui, onde o baixo parecer humano apenas teria motivos de lamentar. Que frescura temos nós de reduzir Deus aos nossos critérios! Afirmamos teologicamente que Ele é infinito, mas quase não O aceitamos sê-lo no real.

Ter nascido em Belém ainda nos revela algumas coisas muito interessantes. Belém, cujo nome original é Bethlehem, significa "Casa do Pão". Nenhum lugar mais adequado para Aquele que será o "Pão Vivo que desceu do Céu", o "Verdadeiro Maná", tantas vezes prefigurado nas Escrituras. Depois, Jesus foi posto numa manjedoura, que é justamente um lugar onde se coloca a comida dos animais. E faziam-Lhe companhia um boi e um jumentinho, e isto nos remonta a Isaías, onde se lê: “O boi conhece o seu dono, e o jumento o presépio do seu senhor, mas Israel não me conheceu” (Is. I, 3) Coisa admirável!

Deus nascia! E vinha como um indefeso e inofensivo infante. Naquela noite, Seu chorinho rompeu o silêncio e, junto a Ele, cantavam talvez uns grilos e... mais nada. Silêncio. Nasceu pobre,  porque assim foi do Seu agrado, Ele que será o Esposo da Pobreza desde o início. Foi pobre, não porque nada tivesse, pois nunca deixou de ser Deus e de ser Rei, mas foi pobre porque tudo deu. "Amou-nos ao extremo", dirá João, o Apóstolo que se reclinava no Seu coração.

Era comum e extraordinário! Era Deus e homem! O saudoso prof. Orlando Fedeli fazia notar que, como homem, nascera de Mulher; como Deus, nascia de uma Virgem e não lhe rompia a Virgindade, assim como quando, depois de ressurreto, entrava no Cenáculo estando as portas fechadas. Como criança humana, não sabia andar. Como Deus, movia a estrela. Mais tarde, como homem, dormirá num barco. Como Deus, despertado, ordenará que o mar se acalme. Este é Jesus que, agora, dorme nos braços da Virgem. O Amante da pobreza, o Coração que tanto amou o mundo, o Pão que veio nos saciar a fome.

Jesus foi ainda visitado por dois grupos: um de pastores, e outro de reis. Os pastores, avisados pelos anjos, vieram adorá-Lo e reconheciam n'Ele Aquele que será o Verdadeiro Pastor, Aquele que dirá: "As minhas ovelhas conhecem a minha voz". É este quem guiará as ovelhas perdidas aos pastos onde mana leite e mel, e saberá deixar as noventa e nove em segurança para ir buscar aquela única que se extraviou, e a trará sobre os ombros.

Também os reis o visitaram, reconhecendo n'Ele a verdadeira Majestade, e O adoraram. S. Pedro Julião Eymard, comentando sobre esta visita, ensina que o amor quer, por força, imitar o que se ama. Também os reis magos, contemplando a Suma Majestade rebaixada daquele modo, quereriam, eles também, rebaixar-se até as entranhas da terra, se pudessem, a fim de imitar-Lhe a humildade. E Lhe presentearam com Ouro, Incenso e Mirra.

O ouro, ornamento de reis, testemunhava que a realeza de Jesus não era algo imputado por outro, mas algo que lhe pertencia por Natureza. 

O incenso representa a divindade de Jesus que, sob a forma de criança, sustentava a existência do mundo. Não obstante dormisse ou chorasse, Aquele era o Onipotente. O incenso representa ainda os cultos e sacrifícios antigos que, aqui, têm o seu término, cedendo lugar para o Verdadeiro Deus.

A Mirra, uma erva amarga, fala da vida do Cristo que, assumindo a condição do escravo, viverá na pobreza, na privação, "sem ter onde reclinar a cabeça", e, por fim, morrerá sobre o lenho da Cruz, humilhado, escarnecido e desprezado pelos seus. Este traço do Cristo resignado não deve ser visto somente no Calvário. Na verdade, ele acompanhará toda a vida do Cristo e Lhe será grande cruz, dirá Sta Teresa D'Avila, amar tanto os homens e, ao mesmo tempo, contemplar-lhes, até o fundo da alma, as crueldades, hipocrisias e pecados. Cristo será o "amigo das dores e do sofrimento" de que falou Isaías.

Agora, porém, Ele dorme. É noite, faz frio e o mundo parece todo em silêncio, como cuidadoso de não acordá-Lo. A Virgem e José O adoram, admirados de tudo isso.

Por este mistério, peçamos a Nosso Senhor, pela intercessão da Virgem Santíssima, o desprezo das honrarias humanas, o amor da pobreza e a graça de nos esvaziarmos para que possamos estar sempre abertos ao Mistério.

"Sei que gostais de vir sem ser notado... 
Mas o coração puro, de longe, Senhor, vos perceberá."
Sta Faustina

Fábio

sábado, 6 de agosto de 2011

2º Mistério Gozoso - Maria visita sua prima


No mistério anterior, vimos como Maria abandona-se à vontade divina, de modo pleno, e que isto lhe possibilita assumir em seu bendito ventre o Verbo divino, desposada que foi pelo Espírito Santo.

Pois bem. Aqui veremos que, tão logo assume em si o próprio Deus e toma conhecimento de ser objeto da predileção divina, Maria não se põe a descansar, olhando o mundo como de cima para baixo. Não. Neste mistério, contemplamos que a mesma Maria que se disse "Ancilla Domine", permanece no seu ministério de serviço e, sabendo da gravidez de sua prima, uma senhora já de idade, a Virgem ruma para sua casa, enfrentando uma longa distância. A sede de servir na sua alma era grande, pois, além de ser agraciada com todas as virtudes, Maria trazia consigo o próprio Deus, Aquele mesmo que disse: "eu não vim para ser servido, mas para servir". Oh bem aventurada disposição esta que não considera nada como pesado. "Se te pedirem para andar mil passos, anda dois mil". Vazia de si mesma, Maria era plenamente revestida de Deus, era a Gratia Plena, a Kecharitomene (1), um oceano de bondade e de todas as demais virtudes.

E lá vai Maria. Sob o corpo talvez franzino daquela menina, um abismo de Mistério e, naquele ventre, o Altíssimo. Chega Maria na casa de sua prima e, ao ouvir a sua saudação, Isabel sente a criança em seu ventre, cujo nome será João, estremecer. A voz de Maria, vazia de si e rendida a Deus, torna-se suficiente para que o Espírito Santo preencha Isabel e santifique a criança no seu ventre. Aqui se realiza o que, mais tarde, este mesmo João irá dizer: "O amigo do Esposo se alegra ao ouvir a Sua voz". É ainda o mesmo que é descrito no livro dos Cânticos quando o Amado, ainda que sem se deixar ver, faz que a esposa note a Sua presença por trás da porta e, apenas isso, faz que a alma da esposa estremeça. Oh Virgem Santíssima que és a Porta Coeli, a Porta do Céu. Feliz o que te encontra e ouve a tua saudação. Feliz foi Isabel que, ao ouvi-la, exclamou: "De onde me vem a honra de que a Mãe do Meu Senhor me venha visitar?". Oh Maria, és como que o transporte divino, pois Deus vem a nós por meio de ti e é também por meio de ti que iremos a Ele.

De onde me vem a honra de que sejas minha Mãe? Certamente, não vem de mim mesmo. Mas do teu Filho, Deus feito carne, que, assumindo a nossa humanidade e tocando a nossa dor, elevou-nos e mereceu-nos tão inestimável dom. És uma digna mãe de Deus, já dizia um santo. E este Deus curou a nossa orfandade confiando-nos aos teus cuidados. Que honra! E, então, Maria canta:

"Minha alma engrandece o Senhor 
e meu espírito se transporta em santa alegria em Deus meu Salvador.
Porque pôs os olhos em sua humilde escrava; por isso todas as gerações me chamarão bem-aventurada.
Grandes maravilhas obrou comigo o Onipotente, cujo nome é santo.
Cuja misericórdia se estende de geração em geração em todos os que o temem.
Assim ostenta o poder de seu braço, transtorna os desígnios dos soberbos.
Derruba os poderosos do seu assento, e exalta os humildes.
Enche de bens os necessitados e os ricos deixa vazios.
Decretou exaltar Israel seu povo, lembrando-se de sua misericórdia.
Para cumprir a promessa que fez aos nossos pais, Abraão e a todos os seus descendentes."

Feliz, mãe, mil vezes feliz os que a ti se confiam e imitam o vosso abandono, se fazem vossos escravos e encarnam em si mesmos o Verbo que levaste em vosso seio.

Ave, mistério, vontade inefável!
Ave, ó fé maturada em silêncio!
Ave, prelúdio dos fastos de Cristo!
Ave, sumário do Santo Evangelho!

Akatistos, Ikos II


Fábio.

(1) Kecharitomene - termo grego usado pelo Arcanjo Gabriel em sua visita à Virgem Maria e que significa "plena de todas as graças de modo atemporal, isto é, desde o início da sua existência e para sempre".

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

1º Mistério Gozoso - A anunciação do Anjo Gabriel à Virgem Maria e a Encarnação do Verbo


Pretendo escrever uma série de posts a respeito dos mistérios do terço que serão tão somente meditações pessoais. Afirmo desde já que incluirei também os mistérios luminosos, embora alguns não os considerem válidos. Nestes pontos em que não há perigo contra a Fé, minha atitude é, obviamente, de obediência.

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Neste mistério nós contemplamos a ocasião em que o Anjo Gabriel visitou a Virgem Maria, então adolescente, na pequena cidade de Nazaré. Como sabemos, a Virgem Maria é chamada de Nova Eva, enquanto o Cristo é chamado o Novo Adão. Assim como Adão e Eva são os primeiros humanos existentes na ordem da natureza, Jesus e Maria são os primeiros na ordem da Graça. Eles como que recapitulam a humanidade. 

Em se tratando de Eva, o anjo Lúcifer, caracterizado pela serpente, animal de língua partida representando sua duplicidade e cujo andar se faz em forma de zigue-zague mostrando que o seu caminho não é reto, vai a ela e lhe seduz com uma mentira. Eva, aceitando a sugestão maligna, toma do fruto proibido e o dá a Adão. Por meio de ambos, entra a morte no mundo, a partir da desobediência. O próprio Lúcifer era um anjo rebelado que, à proposta divina, gritou asquerosamente: "não sirvirei". Esta é a gênese de todo pecado: a não aceitação do projeto divino, a não obediência a Deus. Na ocasião do pecado de Eva, esta somente caiu no engodo do demônio porque duvidou de Deus, pois, enquanto Deus lhe havia dito que morreria ao tomar do fruto proibido, a serpente lhe havia dito: "não, não morrerás".

Quando olhamos para Maria, a Nova Eva, vamos percebendo as perfeitas analogias, como que a corrigir o antigo erro. É também um anjo que vai a ela; só que desta vez, é um anjo de Deus, Gabriel, a força de Deus, demonstrando que a verdadeira força está, não na rebeldia, mas na obediência. Maria escuta a proposta do anjo e, muito ao invés do "non serviam" demoníaco, Maria apenas diz: "Fiat mihi secundum Verbum tuum" - Faça-se em mim segundo a sua Palavra". Faça-se! Eu aceito! Eu servirei!

Ao contrário de Eva que quis ser deusa sem Deus, Maria se diz a escrava: "Ecce ancilla Domine" - eis a escrava do Senhor. Em Eva, rebeldia; em Maria, abandono de si. Maria se insere, portanto, na tradição de Abraão, o pai da Fé, aquele que acreditou sem ver a terra que Deus lhe indicara. Também Maria não fez questão de esclarecimentos, ainda que, à primeira vista, uma gravidez, na sua cultura, poderia ter lhe causado o repúdio de José, seu noivo, como até o seu apedrejamento. Maria simplesmente aceita, porque a mensagem provém do próprio Deus, aquele que não mente! "Felizes os que crêem sem ter visto", dirá o Verbo mais tarde. Que diferença de Eva!

E, no Sim de Maria, o Verbo divino vem encarnar-Se em seu seio, pois Maria demonstrava ter as perfeitas disposições de alma que se requeria e era, já em virtude dos méritos da Paixão, totalmente isenta de qualquer pecado, e agraciada com todas as virtudes. Diz-se dela que é a aurora que prenuncia a luz do sol ainda quando este não surgiu. E Maria deu ao mundo o fruto da vida.

E o Verbo se fez carne e habitou no seio da Virgem Santíssima. Fez-se homem o Onipotente e foi gerado no ventre desta nova Eva Aquele que é incriado. Realiza-se aqui aquilo que S. Paulo descreve: "Não se prevaleceu de Sua igualdade com Deus, rebaixando-Se e tomando a forma de escravo". Assumiu a condição humana e assumiu-a perpetuamente. Ao fazê-lo, sem fim a elevou. Ao contrário do antigo Adão, que também cedeu à soberba -Superbia - da serpente, o novo Adão distingue-se sobretudo por Sua humildade. Ei-lo recluso por nove meses no ventre santíssimo da Virgem, como um Rei em seu leito particular. Ei-lo submisso... Dizia-nos Santa Catarina de Sena que, ao contemplar a humildade do Verbo divino, nós, os homens, deveríamos chorar de vergonha por nossa vaidade.

Por meio deste mistério, e pela intercessão de Maria Santíssima, conceda-nos o Senhor uma grande docilidade para conSigo, o expurgo de toda revolta da nossa alma e uma profunda humildade. Serviam!


"Foi um anjo orgulhoso, entre esplendores,
Que disse: "Nunca irei obedecer!"
Mas grito, na noite desta vida,
Quero obedecer sempre na terra."
Sta Teresinha de Lisieux

quinta-feira, 16 de junho de 2011

A Mamãe...


Um video dedicado à esta minha doce Soberana; deste seu escravo mui rebelde tentando compensar um pouco por suas travessuras e libertinagens.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Início da Preparação para a Consagração à Virgem Santíssima


Hoje, dia 20 de fevereiro de 2011, inicio a fase de preparação para a consagração à Virgem Santíssima pelo método de S. Luís Maria Grignion de Montfort. Começo hoje os doze dias preliminares que são no intuito de esvaziar-me do espírito do mundo. Não sei bem como fazer isto, mas, a par das orações que o santo recomenda nesta primeira parte, pedirei a Deus, pelas mãos da Virgem Maria, que me conceda esta graça.

Sobretudo, é uma honra pertencer ao seleto grupo destes escravos de Jesus em Maria, ainda que a seriedade desta consagração, contrastada com a evidência da minha fraqueza, me deixe um pouco receoso. Mas, me abandonarei aos cuidados maternos desta Soberana, imitando servilmente o seu bendito "Faça-se" que, então, foi suficiente para gerar um Homem-Deus. Que a partir deste meu "faça-se" que é o mesmo que dizer "serviam", a Virgem Maria, meu modelo e minha via, me transforme na Sabedoria encarnada que é o Cristo.

Ecce Ancilla Domini
Fiat Mihi Secundum Verbum Tuum

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Um arco íris no céu...


Neste exato momento, um arco-íris no céu me moveu, primeiramente, à sua contemplação. Para tal, me levantei de meu acento e me dirigi à porta a fim de vê-lo melhor. Como se sabe, este sinal simboliza a Primeira Aliança que Deus fez com a humanidade. Quando os homens supunham que Deus estava irado com eles, Deus põe o seu "arco", com o qual se acreditava fizesse-lhes guerra, no céu. Tal ato, portanto, simboliza o fim das tensões entre Deus e a humanidade e estabelece, no horizonte da história, a expectativa da reconciliação definitiva.

Ora, a Primeira Aliança naturalmente nos faz lembrar da Segunda e Eterna Aliança que Deus fez com a humanidade por Seu Filho Jesus Cristo. Se a Primeira estabelecia uma expectativa, a Segunda trouxe a realização da espera.

Jesus, tendo vindo ao mundo, tendo vindo habitar em nosso meio, tendo vindo ser um de nós, é um sinal muito mais eficaz do fim da inimizade divina do que um símbolo, ainda que muito sugestivo, impresso no céu. Se este seria efeito fugaz da presença da divindade, em Jesus temos a própria divindade fazendo sua tenda entre nós.

Tal reconciliação definitiva se faz notar de forma muito singular já no batismo do Senhor, quando S. João, o Precursor, vê os céus se abrindo. Como se sabe, até a Redenção operada por Jesus, o Céu estava fechado aos homens. Agora, porém, os céus se abrem, como quando um amigo abre sua casa ao outro amigo. Era o início de novas relações entre Deus e os homens.

Contemplar o arco-íris, então, me faz lembrar o esponsal entre Cristo e a natureza humana. Em Cristo se realiza o desejo da enamorada dos Cânticos: "encontrei Aquele que meu coração ama, e não O largarei".

O Novo Arco-Íris também deve mover-nos. A ordem "vem e segue-me" exige que nos levantemos e empreendamos viagem. Primeiramente, porém, contemplamos Aquele que nos faz aquele chamado e é nesta contemplação que nos apaixonamos... "Quanta razão hé de te amar", suspira a Esposa dos Cantares... E como o amor é aquilo que, posto na vontade, faz movê-la em direção a quem se ama, ao contemplarmos Nosso Senhor, somos movidos a seguir-lhe os passos. Dizia Sto Afonso: "O amor faz semelhante o que ama ao amado" e S. Pedro Julião Eymard: "o amor, forçosamente, quer imitar".

Como eu dizia acima, para melhor ver o arco íris, dirigi-me à porta. Assim também, quem quer que deseje contemplar Jesus mais de perto, deve dirigir-se à porta do Céu, a Virgem Santíssima, que é Quem lho apresenta. Também os reis magos, na viagem a Belém, foram apresentados ao Menino Deus por Aquela Bendita Mulher. Não é diferente hoje. Esta porta é a via direta para Deus. É ainda aquela porta dos Cânticos onde a esposa pressente a presença do Amado. Apenas este passa a Sua mão na maçaneta da porta, e a alma amante estremece.

Maria, a Virgem Puríssima é aquela que, pela Sua saudação, faz Isabel e João Batista ainda em seu ventre pressentirem a presença do Verbo Divino  e, com isto, estremecem...

Amar a Cristo, contemplar-Lhe a beleza, seguir-Lhe os passos e, para tal, dirigir-me àquela Porta bendita... Enfim, unir-me neste esponsal e, então, poder dizer: "encontrei Aquele que meu coração ama e não o largarei..."

Que a Virgem Maria, Mãe do Verbo, nos conduza pela mão.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

A Virtude da Pobreza e a Virgem Santíssima


Sto Afonso Maria de Ligório

Quem ama as riquezas, dizia São Felipe Neri, não chegará a ser santo. E afirmava Santa Teresa: É claro que vai perdido quem caminha atrás de coisas perdidas. Pelo contrário, dizia a mesma santa que a virtude da pobreza abarca todos os demais bens. Disse: "a virtude da pobreza", que, como diz São Bernardo, não consiste em ser pobre, senão em amar a pobreza. Por isto afirma Jesus Cristo: "Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus" (Mt 5,3). Bem aventurados porque não querem outra coisa mais que a Deus e em Deus encontram todo bem e encontram na pobreza seu paraíso na terra, como o entendeu são Francisco ao dizer: "Meu Deus e meu tudo".

Amemos esse bem no qual estão todos os bens, como exorta Santo Agostinho: Ama um bem no qual estão todos os demais. E roguemos ao Senhor com Santo Inácio: Dá-me só teu amor, que se me dás tua graça sou de todo rico. E quando nos aflija a pobreza, consolemo-nos sabendo que Jesus e sua Mãe Santíssima foram pobres como nós. Diz São Boaventura: O pobre pode receber muito consolo com a pobreza de Maria e a de Cristo.

Mãe minha amantíssima, com quanta razão disseste que em Deus estava teu gozo: "E se alegra meu espírito em Deus meu salvador", porque neste mundo não ambicionaste nem amaste outro bem mais que a Deus. Atrai-me após ti. Senhora, desprende-me do mundo e atrai-me a ti para que ame o único que merece ser amado. Amém.

Sto Afonso Maria de Ligório, As Glórias de Maria (Tradução minha do espanhol)

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Todos os Filhos de Deus devem nascer de Maria


"O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus." (Lc 1,35).

O mês de maio já se aproxima do seu termo, mas a presença gloriosa da Virgem permanecerá. De fato, nós, os Filhos de Maria, temos constante necessidade da Mãe. Deus lhe pediu que assumisse a orfandade do mundo; do alto da Cruz, ao mesmo tempo que o Filho de Deus pronunciava aquelas palavras de oferta deste grande Bem, também provocava a substância daquilo que pronunciava, isto é, imprimia na alma da Virgem um profundo amor ao discípulo amado e, neste, o amor filial que Ele mesmo, Verbo divino, devotava à Sua Santíssima Mãe.

Deste modo, portanto, se reconhece o verdadeiro discípulo de Nosso Senhor: no amor que tem à Virgem Puríssima. Não há que temer amar mais a Mãe que o Filho, pois o amor a Maria é inspirado pelo próprio Senhor, e é amando a Mãe que aprendemos a amar o Filho sem reservas e com profundidade.

Quando ainda éramos inimigos de Deus, a Virgem já era plena da Graça divina. Esta graça, ela a transmite aos Seus Filhos de modo a nos tornarmos agradáveis a Deus. Não à toa, S. Luís Maria dizia que os que recusavam ter Maria por Mãe, tinham por pai o próprio demônio. E ainda que tal não seja repetido hoje aos quatro ventos, isto não significa que tenha se tornado falso. Tampouco é meramente uma frase de efeito, mas o rigor inerente à clareza da Verdade.

Dizia ainda o santo que Deus dá a devoção à Virgem Santíssima àqueles a quem deseja salvar, de modo que tal amor é sinal de predestinação. Também Deus Pai, nos diálogos de Santa Catarina de Sena, afirma que os que ao menos respeitarem Maria não irão para o inferno.

O Filho de Deus não é tão amado, hoje, porque Maria não é amada, nem conhecida. Aqueles magos que, na noite de Natal, procuravam o Filho de Deus, Lhe foram apresentados por Ela. É Ela quem no-Lo mostra.
Portanto, recorramos a ela, como à nossa boa Mãe, se quisermos encontrar o Filho.

Todos os santos e santas de Deus adquirem a santidade não somente em função de si mesmos, mas em virtude dos auxílios e graças divinos. Pois bem, estes auxílios e estas graças, sem exceção, nos vêm por ela, uma vez que a maior delas, o próprio Verbo, quis vir-nos por meio da Virgem. É preciso, pois, que os cristãos nos confiemos a esta bondosa mãe e que, como se adentrados no seu ventre, sejamos aí gerados para a eternidade. Ela que gerou Cristo, a cabeça da Igreja, há de gerar todo o seu Corpo Místico, o que inclui a nós, os membros. Quando um cristão, posto sob Maria, progride do amor a Deus, realiza-se, mais uma vez, a predição do anjo: "O santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus". Não há, portanto, outra forma de se tornar Filho de Deus, e isto se dá porque o próprio Deus assim o quis.

Amar Maria e excluir todas as reservas para com ela é, então, assunto da maior importância e, uma vez que tal se compreenda, vê-se quanto mal fazem às almas os protestantes e todos os que negam a esta Santa Mãe o seu papel na Salvação das almas. Não sejamos como estes. Amemos a Maria, ainda que tal mistério permaneça, por ora, obscuro.

Que o próprio Jesus, nosso Sumo Bem, nos ensine a amar Nossa Senhora de forma correta, sem reservas, sem medos, mas com perfeita devoção, com pura entrega, com pureza e pobreza.... E que, uma vez gerados no Seu ventre, sejamos também nós autênticos Filhos de Deus no mundo.

A Jesus por Maria

Fábio.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

O Amor não é amado porque Maria não é amada


"O Amor não é amado", diria S. Francisco de Assis. São Luís Maria explicaria que isto se dá porque Ela, a Mãe do Amor, não é amada. Naturalmente, para amar algo, precisamos conhecer este algo. Somente o conhecemos quando com ele passamos tempo e o observamos. Quando fazemos isto, é natural que, dependendo da excelência do objeto observado, desperte-nos interiomente o desejo deste algo. Isto experienciamos diariamente. Devido à nossa desordem na afetividade, os meios que participam da excelência divina aparecem-nos, devido à sua imediatez e à nossa miopia, como fins, desejáveis em si mesmos... Tal é o caso em que, observando uma garota bela, o garoto arde em sua concupiscência, quando, ao contrário, aquela beleza participada deveria o elevar à Beleza em si, que é Deus.

Para amarmos o Filho, forçoso é amar a Mãe; para amá-la, necessário é conhecê-la e, para tal, passar tempo com ela... Este é o testemunho de inúmeros santos e, não obstante isto, quão pouco nos motivamos, vários de nós, a adentrar neste Mistério de Deus que é a Virgem. É Ela quem nos gera para a eternidade e quem nos ensina a amar o Verbo de Deus. Maria é, pois, necessária para a Salvação, não por si mesma, mas porque Deus assim o quis... O Altíssimo quis elevar aquela que, embora revestida de tão excelsas graças, fez-se humilde e pobre. Esta sua grandeza, porém, ainda discreta aos homens, só pode ser percebida quando lhe investimos nosso tempo... Se pararmos para observar Maria, pedindo que o próprio Deus abra os nossos olhos para os seus esplendores, veremos que graciosa é, acima das descrições dos santos e dos escritos dos poetas... Mais eloquente é o silêncio e, como escreveu S. Luís Maria, citando um outro santo: Hic taceat omnis lingua - Toda língua aqui emudeça.

Quando conheço a Mãe, passo a amá-la. É então que ela me apresenta o Filho e, conhecendo-O, O amo. É simples.... Dizia alguém que a distância menor entre dois pontos é a simplicidade. Maria é, ela mesma, a Simplicidade que traz nos braços o Infante Onipotente e Pobre. Para compreendermos o Mistério do Natal que se avizinha, devemos entrar naquela gruta, naquele escondimento onde Ela nos conduz à contemplação do Amor encarnado. É sempre ela quem nos mostra...

Agradeço, Senhor, porque começo a compreender...