sábado, 23 de novembro de 2013

Autoconsciência X Imitação


Há um forte desejo, na maioria de nós, de nos vermos como instrumentos nas mãos dos outros e, assim, livrarmo-nos da responsabilidade de atos que são estimulados por nossas próprias inclinações e impulsos questionáveis. Tanto o forte quanto o fraco agarram essa desculpa. O fraco esconde sua maldade sob a virtude da obediência. O forte reivindica absolvição proclamando-se o instrumento escolhido por um poder superior - Deus, a história, o destino, a nação ou a humanidade.

Similarmente, temos mais confiança no que copiamos do que naquilo que criamos. Não podemos produzir uma sensação de absoluta segurança de nada que tenha a raiz em nós mesmos. A mais profunda sensação de insegurança vem do estar sozinho, e não estamos sozinhos quando imitamos. É assim com a maioria de nós. Somos o que as outras pessoas dizem que somos. Nós nos conhecemos principalmente pelo que ouvimos.

Para nos tornarmos diferentes do que somos, devemos ter certa consciência do que somos. Não podemos perceber, sem a autoconsciência, se essa diferença resultará em dissimulação ou em uma mudança de sentimento real. No entanto, é notável que as pessoas que estão mais insatisfeitas consigo mesmas, que mais desejam uma nova identidade, possuem a menor autoconsciência. Elas se afastaram de uma personalidade rejeitada e, portanto, nunca tiveram uma boa visão a respeito dela. O resultado é que a maioria das pessoas insatisfeitas não pode nem disfarçar nem chegar a uma mudança de sentimento real. São transparentes, e suas qualidades rejeitadas persistem por meio de todas as tentativas de dramatização e transformação de si mesmas.

Bruce Lee, O Tao do Jeet Kune Do. São Paulo: Conrad, 2004. p. 235.