Um Pastorinho, só, está penando,
privado de prazer e de contento,
Posto na pastorinha o pensamento,
Seu peito de amor ferido, pranteando.
Não chora por tê-lo o amor chagado,
Que não lhe dói o ver-se assim dorido,
Embora o coração esteja ferido,
Mas chora por pensar que é olvidado.
Que só o pensar que está esquecido
Por sua bela pastora, é dor tamanha,
Que se deixa maltratar em terra estranha,
Seu peito por amor mui dolorido.
E disse o Pastorinho: Ai, desditado!
De quem do meu amor se faz ausente
E não quer gozar de mim presente!
Seu peito por amor tão magoado!
Passado tempo em árvore subido
Ali seus belos braços alargou,
E preso a eles o Pastor ali ficou,
Seu peito por amor mui dolorido.
S. João da Cruz
***
Só esclarecendo:
- O Pastorinho é Jesus;
- A pastorinha é a alma humana;
- A terra estranha é esta terra, chamada pelos místicos de exílio; aqui o santo faz referência à Encarnação de Jesus;
- A árvore é a Cruz.
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