sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

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Solamente sei que nada sei... Nem o espanhol eu sei... rs
Não sei...

Características do legítimo amor

"O amor, quando já crescido, não pode ocioso ficar, nem o forte sem lutar por amor de seu querido"

O amor é um princípio de união. Isto significa que ele tende a unir objetos que se amam. Une aquele que ama ao objeto do seu amor, ou, pelo menos, lhe tensiona aproximar-se. Quando o amor existe em ambos os objetos, eles se aproximam e se abraçam mutuamente. Isto é assunto do qual não restam dúvidas. A este respeito, dizia Aristóteles que o mundo se move porque busca a Deus, assim como o amante se move em direção ao ser amado.

Mas se formos tratar de amor literal, ele só pode existir em seres dotados de vontade, porque é a vontade que ama. E ama o quê? Aquilo que a inteligência lhe informa ser um bem. Portanto, só há amor em seres dotados de inteligência. Daí que, somente seres racionais e dotados de vontade podem amar.

Dissemos que a vontade ama aquilo que a inteligência lhe afirma ser um bem. Portanto, é amável aquilo que é bom. A inteligência pode se enganar, mas, se acerta, então aquele objeto em questão é realmente digno de ser querido. Deus é o sumamente amável. Aqueles que negam a sua existência não podem amá-lo, pois a negam pela razão. Daí que a vontade não é informada sobre a divindade e não pode amá-la. Neste caso, a inteligência deles se engana.

Os santos, ao contrário, foram aqueles que, a partir da contemplação de Deus, isto é, do detimento da inteligência nas coisas superiores, passaram a amar a Deus profundamente.

A bondade faz o pano de fundo do amor. Daí que, se o amor não corresponde a esta bondade, não a tem por fim e por meio, então ele se corrompe. E à medida que se afaste daquilo que deveria ser, será tanto menos amor. Quando, ao contrário, é realmente a bondade que anima o amor, ela não apenas o torna verdadeiro amor, como lhe intensifica de modo proporcionado àquela bondade. Deus, sendo o próprio Amor, sendo a própria Bondade, sendo o próprio Bem, obviamente que não pode ficar de fora desta história.

Sendo a Bondade em si, é digno de ser amado sobre todas as coisas. Daí que se um amor outro compete com Deus, este outro perde a razão de ser. Um amor humano só pode ser amor à medida que se insira neste amor maior de Deus, princípio e fim de todo amor, e para ele contribua.

O amor é ainda um principio de transformação. Sendo princípio de união, ele une. Sendo princípio de transformação, ele transforma aquele que ama à semelhança do amado. Daí que os santos vão, aos poucos, assumindo as feições espirituais de Jesus Cristo, imitando a Sua bondade, as Suas atitudes.

S. João da Cruz expressa este duplo princípio na sua frase: "Oh noite que juntaste Amado com amada (princípio unitivo), amada já no Amado transformada (princípio transformativo).

Acontece, porém, que há vários quês que dificultam a consumação do amor. Se o amor é algo que leva o amante a sair de si, em busca de um outro, o seu oposto é o egoísmo que remete tudo a si mesmo, inclusive este outro. O egoísmo é o oposto do amor. Enquanto este liberta, o egoísmo aprisiona, usa, manipula e, com facilidade, descarta. A conversão é um caminho do egoísmo para o autêntico amor. E nas relações inter-pessoais este amor verdadeiro deve ser promovido e o egoísmo, deposto e expurgado.

Uma outra característica do amor é que ele é dotado de certa violência, e isto para lutar contra os seus inimigos no caminho. Neste sentido, clama o escritor bíblico a Deus, Sumo amor: "prevalece contra teus inimigos". E é precisamente sobre isso que diz o livro dos Cânticos: "pois o amor é forte como a morte". Ainda, na mesma trilha, segue Nosso Senhor: "pois o Reino dos Céus é tomado à força e só os violentos o conquistam". Falando assim, Ele não quis dizer outra coisa além disto: só quem muito ama é que alcança a beatitude. O livro dos cânticos descreve ainda os guerreiros que sobem do deserto, à noite, escoltando a liteira de Salomão e que, experimentados no combate, trazem a arma ao lado por causa dos inimigos no percurso. Esta arma é a cruz, a bendita espada do amor, a suma insígnia real dos amantes.

Há, portanto, dificuldades para a realização do amor, isto é, para a união dos que se amam autenticamente e para a requerida transformação mútua, pois, conforme diz S. João da Cruz, "o amor é maior onde é maior a semelhança", uma das razões pelas quais Cristo se tornou um de nós, a fim de que mais o amássemos. Em vistas destes inimigos, o amor usa de uma certa violência. E como faz isso? Como é a vontade que ama, o amor mobiliza a vontade a manter firmes certas decisões, independente das consequências e ameaças, e  a continuar o passo, desde que aquele Bem, contemplado pela inteligência, seja bem real.

Neste contexto, anima-nos Nosso Senhor: "Coragem! Eu venci o mundo!". Tanto amou-nos que venceu o mundo.

Tendo dito que o amor é violento, não decorre que seja grosseiro. Ao contrário, o amor é muito delicado. Nota as dificuldades espalhadas no caminho, nota os sujeitos envolvidos e, enquanto cuida o mais possível daqueles que estarão dispostos na arena, não deixa de lutar. Fazendo isto, testemunha a autenticidade do seu amor e dá ocasião para que os sujeitos que contra ele combatem, tenham também os seus corações, isto é, as suas vontades, como que tocados pela veracidade daquele amor. Isto poderá fazer com que se redimam. No entanto, aquele que combate por seu amor somente pode fazer isto. Suavizar aqui e ali o golpe, cuidar para que, na medida do possível, os sujeitos sejam imobilizados ou derrubados com mínima dor. Quanto aos inimigos frontais do amor, que nunca são pessoas, o amor é maximamente violento. Tais inimigos são: o egoísmo, a covardia, os apegos excessivos, o pecado, a incompreensão injusta dos demais. "Eu porei os filhos contra os pais", disse Jesus. E o amor exige que aquele que foi chamado, levante-se e siga. "Seduziste-me e eu me deixei seduzir. Por vossa causa estão todos contra mim", clama um dos profetas. E mesmo assim, pede-se que mantenha o passo. O amor saberá compensar, mas não se podem querer adiantamentos; fazê-lo é deixar a gratuidade do amor e ceder um pouco ao egoísmo. Voltar atrás é tratar o amor com indignidade: "Quem olha pra trás, não é digno de mim". E, contrariando o amor, não se está rumando para um bem objetivo.

É como diz uma música muito conhecida: é preciso entender e aceitar as implicâncias do amor. Que a ele nunca se mescle o egoísmo que age segundo critérios opostos. Mas que ao amor se corresponda com coração generoso, pois o amor é aquilo pelo que tanto procuramos.

Fábio

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Significante e significado


Na linguagem humana, utilizamos símbolos. O símbolo é aquilo que aponta para um outro ao invés de falar de si mesmo. Pelo processo de abstração, formamos o conceito. Para expressá-lo verbalmente, recorremos, então, às palavras que são símbolos. A forma de expressão será tanto mais fiel quanto mais corresponder à idéia ou conceito que se quer expressar. E a idéia será tanto mais verdadeira quanto mais se adequar ao objeto real representado pela idéia.

Acontece que, para uma certa idéia, por vezes é possível utilizar-se não apenas um símbolo, mas vários. Esta possibilidade dá boa relatividade à expressão, e é isto o que permite uma multiplicidade de interpretações. É o que se dá, por exemplo, com frases conotativas. Podemos fazer, então, uma divisão em três classes de expressão: as inequívocas: aquelas que, quando utilizadas, não permitem senão uma única forma de compreensão; as equívocas: as que podem ser interpretadas de modos totalmente diferentes e, por isso, errados; e as análogas: em que se unem aspectos das duas precedentes: enquanto que o termo circunscreve de algum modo o limite hermenêutico da expressão, ele também lhe dá certa flexibilidade utilizando-se de termos não de todo unívocos, não de todo equívocos.

Esta tensão ou distância entre o signo ou símbolo e aquilo que ele quer mostrar é grandemente conhecida. S. João da Cruz se referia a ambos como "notícia" e "substância". Outra forma de tratar disso é pelas expressões significante - o que é usado como símbolo - e significado - o objeto representado.

Pois bem. Os equívocos, ambiguidades e coisas deste tipo se dão, ou pelo uso inadequado de expressões, ou pela não compreensão destas mesmas expressões em si ou num certo contexto. Acontece que esta imprecisão pode se dar propositalmente. Assim se faz, por exemplo, quando se quer afirmar algo importante, mas não há coragem o suficiente. A estratégia, então, consiste em fazer notar um objeto em particular, e ao mesmo tempo se reservar um certo conforto por, supostamente, não o ter revelado de todo. Isto se faz pela ambiguidade ou o uso de proposições análogas. O texto abaixo sobre o escuro, por exemplo, refere-se a algo particular, mas, aqui, o trato de forma bem genérica, de modo que, analogamente, ele pode se aplicar a situações diferentes.

Assim como as palavras são o símbolo mais frequente para se exprimir algo, elas não são o único. Isto quer dizer que o homem pode trazer, nas suas ações, uma dimensão semiótica. Quem tiver olhos, leia! :D

Um sujeito no escuro

 
O escuro é a ausência de luz. Há duas formas de manter-se na escuridão. Uma é de caráter involuntário, isto é, quando o impedimento da luz se dá por motivos alheios à vontade de quem lá está. A outra, de caráter voluntário, acontece quando, ou a pessoa pôs-se positivamente em ambiente escuro, ou porque, podendo de lá sair, não o quis.

Dessa forma, o escuro pode ser considerado, ora como refúgio e escondimento, ora como impedimento para a iluminação. Mas pode também ser um misto entre ambos. Neste último caso, a realidade da luz, extrapolando a captação imediata dos sentidos, assume uma dupla possibilidade: que corresponda ao que dela se deseja ou que corresponda a realidade diversa. Daí que, enquanto impedimento para a realização do que se espera, é também proteção contra a decepção. É um meio termo que, a depender da pessoa e do caráter da escuridão – se voluntário ou involuntário - poderá ser estendido ou não. Se o sujeito tende a ser predominantemente defensivo, quererá ficar no escuro. Se, porém, é predominantemente ofensivo, isto é, se prefere arriscar, tenderá a, na medida de quanto possa, expor-se à luz.

Uma outra coisa a se considerar é que a iluminação poderá ser gradativa, isto é, dar-se aos poucos, à medida que o sujeito toma certas atitudes. Pode não estar sob seu arbítrio iluminar de vez todos os aspectos do ambiente. Mas, pode depender dele incidir pequenos fachos de luz que, conjuntamente, revelarão as nuances da situação. Aqui, as atitudes defensiva e ofensiva vão-se combinando, ora prevalecendo uma, ora outra, à medida que a revelação parcial vá ou não correspondendo ao desejo do indivíduo.

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Quem quiser guardar a sua vida, vai perdê-la. Quem a tiver em pouca conta, vai ganhá-la. Fiat Lux!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Quando o que se quer fazer, não obstante seja correto, desagrada um outro

Há vezes em que travamos o nosso passo por uma certa prudência. Certas atitudes, por mínimas que sejam no seu ato, trazem algumas repercussões que, à semelhança das ondas de um lago motivadas pelo cair de um objeto, espalham-se com facilidade. Isto se dá porque nós, como já dizia Aristóteles, somos seres que vivem em sociedade. No entanto, essa sociedade não é apenas um amontoado de corpos físicos, mas um conjunto de almas que guardam, também, uma comunhão afetiva e espiritual. Estas repercussões de que falávamos podem ser agradáveis ou desagradáveis e, imediatamente, tendemos a associar o agradável com o bem e o desagradável com o mal. Mas esta é uma associação forçada. Pode ser que isto se dê; pode ser que não.

A experiência cotidiana nos mostrará que, em alguns casos, será virtuoso abster-se de certas decisões em vistas do bem de um outro. No entanto, há que se notar se aquilo se trata mesmo de um bem. Como somos muito voltados ao respeito humano e usamos de critérios não raro superficiais, esta confusão se torna um tanto freqüente. Há que se cuidar, também, para que a ação em questão não seja má ou motivada por más intenções. E para tal, é necessário ter uma certa clareza.

Acontece, porém, de a referida ação que se quer tomar ser algo de objetivamente bom e, não obstante, haver qualquer receio de um certo mal estar alheio. Nestas situações, avaliado o contexto, não é necessário impedir-se de ir adiante. Todos temos experimentado, ao longo da vida, certas tristezas e decepções. Elas são inevitáveis e, à sombra da Cruz, tornam-se via para maturação e santificação. Também Nosso Senhor afirmou ter vindo trazer a espada da separação e que, algumas vezes, isto traria tensões entre os filhos e os pais, etc. As ações que causam tais sofrimentos não devem ser identificadas com o mal, mas são passos que devem ser dados. Por vezes, recebemos a solicitação de uma certa situação que é justa e que, uma vez que se lhe corresponda, causará talvez alguma decepção ao nosso redor. O renunciar a si mesmo pelo outro não é um bem a priori. Isso deve ser praticado em vistas do contexto, a posteriori. Devemos fazê-lo sempre com Deus pelo fato de que Deus sempre quer o Bem e nunca se engana. Mas isto não procede com outras situações.

Há casos em que privar alguém de um dado sofrimento seria provocar-lhe um mal, ainda que este outro não o percebesse. Daí, notamos como isto é algo de objetivo, e não subjetivo; que transcende as interpretações dos sujeitos envolvidos. São situações objetivas às quais é preciso agir objetivamente, com a objetividade da cruz. O respeito humano, ao contrário, é o que privilegia o subjetivo do outro sobre o seu bem objetivo. Haverá, portanto, dias em que agir de um determinado modo será necessário, ainda que isto, a princípio, venha a causar algum sofrimento. Fazê-lo não significará desrespeito pelo outro, pelos seus sentimentos; muito pelo contrário. Será meio de fazer-lhe crescer e atentar para outras coisas. Será como uma libertação iniciada por uma certa dor à qual, especificamente, não convirá impedir. É como um parto: da dor surgirá uma vida.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

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Por trás do barulho, há o silêncio.
O barulho só existe porque o silêncio deixa...

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

O pobre deve ter as mãos vazias - Sobre algumas novidades atuais


O Natal está chegando e, com ele, tantas novidades...

De um lado, estou sem trabalho e sem uma clara perspectiva de onde ficar no próximo ano em vistas da Faculdade. De outro, tenho agora mais tempo livre, como se pudesse dar um intensivo naquilo que quero fazer e, para o ano, passando a semana fora, terei também maior possibilidade de dedicar-me à minha tão querida Filosofia. Como tenho dito, espero que este seja um período espartano!

Surge, também, de forma muito interessante, a probabilidade de eu ir a Roma em 2011; ver Sua Santidade Bento XVI e beijar-lhe a mão. Eu também poderia organizar-me para apresentar, lá, tipo um seminário sobre a liberdade, que é o tema do evento. Mas não tenho essa audácia toda não..rs.

Está bom demais poder estar na Cidade Eterna e ver, de perto, a Doce Sombra de Cristo na terra.

E é muito legal notar este jogo de novidades positivas e negativas (no sentido de deixar). E observando, agora, isto à luz do Natal que se aproxima, posso fazer algumas interprações gerais; na verdade, são mais analogias.

Jesus despojou-se e assumiu a nossa pobre condição. É a experiência da Kenose. E lá estava Ele, vestido em trapos, como o descreve S. Afonso, e deitado numa manjedoura numa fria noite, depois de ter sido recusada estadia para sua pobre família. E aquele pequeno era Deus.

Os pastorinhos, imediatamente depois de terem sido avisados pelos anjos, acorreram ao pequeno presépio. Enquanto isso, reis de terras distintas já rumavam para lá. Deixaram os seus confortos e suas belas vistas e foram àquele infante, trazendo consigo ainda alguns tesouros, mas não mais para ostentá-los ou comprazer-se com eles, mas para dá-los àquele Rei. Despojaram-se e encontraram o verdadeiro tesouro. Uns e outros, pastores e reis, tiveram que deixar suas ocupações e também suas suposições prévias sobre a natureza daquele Reino. Isto os dispôs para o feliz assombro de um Deus que se faz um de nós.

Também eu, agora, tenho me esvaziado de algumas coisas. Penso que isto se deva à providência do bom Deus que cuida dos seus. Para o ano, terei de transitar para um lugar que não me é familiar, deixando os confortos que até então me eram comuns. Esvazio-me e me ponho em viagem. Encontrarei eu, guiado por esta estrela que me arde no peito, que é Ele mesmo, algum tesouro lá? Ainda que isto seja possível e até provável, eu não deveria antecipar o que seria. Que mania esta nossa de querer prever tudo; de saber, de antemão, de todas as coisas; de não aceitar que certas realidades extrapolem o nosso alcance! Irei com coragem! Como Abraão que não exigiu a vista da terra prometida para sair da sua. Irei pensando no que disse Cristo: "felizes os que crêem sem ter visto" e ainda "nada temas, crê somente".

Depois de esvaziado, isto é, de ter experienciado algumas novidades "kenóticas", surge diante de mim a grande alegria de ir à sede da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Que alegria! Lá sim, encontrarei o mesmo tesouro que os Magos, que os pastorinhos. Sei que é Jesus quem lá verei. Mas sei também que não sei bem o que isto significa. Jesus é sempre diverso das nossas suposições. Nunca O esgotamos. E é sabendo disto que vou para lá vazio, aberto à sua eterna novidade, imitando a Sua discrição e compreendendo que o justo vive de fé, ainda que vez ou outra Nosso Senhor permita, na sua sabedoria, vislumbres daquelas paragens eternas.

E vou seguindo, aprendendo o que S. Paulo quis dizer ao escrever que "aquele que tem, viva como se não tivesse...". Ah, pobreza, como és bela! Não à toa o mais belo dos homens te desposou. Felizes os pobres, porque verão a Deus. Ai, porém, dos soberbos, daqueles que dizem, do meio de suas futilidades: "aqui não há lugar para Vós".

Ah... Dia 25 de março, estarei me tornando, enfim, escravo perpétuo da Virgem Santíssima. Que alegria a da santa pobreza!

Fábio.

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Ensine-nos, Jesus, a caminhar e combater!


Seguem os dias, e vou constatando, na prática, tudo o que a Santa Igreja ensinou. Aquela família, cuja fé não se dá nos moldes tradicionais, de repente mostra o seu total fracasso na educação dos filhos; aqueles outros que buscam uma via alternativa à bondade, de repente, se demonstram grandemente infantis. E Deus vai me permitindo ter sob os olhos estas pessoas, cativas de seus gnomos, porque são, em geral, inimigos pequenos, que venceriam se dessem ouvidos àquela boa mãe que sempre os quis ensinar. Mas o amor próprio é muito obstinado. Muitos morreriam antes de permitir a invasão de um conselho.

E fico contemplando os homens grandes da Igreja, cada vez mais escassos, mas ainda existentes. Mesmo os menos instruídos, filosofica ou teologicamente falando, que porte ostentam! Que maturidade! Que grandeza de alma! Deus os conduziu a grandes alturas porque eles se deixaram conduzir. No início do seu percurso admitiram ser pequenos e se permitiram guiar. Meu Deus, como o orgulho atrapalha! E que consequências funestas ele traz! Que cegueira destes pobrezinhos! E, de outro lado, que luz esplendorosa daqueles outros Pobres de Nosso Senhor!

A razão disto é que, pela vida da graça, as virtudes teologais vão trabalhando em nós. À medida que o dom da caridade cresce, com ele crescem também, de modo correspondente, os outros dons do Espírito, inclusive, com o dom da Fé, a inteligência e a sabedoria, que nos dispõem a uma compreensão mais profunda das verdades espirituais e à contemplação destas realidades em Deus.

Sem a graça, sem a caridade, o que sabe a pobre alma? Está cega...
Quantos católicos, hoje em dia, não têm idéia do que seja a graça!, do que seja um pecado mortal! Quantos comungam sacrilegamente sem o saber! Quantos naturalizam a religião e passam a vida sem sequer supor o que seja a vida autenticamente espiritual!

Oh, meu Deus! E os vossos padres, o que têm ensinado? Oh Jesus, e os vossos amigos, o que têm feito?
Já que tantos nos faltam, amoroso Jesus, sede tu mesmo o nosso guia... Ensina-nos a combater!

Bênção Irlandesa - Vi e Gostei


"...que o caminho seja brando
a teus pés,
o vento sopre leve
em teus ombros.
Que o sol brilhe cálido sobre a tua face,
as chuvas caiam serenas
em teus campos.
E até que eu
de novo te veja,
que + Deus te guarde
na palma de sua mão."

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Comentando uma passagem dos Cânticos - Parte 1


"Quem é esta que sobe do deserto apoiada em seu bem-amado? - Sob a macieira eu te despertei, onde em dores te deu à luz tua mãe, onde em dores te pôs no mundo tua mãe."(Ct 8,5)

O Cântico dos cânticos é um livro belíssimo e que a unanimidade dos santos afirmava poder expressar, de modo muito particular, as relações amorosas entre a alma e Deus. Em seu sentido literal, não passa de um poema em que uma donzela, levada à corte de Salomão, mantém-se fiel ao seu bem amado. Mas, se ascendermos, como diz Ricardo de S. Vitor, ao seu sentido místico, poucas coisas há que sejam tão belas.

O Pe. Ronald Knox muito acertadamente afirma que vários santos dariam de bom grado todos os demais livros do Antigo Testamento em troca deste. Sto Tomás de Aquino, ao ser acolhido no mosteiro trapista, antes da sua morte, recompensou os monges comentando passagens deste livro. S. João da Cruz, na ocasião da sua morte, pediu que lhe fossem lidas passagens do livro, às quais respondia emocionado: "que pérolas...".

Forçoso é, então, dizer que há qualquer coisa de muito belo e, ao mesmo tempo, bem oculto nestas linhas. E neste contexto, corremos o risco de tão somente balbuciar ao arriscar escrever algo a respeito. Neste post, porém, quero tratar um pouco desta passagem que destaquei acima e que me chamou a atenção numa vigília que fizemos recentemente.

Pergunta o autor sagrado: "Quem é esta que sobe do deserto apoiada em seu bem amado?"

Os que estejam minimamente familiarizados com a literatura mística, haverão de perceber o significado de dois símbolos expressos nesta passagem.

Primeiramente, o deserto. De fato, o deserto é um lugar difícil, onde não há provisões em excesso e onde a nossa sede tem de ser mortificada. É onde a nossa indigência se acentua e percebemos a nossa pequenez. Mas é justamente aí, no deserto, que a alma se encontra com Deus. Lembremo-nos de toda a saída do povo de Israel do Egito e que teve, como caminho, o deserto. Lá passaram eles longos quarenta anos. Tempos  difíceis, mas tempo de particular proximidade divina e de manifesto cuidado de Deus pelos seus. Isto nos mostra algo muito interessante: a indigência faz com que saiamos de nós mesmos, com que rompamos a antiga lógica do pecado original que é apenas olhar para o nosso próprio umbigo. É uma libertação, um êxodo, embora seja um tanto dolorido. Esta dor nos desperta para o que mais importa, e faz-nos pôr a nossa atenção em Outro, que é Deus. E o deserto é um lugar privilegiado para isto. Deus já o tinha dito numa passagem do livro de Oséias que muito aprecio: "A levarei ao deserto e lá lhe falarei ao coração".

O fato de terem sido quarenta anos também não é dado sem importância. Também Jesus passou quarenta dias no deserto e, detalhe: foi conduzido para lá pelo Espírito Santo. O número quarenta, então, aparece como um período de transição e pode, muito bem, expressar o tempo que passamos aqui nesta terra. Também Elias, tendo comido o Pão Misterioso que bem sabemos o que representa, dispôs-se para caminhar quarenta dias.

Outra coisa, o deserto torna-se também símbolo do exílio, que é esta terra que vivemos. Porém, é como um rumar ou um pôr-se a caminho. É como um sair da escravidão e estar indo à Terra Prometida. Este dinamismo é bem expresso pela ordem que Deus dá para "cingir os rins" e "comer apressadamente". E é belíssima esta alegoria da viagem, porque aqui fica bem expresso o desapego do lugar onde se estava, conforme dito a Abraão: "sai da tua terra...", a esperança de encontrar o lugar para onde se vai e a fé firme, em Deus, que é o que fundamenta aquela esperança. Neste sentido, a passagem acima diz: "esta que sobe do deserto". Subir indica um desapegar-se do que está abaixo ou do que é rasteiro, em busca de algo mais puro. Se nada sacia ao homem debaixo do sol, como o expressa o escritor do Eclesiastes, é preciso ir acima do sol e, para lá chegar, é necessário ter o coração ao alto, isto é, a vontade, o que não se faz senão desapegando-a do que é rasteiro. Como a vontade segue sempre a inteligência, é necessário que antes esta seja posta em contemplação das realidades eternas, afim de que a vontade se inflame por elas.

É neste sentido que se diz que a alma "sobe do deserto".

Esta subida, porém, torna-se impossível se a alma não se apoia em Deus. Isto disse Sta Teresa D'Avila, afirmando que também um sapo não pode voar por si mesmo. S. João da Cruz expressa esta verdade na sua "Oração da alma enamorada" onde escreve: "Como a Ti, Senhor, se elevará o homem que criaste se Tu não o levantares?" Por fim, o próprio Senhor o afirma: "Sem mim, nada podeis fazer..."

É com vistas a esta necessidade absoluta que o livro dos cânticos afirma: "sobe do deserto apoiada em seu bem amado". É bem amado porque a inteligência já se deteve n'Ele e a vontade já se Lhe aderiu em vivo amor. Este amor faz a alma ter como que asas, pelas quais poderá se erguer, apoiada nAquele que ama.

Em seguida, diz o escritor:
"Sob a macieira eu te despertei"...
Continua...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Com os carismáticos.


Estes dias, por duas vezes, tive a difícil oportunidade de presenciar a oração dos carismáticos. Aquilo nunca me foi tão difícil de fazer quanto agora. Parecia-me evidente que estávamos diante de qualquer grupo pentecostal, menos católicos.

Na ocasião, eu também rezei. Mas repetia, baixinho, coisas do tipo: "Senhor, que foi que eu vim fazer aqui?" e "Senhor, tira-me daqui".

Este breve relato pode parecer dramático demais, mas a coisa realmente não me desceu. E isso piorou quando eu as ouvi falar que, se tivessem mais tempo, iriam pedir pelo batismo.. aff....

Deus nos livre do pentecostalismo de qualquer matiz porque, seja qual for, certamente não é católico.

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Semi Férias - Japaratinga!


Estarei em semi-férias até terça feira. Que o bom Deus nos ajude nestas eleições.
Indo a Japaratinga. Descansar um pouco, rir com os amigos e ver o mar...

Fiquemos todos com o bom Deus e com a Doce Virgem Maria. Pax.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

"Nós deixamos tudo e seguimos-te" (cf. Mt 19,23-30)

Ouvistes, meus irmãos, que Pedro e André abandonaram as redes para seguirem o Redentor ao primeiro apelo da sua voz (Mt 4,20)... Talvez algum de vós diga baixinho: "Para obedecer ao apelo do Senhor, que é que aqueles dois pecadores abandonaram, eles que não tinham quase nada?" Mas, nesta matéria, temos de considerar as disposições do coração mais do que os bens que se possuem. Deixa muito aquele que não retém nada para si; deixa muito aquele que abandona tudo, mesmo se não é muita coisa. Quanto a nós, aquilo que possuímos, conservamo-lo com paixão, e, o que não temos, buscamo-lo com todo o nosso desejo. Sim, Pedro e André deixaram muito, pois um e outro abandonaram mesmo o desejo de possuírem. Abandonaram muito porque, renunciando aos seus bens, renunciaram também às suas ambições. Seguindo o Senhor, renunciaram a tudo o que teriam podido desejar se o não tivessem seguido.

S. Gregório Magno
papa (c. 540-604)

Fonte: Voc Acção

Sobre a mística de trevas


"A experiência de identidade seria apenas a primeira tapa no caminho místico que, sem dúvida, poucos ultrapassariam, e, desse modo, esta experiência se converteria na verdadeira tentação da mística. Somente depois é que viria o estágio, muito mais doloroso, do desprendimento de si memso e a transição para a autêntica transcendência. Este estágio exigiria do homem a crucificação do abandono de si mesmo e a entrega ao arbítrio do que não tem lugar, onde já nada de terreno se sustenta, mas que agora é o que coloca o homem ante a verdadeira face de Deus, de maneira que, quando lhe é concedido penetrar nessa mística da escuridão e da fé, então considera a mística precedente da luz e da visão um pequeno prelúdio do que ele, sem vislumbrar a profundidade de Deus, havia tentado considerar anteriormente como último e total."

Joseph Ratzinger, Fé, Verdade e Tolerância, Cap.1, pg.38.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Mudanças...

Se eu voltar pra UFAL, tenho que ir assim, pq lá é combate...rs..

 É impressionante como, em poucos dias, as expectativas do porvir podem mudar. São várias as novidades deste tempo e ando a me preparar para isto.

Já há algum tempo que eu trabalho numa papelaria. É dela que escrevo no blog, estudo, e organizo o material para a formação do pessoal do Anjos de Adoração. O ambiente é muito agradável e eu já sou muito habituado a ele.

Recentemente, porém, eu soube que a Dona Ilza, dona do estabelecimento, vai retirar a papelaria e disporá o local para alguma outra coisa que ainda não ficou definida. Ora, só isto já mudaria radicalmente a minha rotina, visto que trabalho aqui os dois horários e de segunda a sábado. Ao mesmo tempo, a minha tia estava particularmente chata estes dias. Ficou insistindo que eu voltasse para a Faculdade que, por alguns motivos, eu tinha deixado. Fez as apelações que só ela sabe e eu respondi que apenas voltaria à Facul se pudesse morar na cidade onde ela se localiza, isto é, em Maceió, capital do Estado de Alagoas.

A grande dificuldade para qualquer espécie de estadia fora de casa sempre foi o excessivo apego que a minha tia tem de mim. Chamo-a tia por costume; mas foi ela quem me criou. Das primeiras vezes que fui à casa de meu pai e lá passei algumas semanas, ela só fazia chorar e dispunha as minhas roupas sobre a cama para lembrar de mim... rs. Este apego excessivo sempre me atrapalhou, sobretudo no que diz respeito à vocação. Como somos só nós dois, ela sempre insinuou que não suportaria que eu fosse embora, coisa e tal, e ficava a compor suas chantagens me perguntando se eu teria coragem de deixá-la..rs... Nem por isto eu deixei de tentar fazer os vocacionais, sempre pressionado pela ordem de Jesus: "se alguém ama mais a seus pais do que a Mim, não é digno de Mim". Mas creio que, neste contexto, eu fiz menos do que deveria. Some-se a isto uma certa insegurança minha em deixá-la, fruto desta excessiva proximidade dela.

Agora, porém, lá me aparece ela dizendo que ficaria muito feliz se eu voltasse à Universidade, mesmo passasse a semana em Maceió. Eu sei que, para falar algo assim, ela teve que fazer seu sacrifício, mas isto me deu ânimo. Na verdade, eu sempre quis terminar minha graduação e esta era uma preocupação frequente para mim ultimamente.

De um lado, então, eu sairia da papelaria. De outro lado, teria um incentivo a morar na cidade da Facul. Agora... morar onde? E como fica a minha situação na Universidade? Eu não tranquei... simplesmente, não fui mais.

Tenho um amigo, que também é do Anjos de Adoração, o Breno, que mora na residência da Universidade. Pelo que ele me diz, há mais que expectativas de que, no próximo ano, a residência mude-se para dentro da própria Universidade, o que equivaleria a, literalmente, morar na Facul. Nada melhor para mim... Aliás, essa foi precisamente a expressão que usei quando minha tia me perguntou se eu não tinha vontade de voltar à  UFAL. Disse-lhe eu: "minha vontade era viver dentro de uma universidade..."

Olhando assim, de contexto, isso tudo parece uma amorosa conspiração divina. Mas a história ainda não se resolveu de todo. Para entrar na tal residência, é preciso fazer entrevista, comprovar renda e choramingar um bocado. Eu poderia, por ora, ficar no mesmo quarto que este meu amigo, mas ele pensa em, se possível, transferir seu curso para o Paraná.

Outra dificuldade é a minha situação no Curso de Filosofia. Eu parei de ir antes do meio do ano de 2009. Estes dias, porém, vi que meu cadastro no site da Universidade permanece, incluindo as minhas notas nos semestres passados e a minha reprovação, no semestre em que deixei de ir, por falta. Misteriosamente, porém, eu ainda passei em uma disciplina..rs...

Estou tentando entrar em contato com um professor de lá que, enquanto eu estudava, era o coordenador do Curso de Filosofia. Agora ele já não exerce esta função, mas mantém-se como doscente.

Enfim, esta é uma situação de transição. Como dizia S. Josemaria, é hora de abandonar o "omnibus". Nós só temos direito a ter no coração o amor de Deus. É preciso ser pobre, na prática, e viver o desapego. 

Espero que Nosso Senhor conduza tudo segundo a Sua Santa Vontade. Rezem por mim os amigos.

Fábio.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O amor facilmente se excede...
Vez ou outra aprendo isso de forma mais ou menos constrangedora.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

O desejo do homem busca a Deus


"Por trás e no fundo de cada desejo há um desejo ferido de transcendência. Por detrás e acima de todo objeto buscado e ambicionado há um projeto jamais satisfeito de felicidade. Por detrás e no fundo de cada pessoa, de cada afeto que clama, está a face de Deus, o único que pode saciar o homem, e que o homem quer ver."

Amedeo Cencini, A História Pessoal, Morada do Mistério

sábado, 4 de setembro de 2010

Primavera vai chegando...


"Meu bem-amado disse-me: Levanta-te, minha amiga, vem, formosa minha.
Eis que o inverno passou, cessaram e desapareceram as chuvas.
Apareceram as flores na nossa terra, voltou o tempo das canções. 
Em nossas terras já se ouve a voz da rola.
A figueira já começa a dar os seus figos, e a vinha em flor exala o seu perfume; 
levanta-te, minha amada, formosa minha, e vem." (Ct, 2-10-13)

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Um arco íris no céu...


Neste exato momento, um arco-íris no céu me moveu, primeiramente, à sua contemplação. Para tal, me levantei de meu acento e me dirigi à porta a fim de vê-lo melhor. Como se sabe, este sinal simboliza a Primeira Aliança que Deus fez com a humanidade. Quando os homens supunham que Deus estava irado com eles, Deus põe o seu "arco", com o qual se acreditava fizesse-lhes guerra, no céu. Tal ato, portanto, simboliza o fim das tensões entre Deus e a humanidade e estabelece, no horizonte da história, a expectativa da reconciliação definitiva.

Ora, a Primeira Aliança naturalmente nos faz lembrar da Segunda e Eterna Aliança que Deus fez com a humanidade por Seu Filho Jesus Cristo. Se a Primeira estabelecia uma expectativa, a Segunda trouxe a realização da espera.

Jesus, tendo vindo ao mundo, tendo vindo habitar em nosso meio, tendo vindo ser um de nós, é um sinal muito mais eficaz do fim da inimizade divina do que um símbolo, ainda que muito sugestivo, impresso no céu. Se este seria efeito fugaz da presença da divindade, em Jesus temos a própria divindade fazendo sua tenda entre nós.

Tal reconciliação definitiva se faz notar de forma muito singular já no batismo do Senhor, quando S. João, o Precursor, vê os céus se abrindo. Como se sabe, até a Redenção operada por Jesus, o Céu estava fechado aos homens. Agora, porém, os céus se abrem, como quando um amigo abre sua casa ao outro amigo. Era o início de novas relações entre Deus e os homens.

Contemplar o arco-íris, então, me faz lembrar o esponsal entre Cristo e a natureza humana. Em Cristo se realiza o desejo da enamorada dos Cânticos: "encontrei Aquele que meu coração ama, e não O largarei".

O Novo Arco-Íris também deve mover-nos. A ordem "vem e segue-me" exige que nos levantemos e empreendamos viagem. Primeiramente, porém, contemplamos Aquele que nos faz aquele chamado e é nesta contemplação que nos apaixonamos... "Quanta razão hé de te amar", suspira a Esposa dos Cantares... E como o amor é aquilo que, posto na vontade, faz movê-la em direção a quem se ama, ao contemplarmos Nosso Senhor, somos movidos a seguir-lhe os passos. Dizia Sto Afonso: "O amor faz semelhante o que ama ao amado" e S. Pedro Julião Eymard: "o amor, forçosamente, quer imitar".

Como eu dizia acima, para melhor ver o arco íris, dirigi-me à porta. Assim também, quem quer que deseje contemplar Jesus mais de perto, deve dirigir-se à porta do Céu, a Virgem Santíssima, que é Quem lho apresenta. Também os reis magos, na viagem a Belém, foram apresentados ao Menino Deus por Aquela Bendita Mulher. Não é diferente hoje. Esta porta é a via direta para Deus. É ainda aquela porta dos Cânticos onde a esposa pressente a presença do Amado. Apenas este passa a Sua mão na maçaneta da porta, e a alma amante estremece.

Maria, a Virgem Puríssima é aquela que, pela Sua saudação, faz Isabel e João Batista ainda em seu ventre pressentirem a presença do Verbo Divino  e, com isto, estremecem...

Amar a Cristo, contemplar-Lhe a beleza, seguir-Lhe os passos e, para tal, dirigir-me àquela Porta bendita... Enfim, unir-me neste esponsal e, então, poder dizer: "encontrei Aquele que meu coração ama e não o largarei..."

Que a Virgem Maria, Mãe do Verbo, nos conduza pela mão.

sábado, 21 de agosto de 2010

Sacramento da Confissão

Preparando-me para a confissão, e está frio... rs.
Isto pode ser uma analogia interessante. Daqui a pouco, confessados os meus pecados e tendo recebido a absolvição de minhas faltas, serei abrasado de novo, ainda que não o percebam os sentidos, pela chama da Caridade.

E então, poderei cantar:

"De amor está se abrasando
O que nasceu tiritando"

Rogando a Deus que se compadeça de minha pobre alma e lhe infunda um arrependimento sincero, bem como o firme propósito não mais O ofender.

Fica, Senhor, comigo,
Preciso da tua presença para não te ofender.
Sabes quão facilmente
Sou fraco e te abandono
Preciso de Ti para não cair...

Fica, Senhor, comigo
Se queres que eu te seja fiel.
Seja-me aquele abrigo
Pois embora minh'alma
Muito pobrezinha
Deseja ser p'ra Ti

Lugar de consolação
Carinho e adoração
Um ninho de amor, então,
Quietude e profunda oração.

(...) Fica, Senhor, comigo
Fica meu grande Amigo.
Minha alma é tão pobrezinha
Seja meu único abrigo.

Quero Tua compania
Muito preciso ouvir-Te, Senhor
Tanto desejo amar-Te,
Fica meu grande Amor...

(Adaptação de uma oração de S. Pio de Pietrelcina feita por Celina Borges)

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O pobre é senhor de tudo - S. Bernardo de Claraval


"O avarento está sempre faminto como um mendigo, nunca chega a ficar satisfeito com os bens que deseja. O pobre, como senhor de tudo, os despreza, pois não deseja nada".

O rubor de Zaqueu no Céu, se ele foi pra lá...


 O que fazer quando o padre pede pra se cantar "Como Zaqueu"? Coitado do Zaqueu.. Por causa desta música, muitos há que jão não querem nem ouvir o nome do inocente...

Eu falei ao padre que não sabíamos cantar aquilo...Na verdade, eu não disse estritamente a verdade. Não costumo cantar a moda, é óbvio. Mas a linha melódica dela é medíocre e, por certo, não haveria qualquer dificuldade para uma execução de improviso. Mas foi a saída que encontrei. Ele costuma puxar estas cantigas e os músicos que se virem pra acompanhar e pegar tom..rs...

Fiquei preocupado. Uma simples ocasião dessas e lá se vão por água abaixo todas as tentativas de inculcar nos músicos que não se pode cantar música protestante na Santa Missa. Como se não bastasse, ainda me pedem pra ignorar a fórmula do Ato Penitencial e cantar outra música lá que fala de misericórdia...

Creio que eu não escondi o rubor da face, nem o constrangimento. Nestas horas, penso mesmo em viajar e ir a um lugar onde as pessoas já estejam adaptadas a uma liturgia mais correta. Ah, estes tradicionais mundo a fora que podem, quando quiserem, assistir à Santa Missa no rito tridentino...

Se Zaque foi para o céu, imagino que ainda hoje viva em cima das árvores, com vergonha e cante a Nosso Senhor algo do tipo:

Mil perdões, Senhor, porque
Hoje em dia a musiquinha
Que me leva o nome tem
Bagunçado a Liturgia...

Aiai...

Por sua vez, canta o outro..




Entrei na Sua casa,
Tô até na Santa Missa
E o que era Sacrifício
Fica quase uma festinha...

Povo diz que é o mesmo Deus
Que não tem problema não
Já nem sabem o que é a Missa
É tudo sem noção...

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Sobre os adiantamentos a respeito da minha vocação


Várias pessoas, inclusive religiosos, já me disseram que tenho um coração de religioso consagrado. Se este for o caso, deixo que Nosso Senhor providencie as coisas. Já fiz, durante um bom tempo, meus modestos esforços, proporcionais à minha pouca força. Agora, portanto, se Ele quer algo neste sentido, que ajeite os meios e me seduza de vez.

Eu sempre tive um encantamento particular pela vida consagrada. Agora, porém, já com meus 25 anos, não vejo como minha baixeza pôde aspirar coisa tão alta. E não ando a forçar as coisas, como o fazia na adolescência, a fim de me ver pequeno. Não é preciso. E se não é empresa impossível a de seguir vida religiosa, isto se deve somente Àquele que tudo pode.

Ademais, eu poderia facilmente enganar alguém que não me conhecesse com minhas conversas devotas. Adiantar-se em atribuir-me uma vocação seria por demais fácil e cômodo. Tendemos a ver somente as aparências. Atores nos enganam sem muito esforço.

Seja como for, na vida consagrada ou na vida leiga, seja Ele a conduzir as coisas. De mim mesmo, nada faço que preste. E já estou cansado disso...

Ide a Deus pelo vosso nada


Por aqui o inverno, ainda bastante frio, se prepara para ceder lugar à primavera. Ano passado eu já saudava a chegada desta "prima", de quem tanto gosto. Por ora, porém, a proximidade cronológica não é denunciada pelas evidências naturais... Faz frio ainda.

E eu recordava algumas palavras do Thomas Merton que li há uns anos atrás: "Procurai a Deus na fome, na sede, na pobreza"... no frio, também, por que não? Resumindo, fazei a experiência de Deus a partir da vossa indigência. Constata, pela tua pequenez, a tua necessidade radical deste Outro que te criou e te sustenta para a tua santidade. Que a vossa pobreza sentida te torne livre para a recepção do vosso verdadeiro Amado.

Estes são ensinamentos que correm o risco de serem lidos com indiferença e estranhamento. Sobretudo hoje, em que se busca uma forma de espiritualidade que seja sempre agradável. Todas as mudanças modernas no campo da mística e da doutrina sempre têm algo em comum: tornar as coisas mais fáceis. Só que, tornadas mais fáceis, tornam-se também menos altas, mais medíocres. E, no final, estamos falando de uma via estreita  e íngreme e de uma porta apertada.

Estou, eu também, vivenciando uma nova fase na vida. E isto é um presente da misericórdia divina. É agora que posso fazer a experiência, um pouco mais radical, de vivenciar a pobreza que tanto amo, de ter as mãos vazias, de desapegar-me e buscar fazer a experiência da liberdade.

Eu só peço a Deus que não me deixe desperdiçar este dom que Ele me dá agora; almejo que Ele termine esta obra de Suas mãos. A santidade é, de fato, um horizonte constante. Sempre está lá... mas minhas pernas são muito mais habituadas às quedas. Haverá dia em que levantarei vôo? Eu o quereria muito...

A regra agora é: experimentar a Deus a partir da pobreza. Provar e ver como o Senhor é bom.

Fábio

A Virtude da Pobreza e a Virgem Santíssima


Sto Afonso Maria de Ligório

Quem ama as riquezas, dizia São Felipe Neri, não chegará a ser santo. E afirmava Santa Teresa: É claro que vai perdido quem caminha atrás de coisas perdidas. Pelo contrário, dizia a mesma santa que a virtude da pobreza abarca todos os demais bens. Disse: "a virtude da pobreza", que, como diz São Bernardo, não consiste em ser pobre, senão em amar a pobreza. Por isto afirma Jesus Cristo: "Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus" (Mt 5,3). Bem aventurados porque não querem outra coisa mais que a Deus e em Deus encontram todo bem e encontram na pobreza seu paraíso na terra, como o entendeu são Francisco ao dizer: "Meu Deus e meu tudo".

Amemos esse bem no qual estão todos os bens, como exorta Santo Agostinho: Ama um bem no qual estão todos os demais. E roguemos ao Senhor com Santo Inácio: Dá-me só teu amor, que se me dás tua graça sou de todo rico. E quando nos aflija a pobreza, consolemo-nos sabendo que Jesus e sua Mãe Santíssima foram pobres como nós. Diz São Boaventura: O pobre pode receber muito consolo com a pobreza de Maria e a de Cristo.

Mãe minha amantíssima, com quanta razão disseste que em Deus estava teu gozo: "E se alegra meu espírito em Deus meu salvador", porque neste mundo não ambicionaste nem amaste outro bem mais que a Deus. Atrai-me após ti. Senhora, desprende-me do mundo e atrai-me a ti para que ame o único que merece ser amado. Amém.

Sto Afonso Maria de Ligório, As Glórias de Maria (Tradução minha do espanhol)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Senhor, dá-nos sempre desta água


Sta Teresa D'Avila

"Quem beber da água que eu der não terá mais sede" (Jo 4,13)

E como são reais e verdadeiras esteas palavras, saídas da boca da mesma Verdade! A alma que bebe desta água não tem mais sede de coisa alguma na terra.

Mas, das coisas do céu, ficará muito mais sedenta. É uma sede, um tormento de que mal se pode fazer idéia longínqua em comparação com a sede natural. E com que sede se deseja tal sede! É que a alma percebe todo seu alto valor.

Embora sede penosíssima e extenuante, traz consigo tal saciedade que afoga os ardores da sede humana, destruindo o afeto às coisas terrenas e dando fartura dos bens do céu.

Sta Teresa D'Avila, Caminho de Perfeição.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Da soberania da Santa Pobreza


Sta Teresa D'Avila, Doutora da Igreja, Mestra de Oração

“E acreditem, minhas filhas, para seu bem me deu o Senhor a entender um pouquinho dos bens que há na santa pobreza. (...)

A pobreza é um bem que encerra todos os bens do mundo. É uma grande soberania; afirmo que se assenhoreia de todos os bens quem nenhum caso faz de os deixar. Que caso posso fazer dos reis e dos senhores, se para isto for preciso descontentar a Deus? E o que se me dá de suas honras, se estou convencida de que para um pobre a maior honra consiste em ser verdadeiramente pobre?
Persuadida estou de que honras e dinheiro quase sempre andam juntos: a quem deseja honras não aborrece o dinheiro, e a quem ele aborrece, pouco caso faz de honras.

Entenda-se isto bem: ao que me parece, o desejo das honras anda sempre acompanhado de algum interesse de ter rendas e fortuna. No mundo raramente se honra quem é pobre. Pelo contrário, ainda que mereça ser honrado, é tido em pouco.
A verdadeira pobreza traz consigo uma dignidade que se impõe a todos. A pobreza abraçada por amor de Deus não precisa contentar a ninguém senão a ele. É coisa certíssima: não havendo necessidade de ninguém, tem muitos amigos. Tenho disto boa experiência. 
Porque tanto se tem escrito sobre esta virtude, que não saberei entender, quanto mais dizer, nada mais direi para não agravá-la com meus louvores. Apenas referi o que tenho visto por experiência e confesso, fiquei tão absorvida quem nem reparei no que estava escrevendo. Mas enfim, está dito.
(...) Grandíssimo é o prêmio, e, quando outro não houvera senão cumprir o que nos aconselhou o Senhor, grande paga seria imitar em alguma coisa Sua Majestade.
(...) Como dizia Santa Clara, grandes muros são os da pobreza. Com estes e com os da humildade queria ela cercar os seus mosteiros. Com efeito, se verdadeiramente guardardes estas virtudes, ficará a honestidade e tudo mais muito melhor fortalecidos que mediante os mais suntuosos edifícios.
(...) Sua Majestade nos tenha sempre de sua mão, para que jamais nos apartemos da pobreza. Amém.
Sta Teresa D'Avila, Caminho de Perfeição


quarta-feira, 16 de junho de 2010

Amar a Jesus acima de tudo


Imitação de Cristo.

Feliz aquele que compreende o que significa amar a Jesus e desprezar-se a si mesmo por amor d'Ele!

É necessário renunciar ao dilecto pelo Dilecto... pois Jesus quer ser amado exclusivamente e acima de todas as coisas. O amor das criaturas é enganador e mutável; o amor de Jesus é fiel e constante.

Quem se prende à criatura cairá com ela; quem se apoia em jesus estará seguro para sempre.

Ama e tem como amigo somente Aquele que te não abandonará quando todos te desampararem, nem te deixará perecer quando chegar o fim da vida. Quer queiras quer não, terás um dia de deixar tudo.

O teu Amado é de tal condição que não admite rivais; quer possuir sozinho o teu coração e nele permanecer como um rei no seu trono. Se souberes inteiramente desprender-te de todas as criaturas, Jesus habitará de bom grado contigo. A experiência mostrar-te-á que toda a afeição que não puseres em Jesus, mas nos homens, é perdida. 

Não confies nem te apoies no caniço que o vento agita; "porque toda a carne é como o feno e a sua glória passa como a flor dos campos" (Is 40,6).

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Todos os Filhos de Deus devem nascer de Maria


"O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus." (Lc 1,35).

O mês de maio já se aproxima do seu termo, mas a presença gloriosa da Virgem permanecerá. De fato, nós, os Filhos de Maria, temos constante necessidade da Mãe. Deus lhe pediu que assumisse a orfandade do mundo; do alto da Cruz, ao mesmo tempo que o Filho de Deus pronunciava aquelas palavras de oferta deste grande Bem, também provocava a substância daquilo que pronunciava, isto é, imprimia na alma da Virgem um profundo amor ao discípulo amado e, neste, o amor filial que Ele mesmo, Verbo divino, devotava à Sua Santíssima Mãe.

Deste modo, portanto, se reconhece o verdadeiro discípulo de Nosso Senhor: no amor que tem à Virgem Puríssima. Não há que temer amar mais a Mãe que o Filho, pois o amor a Maria é inspirado pelo próprio Senhor, e é amando a Mãe que aprendemos a amar o Filho sem reservas e com profundidade.

Quando ainda éramos inimigos de Deus, a Virgem já era plena da Graça divina. Esta graça, ela a transmite aos Seus Filhos de modo a nos tornarmos agradáveis a Deus. Não à toa, S. Luís Maria dizia que os que recusavam ter Maria por Mãe, tinham por pai o próprio demônio. E ainda que tal não seja repetido hoje aos quatro ventos, isto não significa que tenha se tornado falso. Tampouco é meramente uma frase de efeito, mas o rigor inerente à clareza da Verdade.

Dizia ainda o santo que Deus dá a devoção à Virgem Santíssima àqueles a quem deseja salvar, de modo que tal amor é sinal de predestinação. Também Deus Pai, nos diálogos de Santa Catarina de Sena, afirma que os que ao menos respeitarem Maria não irão para o inferno.

O Filho de Deus não é tão amado, hoje, porque Maria não é amada, nem conhecida. Aqueles magos que, na noite de Natal, procuravam o Filho de Deus, Lhe foram apresentados por Ela. É Ela quem no-Lo mostra.
Portanto, recorramos a ela, como à nossa boa Mãe, se quisermos encontrar o Filho.

Todos os santos e santas de Deus adquirem a santidade não somente em função de si mesmos, mas em virtude dos auxílios e graças divinos. Pois bem, estes auxílios e estas graças, sem exceção, nos vêm por ela, uma vez que a maior delas, o próprio Verbo, quis vir-nos por meio da Virgem. É preciso, pois, que os cristãos nos confiemos a esta bondosa mãe e que, como se adentrados no seu ventre, sejamos aí gerados para a eternidade. Ela que gerou Cristo, a cabeça da Igreja, há de gerar todo o seu Corpo Místico, o que inclui a nós, os membros. Quando um cristão, posto sob Maria, progride do amor a Deus, realiza-se, mais uma vez, a predição do anjo: "O santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus". Não há, portanto, outra forma de se tornar Filho de Deus, e isto se dá porque o próprio Deus assim o quis.

Amar Maria e excluir todas as reservas para com ela é, então, assunto da maior importância e, uma vez que tal se compreenda, vê-se quanto mal fazem às almas os protestantes e todos os que negam a esta Santa Mãe o seu papel na Salvação das almas. Não sejamos como estes. Amemos a Maria, ainda que tal mistério permaneça, por ora, obscuro.

Que o próprio Jesus, nosso Sumo Bem, nos ensine a amar Nossa Senhora de forma correta, sem reservas, sem medos, mas com perfeita devoção, com pura entrega, com pureza e pobreza.... E que, uma vez gerados no Seu ventre, sejamos também nós autênticos Filhos de Deus no mundo.

A Jesus por Maria

Fábio.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

A pobreza, caminho de alegria, tesouro escondido...


É impressionante como a soberba humana labuta contra a objetividade do sagrado. Uma vez que esta (a objetividade do sagrado) é admitida, o homem se verá necessariamente dependente, isto é, incluído num contexto que lhe ultrapassa, que lhe é anterior e que lhe evidencia, portanto, a nulidade valorativa de sua pretensão de auto-suficiência. É o "és como Deus" que é atacado na raiz.

É preciso, portanto, aderir ao "és em Deus". Nisto reside a alegria do homem e a sua natural realização. É a pobreza que, apagando o falso brilho do orgulho humano, abre o homem para a verdadeira luz de Cristo. E este caminho é tão suave, tão saboroso que não deixa de ser um mistério que o homem tanto resista.

Ser pobre implica desapegar-se dos próprios gostos e, muitas vezes, das próprias opiniões. Portanto, a pobreza cristã encerra um forte elemento negativo; contém o profundo significado do "nega-te a ti mesmo". Este elemento é o cerne de qualquer verdadeira conversão, é o "ódio a si mesmo" bem compreendido.

Mas esta negação se faz para que seja possível uma outra afirmação. Nego a mim mesmo para aderir a um Outro. Nesta adesão, está a compreensão da objetividade deste Outro, do qual me torno amigo. "Sereis meus amigos se cumprirdes o que vos mando". A pobreza prática torna-se, portanto, obediência. Este caminho é sublime. Desfaço-me dos meus torpes prazeres e das minhas alegrias egoístas para me abrir ao inifinito da verdadeira Alegria que me vem deste Outro. "Que a minha alegria esteja em vós e que a vossa alegria seja plena". Eis a "Vida em Plenitude" que se iniciou, porém, com uma espécie de morte, a morte para si mesmo. "Quem perder a sua vida por causa de Mim, ganhá-la-á" e "Se a semente não morrer, não produz fruto".

Eis, portanto, que os que aderem a esta suma verdade são os que conhecem a Vida. Não espanta, então, que alguém como Sto André, convidado por quem lhe maltratava a abandonar a fé, tenha respondido: "Ah... se conhecesses o mistério da Cruz". S. Paulo, tendo-o conhecido, escreveu: "tudo considero a preço de nada comparado a isto".

Eis, meus caros, o "tesouro escondido". Comprem-no... Desejem-no... Queiram-no... Invistam nisso.
E ouso usar as palavras de S. Luís Maria Grignion de Montfort: "Se o fizerem, bendirão, no dia de vossa morte, o dia em que me deram ouvidos".

Pax.

Fábio.