“E acreditem, minhas filhas, para seu bem me deu o Senhor a entender um pouquinho dos bens que há na santa pobreza. (...)
A pobreza é um bem que encerra todos os bens do mundo. É uma grande soberania; afirmo que se assenhoreia de todos os bens quem nenhum caso faz de os deixar. Que caso posso fazer dos reis e dos senhores, se para isto for preciso descontentar a Deus? E o que se me dá de suas honras, se estou convencida de que para um pobre a maior honra consiste em ser verdadeiramente pobre?
Persuadida estou de que honras e dinheiro quase sempre andam juntos: a quem deseja honras não aborrece o dinheiro, e a quem ele aborrece, pouco caso faz de honras.Entenda-se isto bem: ao que me parece, o desejo das honras anda sempre acompanhado de algum interesse de ter rendas e fortuna. No mundo raramente se honra quem é pobre. Pelo contrário, ainda que mereça ser honrado, é tido em pouco.
A verdadeira pobreza traz consigo uma dignidade que se impõe a todos. A pobreza abraçada por amor de Deus não precisa contentar a ninguém senão a ele. É coisa certíssima: não havendo necessidade de ninguém, tem muitos amigos. Tenho disto boa experiência.
(...) Grandíssimo é o prêmio, e, quando outro não houvera senão cumprir o que nos aconselhou o Senhor, grande paga seria imitar em alguma coisa Sua Majestade.
(...) Como dizia Santa Clara, grandes muros são os da pobreza. Com estes e com os da humildade queria ela cercar os seus mosteiros. Com efeito, se verdadeiramente guardardes estas virtudes, ficará a honestidade e tudo mais muito melhor fortalecidos que mediante os mais suntuosos edifícios.
(...) Sua Majestade nos tenha sempre de sua mão, para que jamais nos apartemos da pobreza. Amém.
Sta Teresa D'Avila, Caminho de Perfeição
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