segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A solidão


A solidão é insuportável para os medíocres e estéreis; que têm medo de si próprios e de sua vacuidade; condenados à eterna solidão de seu espírito, deserto interior que só produz a erva envenenada dos lugares malditos; inquietos, quando não podem esquecer-se em outrem, embebedar-se de palavras, trocar com outros homens a ilusão de uma vida fictícia; que não podem viver sem mergulhar, quotidianamente, átomos passivos que são, na multidão sórdida das ruas.

Jesus viveu entre os homens e voltará para o meio deles, porque os ama. Muitas vezes se isolará, mesmo dos discípulos, para ficar só. Para amar os homens é necessário abandoná-los algumas vezes.

Giovanni Papini, História de Cristo, O Deserto.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Início da Preparação para a Consagração à Virgem Santíssima


Hoje, dia 20 de fevereiro de 2011, inicio a fase de preparação para a consagração à Virgem Santíssima pelo método de S. Luís Maria Grignion de Montfort. Começo hoje os doze dias preliminares que são no intuito de esvaziar-me do espírito do mundo. Não sei bem como fazer isto, mas, a par das orações que o santo recomenda nesta primeira parte, pedirei a Deus, pelas mãos da Virgem Maria, que me conceda esta graça.

Sobretudo, é uma honra pertencer ao seleto grupo destes escravos de Jesus em Maria, ainda que a seriedade desta consagração, contrastada com a evidência da minha fraqueza, me deixe um pouco receoso. Mas, me abandonarei aos cuidados maternos desta Soberana, imitando servilmente o seu bendito "Faça-se" que, então, foi suficiente para gerar um Homem-Deus. Que a partir deste meu "faça-se" que é o mesmo que dizer "serviam", a Virgem Maria, meu modelo e minha via, me transforme na Sabedoria encarnada que é o Cristo.

Ecce Ancilla Domini
Fiat Mihi Secundum Verbum Tuum

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

The adventure has begun!


É hoje que tem início a aventura. Depois de quase dois anos de preparação, lá vou eu voltando para a Universidade. Por esta semana, parece que vou poder instalar-me na residência da UFAL e, a partir da próxima, espero que a casa de aluguel na qual ficarei com outros amigos esteja, já, acertada.

Não sei bem como ou o que comerei por lá. Está tudo ainda muito indefinido, mas lá irei eu. Este é o tempo de enfrentamento. Não importa que se sofra um pouco. Dizia eu, dias atrás, que esperava que fosse este um período espartano. Pois bem! Os soldados em Esparta, com certeza, não foram isentos de sofrimento. Aliás, isto repercutirá, espero que beneficamente, na minha vida espiritual. De um lado, me dificultará a frequência dos Sacramentos, mas de outro, me ajudará a forjar o caráter e estabelecerá, como diz a Escritura, a minha mesa à vista dos inimigos, rs...

Sobre esta perspectiva do combate, dizia o Bruce Lee mais ou menos o que segue: "distingue-se o lutador experiente por não ficar tenso numa luta. Na verdade, ainda que seja um combate de vida ou morte, deve-se tratar aquilo como se não fosse nada demais, nada de especial." A idéia é dele; o modo como dispus é meu. Muitos tenderiam a ler este enunciado e discordar dele, no ato. Eu, porém, o entendo e concordo. É preciso adquirir esta neutralidade, esta isenção de paixão, para aumentar a eficiência até mesmo no combate.

Peço a Nosso Senhor que me dê, de forma redobrada, a virtude da Fortaleza. A solidão, no exílio, é natural. Isto faz que amadureçamos e deve fazer arder o nosso amor por Deus. Peço, porém, a Nosso Senhor que, se for de Sua vontade, conceda-me fazer amigos, pois são eles que suavizam o caminho e sustentam os braços cansados quando já consideram a estrada de volta.

Peço aos santos do Céu, que sabem como os estimo, que intercedam por mim. Sta Catarina de Sena, que ordenou até mesmo a senhores bispos que se tornassem homens, peça a Deus que me faça ser um homem íntegro e forte. Há frescuras que eu deveria ter deixado há tempo. Esta é, então, a hora. Ajudem-me os céus!

Virgem Maria, seja o meu conforto; com a tua ternura, refrigere-me a alma. Esteja sempre comigo e irei adiante. Nestes dias em que me preparo para ser teu escravo perpétuo, cuide, já, de mim.

Enfim, obrigado, meu Senhor, por esta oportunidade. Louvado sejas para sempre! Conceda-me sempre pugnar em vosso favor!

Fábio.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Beleza divina


A beleza divina, infinita em plenitude, é algo que nós não podemos sequer imaginar. Toda a beleza existente nas criaturas é, mesmo, uma participação daquela beleza, mas, Deus transcende estas belezas participadas infinitamente a ponto de não ser parecido com elas.

É preciso muita delicadeza para contemplar a beleza divina. Dizia Plotino que, a menos que os olhos humanos se transformem em sol, eles não poderão contemplar dignamente a maior estrela da nossa via láctea. Do mesmo modo, somente se nos tornarmos de algum modo semelhantes a Deus é que poderemos apreciar algo desta beleza sublime que é Ele.

O mundo, embotado em seus vícios e em sua sujeira, esqueceu de Deus e cegou-se à Sua luz. Mas o Sangue adorável de Cristo cura a nossa cegueira e nos permite vislumbrar algo daquelas paragens, daquela beleza que, uma vez contemplada, nos extasiará de amor.

Por vezes, as criaturas, alguma música, alguma coisa torna-se como uma janela por onde, de repente, nos apercebemos de algo daquela luz sutil. E, por um átimo em que somos contemplativos, o nosso coração parece retomar sua saúde, uma saúde que não suspeitávamos que tivéssemos, e nos vemos abrasados por algo que, embora possamos nomear, é-nos, porém, indefinido, como uma luz obscura, como uma beleza escondida que fulgiu por mínimo segundo e que a nossa alma, eternamente à espera, naturalmente abraçou e suspirou.

Ahh... Se soubéssemos...
Não percamos a oportunidade de contemplar a Deus no céu. Tudo diante disso é nada...

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Vou caminhando...


Hoje acordei relativamente cedo em comparação com os outros dias. Imprimi uns currículos e lá fui eu, nas escolas particulares, mendigar o espaço de uma sala de aula e um salário no fim do mês. No próximo dia 14, estarei voltando à Faculdade e me vi na necessidade urgente de ter um trabalho. Fiquei desempregado recentemente e estou ainda nesta fase de transição, como num vácuo entre dois espaços.

Mas eu me vi, hoje de novo, muito desajeitado. A gente tem o hábito de fazer todo tipo de previsão e, em geral, a gente erra, porque, muito frequentemente, é o medo que as dita. Pra outros, são os desejos afoitos. Num caso e noutro, a objetividade é pouca e geralmente o que se tem, no ato, é bem diverso do que se imaginara. Entregar currículos não tem nada demais, muito embora eu não soubesse bem o que fazer. rs...

Mas os entreguei e foi muito tranquilo. Outra coisa que me vinha incomodando era o fato de eu ver uma intensa atividade por parte de todo mundo ao redor, enquanto eu passava os dias no que bem se poderia chamar de inércia ou ócio ou algo assim. E contemplando isso, me dava uma espécie de náusea...

Me vejo, às vezes, meio inadequado. Não consigo acompanhar este ritmo frenético. Para mim, é bem mais fácil permanecer quieto, calmo. Mas sei como isto soa estranho pra outras pessoas. Fico a pensar se não se trata de um traço vocacional. Outras vezes, penso se isto não é uma esquiva.

Mas eu sempre tive esta tendência de ficar em casa, calado, de manter-me quieto, sem muito alarde. Vez ou outra, tentei fazer-me igual aos circundantes e o que obtive foi somente um caricato infeliz. Dir-se-ia que sou, naturalmente, um contemplativo (não exatamente no sentido monástico..rs) e isto me coloca numa posição desconfortável neste mundo hodierno, pois sujeitos assim são, muito facilmente, mal interpretados e apontados como aproveitadores ou seres obscuros.

Mas vou empurrando esta minha preocupação, talvez tão inútil; vou lidando com esta minha inadequação, e  vou crente de que Deus me entende, afinal, eu sou obra de Suas mãos...

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Relendo Thomas Merton e reaprendendo verdades essenciais


Como se pode perceber pelas recentes postagens neste blog, e também no do Anjos, tenho retomado a leitura do Sementes de Contemplação, do Thomas Merton. Este livro, pra mim, foi um marco; ele que me introduziu nos horizontes mais largos da literatura e da espiritualidade monástica. Dizendo assim, parece que se trata de algo muito restrito, mas não. Eu diria, então, que o livro mostra dimensões mais profundas, mais simples e mais claras - se bem que o símbolo das trevas seja corrente - da vida espiritual.

Relendo-o, agora, tenho notado muita coisa. Da primeira vez que o li, o livro foi realmente impactante, mas eu não fazia idéia de que era tão bom. O Thomas Merton, depois de uma fase de desilusão da minha parte, subiu novamente no meu conceito, pelo menos com relação a estes escritos um pouco mais antigos dele.

Paralelo a isto, estive lendo o livro dele entitulado Zen e as Aves de Rapina e, aí, embora se trate de uma exposição do zen como prática supra-cultural, não necessariamente vinculada ao budismo, o Thomas Merton parece afoito demais em defender aqueles princípios, às vezes, no mínimo estranhos e contraditórios. A defesa que se dá ali, e que não deixa de ser confortável, é que a compreensão do que seja o zen deve ser pré-racional, uma coisa bastante intuitiva, quase ao modo da abstenção de juízo da fenomenologia do Russerl.

Neste livro, o Thomas Merton parece simpático demais a teorias como, por exemplo, a de Mestre Eckhart que, como sabemos, foi uma doutrina problemática embora, óbvio, não possamos a criticar de todo. Estas condenações de conjunto geralmente se dão por parte de quem não se deu ao trabalho de ler sequer uma página do autor. Embora dêem a aparência de uma atitude consequente da análise, em geral são produto de uma credulidade ingênua na opinião de um outro comentador.

Ainda assim, eu, particularmente, considero este último livro problemático. Não o considero um livro fácil, mas posso adiantar que há problemas nele. Ainda não o terminei.

Mas, voltando ao Sementes de Contemplação, que riqueza, que profundidade! Isto só me mostra como a fidelidade às fontes cristãs, não com abstração birrenta de todo o resto, é suficiente para se alcançar grandes profundidades. Este livro acentua, ainda, a mística sanjuanista, da qual sou adepto de carteirinha, visto que tenho S. João da Cruz como um pai.

Mas basta dizer que o livro está me mostrando coisas muito interessantes; retirando alguns equívocos, reforçando aspectos essenciais de que não devo me esquivar. Recomendo-o vivamente. 

O problema é que, dentre estes livros, alguns são relativamente raros. Sei que há uma circulação bem maior do livro entitulado "Novas Sementes de Contemplação" do mesmo autor. Mas nunca cheguei a ler este, pelo que nada posso afirmar sobre ele. Mas fica a dica.

Vez ou outra, manterei fazendo algumas transcrições do livro neste blog ou no outro. É de uma riqueza imensa.

Fábio