sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O objetivo da luta espiritual


Ter um coração unificado, um coração puro, sensível e capaz de discernimento, um coração que conserva e engendra pensamentos de amor, eis o objetivo da luta espiritual. Que arte apaixonante! Preparar-se, na vigilância, para a luta, para esta luta que Rimbaud definia como "mais dura que a guerra entre os homens".

domingo, 26 de agosto de 2012

Deixar a si mesmo


"Se um homem deixou um reino ou mesmo todas as coisas e se não tiver deixado a si mesmo, não terá, na verdade, deixado nada. Se deixar a si mesmo, embora fique na honra e na riqueza ou continue a possuir o que quer que seja, o homem deixou efetivamente tudo".

Mestre Eckhart

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

"Que o teu espírito se eleve acima de tudo isso..."


"Não preste muita atenção às palavras dos homens, deixa que cada um te julgue como quiser. Não te justifiques, que isso em nada te prejudicará. Entrega tudo ao primeiro sinal de exigência, ainda que sejam as coisas mais necessárias. Não peças nada sem pedir o Meu conselho. Permite que te tirem até aquilo a que tens direito: o reconhecimento, o bom nome; que o teu espírito se eleve acima de tudo isso. E, assim, liberta de tudo, descansa junto do Meu Coração." 

(Diário de Sta. Faustina - 1685)

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Sempre Amigos - Filme


Porque a coisa mais importante do mundo é a bondade....
Porque um amigo é um tesouro escondido que não se encontra de qualquer modo...

Porque a amizade, sendo amor, é da ordem do Mistério e da Transcendência.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Sta Teresa D'Avila fala do amor fraterno perfeitamente espiritual


Poderá parecer-vos descabido, irmãs, tratar eu deste assunto. Direis que já sabeis tudo isso que vos explico. Praza ao Senhor que assim seja e que o tenhais impresso nas entranhas, como é preciso.

Se o souberdes vereis que não minto quando afirmo que o Senhor atrai ao estado de perfeição a quem possui este amor. São almas generosas, almas régias, não se contentam com amar coisa tão ruim como os nossos corpos, por formosos que sejam, por muitos encantos que tenham.

Por certo os admiram, e louvam o Criador, porém, não se detêm neles de modo a lhes ter amor pelos atrativos exteriores. Pareceria amar coisa sem valor e ocupar-se em querer bem a uma sombra. Ficariam envergonhados e não teriam condições para, sem afronta, dizer depois a Deus que o amam.

Dir-me-eis: esses tais não sabem amar, nem corresponder ao afeto que se lhes tem. Na verdade, pouco se lhes dá de serem ou não queridos.

Se algumas vezes, no primeiro momento, por inclinação natural, gostam de se sentir amados, caindo em si, vêem que é disparate, a menos que se trate de pessoas capazes de lhes beneficiar a alma com doutrina ou com oração.

Qualquer outra amizade os cansa. Percebem que nenhum bem lhes faz, antes os prejudica. Não é que se descuidem de agradecer e retribuir aos amigos com sua intercessão junto de Deus, mas deixam tudo a cargo do Senhor. É coisa que lhe diz respeito e dele procede.

Em si mesmo não vêem motivo para serem queridos e apreciados. Pensam que se alguém lhes quer bem é porque Deus os ama. Deixam a Sua Majestade o cuidado de pagar, suplicam-lhe que o faça e ficam livres, como se a coisa não fosse com eles.

E, bem considerado, quando não se trata de pessoas que nos podem ajudar a conseguir os verdadeiros bens, às vezes penso que há grande cegueira neste desejo de sermos amados.

Notai agora: quando queremos o amor de alguém, sempre temos em vista um proveito ou nosso contentamento pessoal. Ora, essas almas perfeitas já trazem tudo debaixo dos pés: bens, satisfações e prazeres que o mundo lhes pode dar. Chegaram a tal ponto que, por assim dizer, ainda que queiram, não se podem deleitar senão em Deus, ou em tratar de Deus. Sendo assim, que interesse pode haver em serem amadas?

Convencidas desta verdade, riem-se de si mesmas e do tempo em que se afligiam por não saberem se era correspondido ou não o seu afeto. É muito natural querer a paga de uma boa amizade. Mas, cobrada esta, em que consiste? Palhinhas ocas e sem peso, que o vento leva...

E mesmo quando muito nos tenham querido, que é isto que nos resta? Essas almas perfeitas pouco se importam de serem ou não queridas, a não ser, repito, para seu aproveitamento espiritual, sabendo muito bem, dada a nossa natureza, que aqueles que nos ajudam, podem se cansar.

Parecer-vos-á que essas almas não amam como nós, nem sabem amar senão a Deus? Pois eu vos digo que amam muito mais, e com maior veemência, e com amor mais proveitoso e verdadeiro: enfim é amor.

São sempre muito mais afeiçoadas a dar que a receber, até com o próprio Criador. Asseguro-vos que só este amor merece tal nome, que essas outras afeições imperfeitas lhe têm usurpado o nome.

Perguntareis também: se estes não amam o que vêem, a que se afeiçoam? Na verdade, amam o que vêem e afeiçoam-se ao que ouvem, mas só vêem o que é durável, o que é eterno. Quando amam, passam para além dos corpos, põem os olhos nas almas, e procuram se há o que amar.

Se não houver, mas encontram algum germe de virtude ou alguma boa disposição, indício de ouro naquela mina, cavam e não poupam esforço. Não há coisa difícil que de boa vontade não façam para proveito daquela pessoa, porque desejam continuar a amá-la, mas sabem perfeitamente que é impossível se ela não tiver em si virtudes divinas e grande amor de Deus.

Sem essas virtudes não a podem amar, e ainda menos com afeto duradouro, por mais que essa pessoa faça os maiores obséquios e serviços, que morra de amor e possua todos os encantos da natureza reunidos: a amizade não terá força, nem poderá consolidar-se.

Ninguém pode enganar uma alma perfeita porque ela sabe por experiência, o valor das coisas terrenas. Quando não pensam do mesmo modo poderão amar-se por muito tempo? É amor que há de acabar com a vida, pois, se um não guarda a lei divina, e por conseguinte, não ama a Deus, os seus destinos serão diferentes.

Essas almas nas quais o Senhor infundiu verdadeira sabedoria, não querem amizades que só duram o tempo da vida, não lhes dão valor. Para quem deseja gozar as coisas do mundo - prazeres, honras e riquezas - esse amor terreno será válido quando o amigo é rico e possui meios de recreação e passatempo. Mas se nada disto interessa, nenhum caso faz de tal amizade.

Quando as almas perfeitas amam a alguém, desejam ardentemente que o amigo tenha amor a Deus, para ser também amado por ele. Sabem que de outro modo o amor não é durável.

É amizade que lhes custa muito caro: não há diligência que deixem de fazer para aproveitamento da pessoa amada. Mil vidas dariam para lhe obter um pequeno benefício espiritual. Ó precioso amor, que tão fielmente imita o comandante-chefe do amor, Jesus, nosso bem!

Sta Teresa D'Avila, Caminho de Perfeição

terça-feira, 14 de agosto de 2012

O Homem, um animal que fabrica dogmas


O homem pode ser definido como um animal que fabrica dogmas. À medida que empilha doutrina sobre doutrina e conclusão sobre conclusão, ao formar algum enorme esquema filosófico e religioso, está, no único sentido legítimo de que a expressão é capaz, se tornando mais e mais humano. Ao abandonar doutrina após doutrina, num refinado ceticismo, ao recusar filiar-se a um sistema, ao dizer que superou definições, ao dizer que duvida da finalidade, quando, na própria imaginação, senta-se como Deus, não professando nenhum credo, mas contemplando todos, então está, por intermédio do mesmo processo, imergindo lentamente na indistinção dos animais errantes e da inconsciência da grama. Árvores não têm dogmas. Nabos são particularmente tolerantes.

G.K. Chesterton, Hereges

sábado, 11 de agosto de 2012

G.K. Chesterton e o Culto Contemporâneo do Eu

“Os seres humanos são felizes enquanto mantêm o poder receptivo e de reacção, em atitude de surpresa e de gratidão, em relação a algo fora do Eu. Enquanto assim forem — como sempre foi afirmado pelas maiores mentes ao longo da História —, dispõem de algo que está presente na infância e que pode ainda preservar e solidificar a adultez. 

A partir do momento em que o Eu é conscientemente sentido como algo superior a qualquer uma das qualidades exteriores que vêm ao seu encontro, ou superior a qualquer uma das aventuras que pode desfrutar, surge então nele uma espécie de previamente determinado enfado e desencanto auto-destrutivos que preenchem totalmente os símbolos tartáreos [infernais] de sede e de desespero. 

 — G. K. Chesterton, “The Common Man”

Fonte: Espectivas.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A Perfeita Pobreza Interior por S. João da Cruz


"Cuide de conservar o espírito de pobreza e desprezo de tudo; de outra forma, saiba V. Rev. que cairão em mil necessidades espirituais e temporais. Todas hão de contentar-se com Deus somente. Saibam que só haverão de provar e padecer as necessidades a que sujeitarem o coração: o pobre de espírito, vendo-se à míngua, está mais contente e alegre, porque pôs seu tudo em nada, em coisa alguma; e assim em tudo ele encontra largueza de coração. Feliz é esse nada, feliz esse esconderijo do coração: tem tanto poder que a tudo domina, sem nada querer sujeitar a si próprio e desfazendo-se de preocupações para poder arder em maior amor. As irmãs aproveitem-se dessas primícias de espírito que Deus concede nesse início, para retomar com muita renovação o caminho da perfeição em total humildade e desapego, interior e exterior, não com ânimo pueril, mas com vontade robusta. Sigam a mortificação e a penitência, querendo que Cristo lhes custe algo, e não sendo como os que buscam, em Deus, ou fora dele, seu próprio conforto e sossego; procurem o padecer em Deus e fora dele, por seu amor, no silêncio, na esperança e na lembrança amorosa..."

S. João da Cruz em Carta à priora do recém fundado convento de Córdoba.

Impressão de Sta Teresa ao visitar a casinha de S. João da Cruz, em Durvelo.


"Ao entrar na capela, fiquei admirada ao ver o espírito que o Senhor havia infundido ali. E não só eu, pois dois mercadores, meus amigos, que haviam vindo comigo de Medina, não faziam outra coisa senão chorar! Nunca me esqueço de uma pequena cruz de madeira sobre a pia de água benta: sobre essa cruz estava colada uma imagem de Cristo, feita de papel, que parecia suscitar mais devoção que se fosse feita de material muito bem trabalhado"

Sta Teresa de Jesus, As Fundações.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Grande verdade encerrada numa pequena frase


"Alguns pensam ter verdadeira fé sem cumprir os mandamentos. 
Outros cumprem os mandamentos e esperam o Reino como sua devida recompensa. 
Ambos estão errados." 

 (São Marcos, o Asceta)

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Hans Zimmer - Tennessee HD

Sta Teresinha fala de seus escrúpulos

No retiro para a Segunda Comunhão é que fui assaltada pela terrível doença de escrúpulos... É preciso passar por tal martírio, para o compreender. Ser-me-ia impossível dizer quanto não sofri em ano e meio... Todos os meus pensamentos e as minhas mais comezinhas atividades se tornavam para mim motivo de perturbação. Só tinha sossego, quando os contava à Maria, e isto me era muito penoso, por sentir a obrigação de lhe dizer todas as idéias extravagantes que me vinham à mente a respeito dela própria. Alijado meu fardo, desfrutava um instante de paz, mas a paz desvanecia-se como um relâmpago, e logo começava novamente meu martírio. De quanta paciência não precisava minha querida Maria, para me ouvir, sem dar mostras de nenhum aborrecimento!...

Mal chegava eu da Abadia, punha-se ela a arrumar-me os cabelos para o dia seguinte (pois, querendo agradar ao Papai, a rainhazinha andava todos os dias com os cabelos em cachinhos, para grande admiração das colegas, mormente das professoras que não tinham diante de si crianças tão bem cuidadas pelos pais). E durante a arrumação não parava de chorar, contando todos os meus escrúpulos.

Sta Teresinha de Lisieux, História de Uma Alma.

Sta Teresinha fala de sua Primeira Comunhão



Raiou, enfim, o "mais belo de todos os dias". Quão inefáveis não são as recordações que na alma me deixaram as mínimas circunstâncias dessa data do Céu!... A alegre alvorada, os respeitosos e afetuosos ósculos das mestras e das colegas maiores... O salão nobre, repleto de tufos cor de neve, com os quais cada criança se via adornada por sua vez... Acima de tudo, a entrada na Capela e a entoação matinal do lindo cântico: "O Santo Altar, que de Anjos sois rodeado!"

Não quero, contudo, descer a pormenores. Coisas há que perdem a fragrância, quando expostas ao ar. Existem pensamentos da alma que não se podem traduzir em linguagem terrena, sem perderem o sentido autêntico e celestial. São como a "pedrinha branca que se dará ao vencedor, sobre a qual está escrito um nome, que ninguém CONHECE, senão QUEM a recebe. (Ap 2,17). Ah! como foi afetuoso o primeiro ósculo de Jesus à minha alma!...

Foi um ósculo de amor. Sentia-me amada, e de minha parte dizia: "Amo-vos, entrego-me a Vós para sempre". Não houve pedidos, nem porfias, nem sacrifícios. Desde muito, Jesus e a pobre Teresinha se tinham olhado e compreendido. Naquele dia, porém, já não era um olhar, era uma fusão. Já não eram dois, Teresa desvanecera, como a gota de água que se dilui no bojo do oceano. Ficava só Jesus, era Ele o Senhor, o Rei. Teresa pedira-lhe tirasse sua liberdade, pois sua liberdade lhe fazia medo. Sentia-se tão fraca, tão frágil, que desejava permanecer para sempre unida à Força Divina!... Sua alegria era grande demais, era profunda demais, para que a pudesse represar. Não tardou em debulhar-se em deliciosas lágrimas, com grande espanto das colegas que, mais tarde, diziam entre si: "Por que será que chorou? Sentiria algo que a acabrunhasse?... Não será, antes, por não ver junto a si a própria mãe ou a irmã, que é carmelita, a quem tanto ama?" - Não compreendiam que, ao descer a um coração toda a alegria do Céu, não a pode suportar um coração banido, sem derramar lágrimas... Oh! não! A ausência de Mamãe não me contristava no dia de minha Primeira Comunhão. Não estava o Céu dentro de mim, e nele não tinha Mamãe desde muito tomado lugar? Desta forma, quando recebi a visita de Jesus, recebi também a de minha querida Mãe, que me abençoava e se regozijava com minha felicidade...

Não chorava, outrossim, a ausência de Paulina. Sem dúvida alguma, ficaria contente, se a visse ao meu lado, mas desde muito meu sacrifício estava aceito. Nessa data, meu coração se encheu só de alegria. Uni-me a ela, que irrevogavelmente se dava Àquele que tão amorosamente se dava a mim!...

Sta Teresinha de Lisieux, História de Uma Alma