"Quase todos os homens vivem num nevoeiro, perseguem objetivos imediatos que saem por um instante da bruma, esse bem que convém adquirir, aquele lugar entre os seus semelhantes, tal prazer; quando atingem um deles, surge outro da bruma, e, assim, vão como à deriva oscilando e objetivo imediato em objetivo imediato, sem uma linha de vida.
Não têm idéia clara da hierarquia dos valores. Não há um que seja o fim a que os outros se deverão ordenar. Ou, então, põem o fim num bem temporal, um Homem, uma mulher, o dinheiro, a Pátria.
E muitos estão como numa sala de espera em que não esperam nada. Estão na vida sem se terem perguntado porquê; vivem porque estão na vida; obedecem ao instinto obscuro que se agarra à vida. Mas, não têm nada a fazer dela.
Vivendo em presente, tratam de estar o melhor ou o menos mal possível. Trabalham se é necessário para viver: senão, não fazem nada. Prevêem na medida de alguns fins imediatos. Quanto à morte, evitam pensar nela e permanecem na vida porque estão como que esperando e não esperam nada.
Isto é o que provoca o tom cinzento geral da vida. A maior parte dos homens tem pouca alegria; o máximo que obtêm é uma espécie de ausência de dor sofregamente conservada. Nada mais instrutivo do que passar entre pessoas que se divertem, ver a expressão dos seus rostos e ouvir as suas reflexões.
Dizem-nos especialmente que para se divertir bem numa reunião alegre é preciso beber um bocado de maneira que a cabeça não esteja totalmente firme.
A sua vida é um torpor habitual de que só saem sob o influxo da necessidade ou da paixão.
Aliás, nada há de tão triste como ver que pouca gente é feliz. Quando, afinal, a felicidade está ao alcance da mão e à vista, na Natureza e em nós mesmos. Regnum Dei intra vos est."
Pe Jacques Leclercq