Para os mundos tradicionais, situar-se no espaço e no tempo significa respectivamente situar-se em uma cosmologia e em uma escatologia; o tempo não tem significado senão pela perfeição da origem que se trata de conservar, e em vista da explosão final que nos projeta quase sem transição aos pés de Deus. Se no tempo há às vezes desdobramentos que poderiam ser tomados por progressos se fossem isolados do conjunto - na formulação doutrinal, por exemplo, ou sobretudo na arte, a qual necessita de tempo e de experiência para amadurecer -, isto é assim não porque se considere que a tradição deve tornar-se diferente ou melhor, mas, ao contrário, porque ela quer permanecer totalmente a mesma ou 'tornar-se o que ela é', ou e outros termos: porque a humanidade tradicional quer manifestar ou exteriorizar num certo plano o que ela leva em si mesma e corre o risco de perder, este risco aumentando com o desdobramento do ciclo, o qual leva forçosamente à decadência do Juízo Final.
Trata-se, em suma, de nossa crescente fraqueza, e com ela o risco do esquecimento e da traição, que nos obrigam a exteriorizar ou a tornar explícito o que na origem estava incluído em uma perfeição interior e implícita; São Paulo não tinha necessidade nem do tomismo, nem das catedrais, pois todas as profundezas e todos os esplendores se encontravam nele mesmo e, ao redor dele, na santidade da comunidade primitiva. E isto, longe de dar razão aos iconoclastas de todo gênero, vai perfeitamente contra eles: as épocas mais ou menos tardias - e a Idade Média foi uma delas - têm necessidade de uma forma imperiosa de exteriorizações e de desdobramentos, exatamente como a água de uma fonte, a fim de não se perder ao longo do curso, precisa de um canal feito pela natureza ou pela mão do homem; e assim como o canal não transforma a água e não se supõe que o faça - pois nenhuma água é melhor do que a água da fonte -, do mesmo modo as exteriorizações e desdobramentos do patrimônio espiritual existem não para alterar este último, mas para transmiti-lo de uma maneira tão integral e eficaz quanto possível.
Frithjof Schuon, O homem no universo.