sábado, 29 de agosto de 2009

Por que amor e pobreza?

Nestas duas virtudes, vejo a perfeição da vida evangélica. Costumo dizer que elas são as duas hastes da Santa Cruz.

O amor nos torna dedicados ao objeto amado, ao mesmo tempo que nos submete a ele. A pobreza cuida de manter-nos a intenção pura, amando com gratuidade e sem interesses. De fato, a pobreza é a libertação do amor próprio, raiz de todos os vícios, como bem o definiu o Pe. Garrigou Lagrange.

Amor e pobreza estão são, de fato, atributos de Nosso Senhor que o acompanham por toda a vida. Desde o nascimento até a morte. Ainda hoje Nosso Senhor é pobre. Antes de significar alguém que nada tem, a pobreza se revela naquele que tudo dá. Portanto, não é impossível que um rico material seja pobre. Davi, que era rico, afirmava que viva na pobreza desde a mocidade. A riqueza que dificulta a entrada no Céu não é exterior, mas interior à alma, e se manifesta basicamente de duas formas: apego ao que se tem e desejo do que não se tem.

O amor age em grande intimidade com a pobreza, pois, entendido como virtude teologal, ele exige-nos retirar o afeto das coisas criadas e pô-lo em Deus somente. Feito isto, passamos a amar as coisas, não segundo os nossos gostos ou o prazer que elas nos provocam, mas segundo Deus, em gratuidade e leveza, sem apegos ou apropriações; em suma, amamos na pobreza.

Todas as virtudes me parecem estar incluídas nestas duas grandes linhas. A obediência, entendo-a como manifestação da pobreza, enquanto desapego da própria vontade. Mesmo a pobreza revela-se como consequência natural do amor correto. Isto nos ensina Nosso Senhor por S. Paulo, quando este escreve: "Quem ama cumpriu toda a lei" (Rm 13,8).

A Cruz é a máxima expressão destas duas virtudes. Revela o amor do Senhor que amou-nos ao extremo (Jo 13,1) e, ao mesmo tempo, a plenitude de Sua entrega e do Seu esvaziamento de Si mesmo. É lá onde Ele abandona até mesmo o Seu último consolo, Sua santa Mãe, e a dá para que assuma a orfandade do mundo. É a plenitude da Kenose. Este mistério é inesgotável.

Fábio Luciano

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