Na nossa vida, existe uma assimetria no tempo que se dá pela existência de momentos ou períodos qualitativamente mais significativos que outros. Assim são, por exemplo, o dia do aniversário, o dia do casamento, o tempo das férias ou a visita de um querido amigo ou parente. O momento exato representa o pico; é o auge, o êxtase. E de tão tão importante, ele acaba possuindo a faculdade de transbordar para os momentos exatamente anteriores e, de modo menos intenso, aos posteriores. Este transbordamento para trás se estende até um certo ponto e toda a área que fica assim mudada é o que se chama de espera.
A espera, embora derive do que poderíamos chamar de "presença", sendo um tipo de presença antecipada - de modo que esperar é, já, um modo de possuir o que virá - possui, não obstante, um certo brilho especial e que lhe é peculiar. A diferença entre a espera e a posse não é apenas de grau. Há uma ansiedade na primeira que não há na segunda. Elas são, portanto, diferentes, embora, como dissemos, a primeira derive da segunda.
Ponhamos, então, a nossa atenção na espera. Este seu ponto mais característico é tão interessante que comumente se diz que o que buscamos, não o buscamos pela posse, mas somente pela própria busca. Diz-se que, para alguns, o processo de conquista de um amor é mais prazeroso do que o alcance dele. Existem os aventureiros que precisam sempre estar à espera de algo. A espera, então, tem a sua importância particular. Às vezes, ela parece mais significativa do que a posse, pois ela foi o processo em que se construiu toda uma expectativa que, infelizmente, superou a realidade do objeto esperado. Além disso, às vezes a vinda do que se espera passa tão rápido que o tempo de espera lhe parece, depois, ter tido mais substância. Quando o momento aguardado vem e vai, começa um outro processo de dissolução. Se a montanha da expectativa foi crescendo gradativamente, uma vez passado o momento esperado, não apenas começa-se a descer, mas a descida é muito mais rápida e o sentimento é totalmente diverso. Antes, a expectativa, embora diferente, era de algum modo similar à posse. Agora, porém, inicia-se um processo de "resfriamento" que difere da natureza do calor daquilo que foi, antes, vivido. A dissolução é de natureza diversa da da posse.
É muito interessante notar que, quando tratamos do Cristianismo, não há esse terceiro momento aí, o da dissolução. Enquanto aqui estamos, há sempre a espera que se intensifica à medida que avançamos. Há um encontro pelo qual esperamos. É um tempo significativo e suficiente para criarmos uma grande expectativa do objeto esperado. Porém, por maior que seja tal expectativa, ela fica sempre muito aquém daquilo que é esperado. Depois da espera virá a presença. E aqui está algo belíssimo: ela não passa. Ela vem e se perpetua. Ela não cansa. Ela preserva a fome da espera, mas sem o sofrimento, e nos dá a posse do alimento, mas sem o enfado. E nunca virá a dissolução. Lá haverá o feliz e vibrante repouso. Esperemos, pois!
Vale a pena!
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