sábado, 7 de setembro de 2013

O medo



O medo é uma atitude interna de repulsa de algo em função de uma previsibilidade, ou seja, o medo não é uma resposta a um desprazer atual, mas é a antecipação de um desprazer futuro, iminente ou não. Quando ele ocorre, muda a dinâmica interior da alma, excluindo-a de seu porte natural e a põe em defensivo. Neste ato, a alma se enrijece, abandona sua espontaneidade, recorta o real focando sua possível ameaça, e interpreta todas as demais coisas em função desta sua suposta ameaça. O real, antes uno, é agora dividido e se estabelece uma assimetria entre os níveis. O objeto temido é retirado de seu contexto, motivo pelo qual a sua consideração objetiva é, de algum modo, impedida, pois ele somente adquire sentido completo justamente no contexto de que faz parte originariamente. Assim sendo, o medo gera forçosamente uma interpretação viciada do objeto temido. A alma cai, em algum grau, em ilusão e se nela acredita é como se fugisse de fantasmas inexistentes criados por ela mesma.

Essa ilusão, contudo, não precisa ser total. Ela comumente se dá em parte. Mas seu grau é diretamente proporcional à irracionalidade da sua natureza, isto é, à sua intensidade a priori. É a priori porque, sendo necessariamente antecipação, não pode provir da experiência – ao menos, não da experiência do objeto temido atualmente. Este medo pode ser repercussão de experiências anteriores, é verdade. Mas experiências anteriores, embora possam ser ditas semelhantes, não são iguais e não são a mesma que agora se teme, de modo que a correspondência entre uma e outra pode consistir em mera arbitrariedade. Outra coisa, porém, é quando a situação temida o é, não por desconforto sensível, mas por princípio racional.

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