quarta-feira, 24 de junho de 2020

Retrato e vida do artista


Por fim, chegamos a uma espécie de modelo do mundo do artista, e esse modelo é que há outros planos mais altos de realidade, sobre os quais nada podemos provar, mas dos quais originam-se nossas vidas, nosso trabalho, nossa arte. Essas esferas tentam se comunicar com as nossas. 

Quando Blake disse que a Eternidade está apaixonada pelas criações do tempo, referia-se àqueles planos de puro potencial, que não são definidos pelo tempo, lugar ou espaço, mas que anseiam dar vida às suas visões aqui, neste mundo limitado pelo tempo e pelo espaço.

O artista é o servo dessa intenção, desses anjos, dessa Musa. O inimigo do artista é o medíocre Ego, que gera Resistência, que é o dragão que guarda o ouro. É por isso que o artista tem que ser um guerreiro e, como todos os guerreiros, com o tempo os artistas adquirem modéstia e humildade. Podem alguns deles adotar uma atitude exibicionista em público. Mas sozinhos com seu trabalho são simples e naturais. Sabem que não são a origem das criações às quais dão vida. Apenas facilitam a tarefa. São apenas portadores. são os instrumentos hábeis e dispostos dos deuses e deusas a quem servem.

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Você é um escritor inato? Veio ao mundo para ser um pintor, um cientista, um apóstolo da paz? Ao final, a pergunta só pode ser respondida pela ação.

Fazer ou não fazer o trabalho.

Pode ajudar pensar dessa forma. Se você foi destinado a descobrir a cura do câncer, escrever uma sinfonia, conseguir realizar a fusão a frio e não o fizer, você não apenas causará mal a si próprio. Ou até mesmo se destruirá. Você causará mal a seus filhos. Causará mal a mim. Causará mal ao planeta. 

Você envergonha os anjos que o protegem e contraria o Todo-Poderoso, que criou você e apenas você com seus dons exclusivos, com o único objetivo de empurrar a raça humana um milímetro para a frente, em seu longo caminho de volta a Deus.

O trabalho criativo não é um ato egoísta ou um pedido de atenção por parte do ator. É uma dádiva para o mundo e para todo ser vivo que o habita. Não nos prive de sua contribuição. Dê-nos o que você possui.

Steven Pressfield, A guerra da arte

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