"Quem beber da água que eu der não terá mais sede" (Jo 4,13)
E como são reais e verdadeiras esteas palavras, saídas da boca da mesma Verdade! A alma que bebe desta água não tem mais sede de coisa alguma na terra.
Mas, das coisas do céu, ficará muito mais sedenta. É uma sede, um tormento de que mal se pode fazer idéia longínqua em comparação com a sede natural. E com que sede se deseja tal sede! É que a alma percebe todo seu alto valor.
Embora sede penosíssima e extenuante, traz consigo tal saciedade que afoga os ardores da sede humana, destruindo o afeto às coisas terrenas e dando fartura dos bens do céu.
Sta Teresa D'Avila, Doutora da Igreja, Mestra de Oração
“E acreditem, minhas filhas, para seu bem me deu o Senhor a entender um pouquinho dos bens que há na santa pobreza. (...)
A pobreza é um bem que encerra todos os bens do mundo. É uma grande soberania; afirmo que se assenhoreia de todos os bens quem nenhum caso faz de os deixar. Que caso posso fazer dos reis e dos senhores, se para isto for preciso descontentar a Deus? E o que se me dá de suas honras, se estou convencida de que para um pobre a maior honra consiste em ser verdadeiramente pobre?
Persuadida estou de que honras e dinheiro quase sempre andam juntos: a quem deseja honras não aborrece o dinheiro, e a quem ele aborrece, pouco caso faz de honras.
Entenda-se isto bem: ao que me parece, o desejo das honras anda sempre acompanhado de algum interesse de ter rendas e fortuna. No mundo raramente se honra quem é pobre. Pelo contrário, ainda que mereça ser honrado, é tido em pouco.
A verdadeira pobreza traz consigo uma dignidade que se impõe a todos. A pobreza abraçada por amor de Deus não precisa contentar a ninguém senão a ele. É coisa certíssima: não havendo necessidade de ninguém, tem muitos amigos. Tenho disto boa experiência.
Porque tanto se tem escrito sobre esta virtude, que não saberei entender, quanto mais dizer, nada mais direi para não agravá-la com meus louvores. Apenas referi o que tenho visto por experiência e confesso, fiquei tão absorvida quem nem reparei no que estava escrevendo. Mas enfim, está dito.
(...) Grandíssimo é o prêmio, e, quando outro não houvera senão cumprir o que nos aconselhou o Senhor, grande paga seria imitar em alguma coisa Sua Majestade.
(...) Como dizia Santa Clara, grandes muros são os da pobreza. Com estes e com os da humildade queria ela cercar os seus mosteiros. Com efeito, se verdadeiramente guardardes estas virtudes, ficará a honestidade e tudo mais muito melhor fortalecidos que mediante os mais suntuosos edifícios.
(...) Sua Majestade nos tenha sempre de sua mão, para que jamais nos apartemos da pobreza. Amém.