sábado, 30 de julho de 2011

Verdade, Humildade e Conhecimento Próprio


Sta Teresa D'Avila


Também acontece, assim muito de repente e de maneira que nem se sabe dizer, mostrar Deus em Si mesmo uma verdade que parece deixa obscurecidas todas as que há nas cruaturas, e muito claramente dá a entender que só Ele é a verdade que não pode mentir; e dá-se bem a entender o que diz David em um salmo, que todo o homem é mentiroso; coisa que nunca jamais se entenderia assim, ainda que se ouvisse muitas vezes, e é verdade que não pode falhar. Lembro-me de Pilatos, o muito que perguntava a Nosso Senhor, quando em Sua Paixão Lhe disse: "O que é a verdade?", e de quão pouco aqui entendemos desta suma Verdade.

Eu quisera poder dar-me melhor a entender neste caso, mas não se pode dizer. Tiremos daqui, irmãs, que para nos conformarmos com o nosso Deus e Esposo em alguma coisa, será bem que procuremos muito andar sempre nesta verdade. Não digo só que não digamos mentiras, pois nisso, glória a Deus, já vejo que tendes em grande conta nestas casas de não a dizer por coisa nenhuma, mas que andemos em verdade diante de Deus e das gentes, de quantas maneiras pudermos; em especial, não querendo que nos tenham por melhores do que somos e, em nossas obras, dando a Deus o que é Seu e a nós o que é nosso, e procurando em tudo a verdade, e assim termos em pouco este mundo que é todo mentira e falsidade e, como tal, não é perdurável.

Uma vez estava eu considerando por que razão era Nosso Senhor tão amigo desta virtude da humildade, e logo se me pôs diante - a meu parecer sem eu considerar nisso, mas de repente - isto: é porque Deus é a suma Verdade, e a humildade é andar na verdade. E é muito grande verdade não termos coisa boa de nós mesmos, senão a miséria e sermos nada; e, quem isto não entende, anda em mentira. Quem melhor o entende, mais agrada à suma Verdade, porque anda nela. Praza a Deus, irmãs, nos faça mercê de não sairmos nunca deste próprio conhecimento, amen.

Sta Teresa D'Avila, Castelo Interior

A bondade divina e a maldade humana - uso de uma comparação



Sta Teresa D'Avila

Há um tipo de visão intelectual "na qual se lhe descobre [à alma] como em Deus se vêem todas as coisas, e Ele as tem todas em Si mesmo. E é de grande proveito, porque, ainda que passa num momento, fica muito gravada, e causa grandíssima confusão; vê-se mais claramente a maldade de quando oferecemos a Deus, porque no mesmo Deus - digo, estando dentro d'Ele - fazemos grandes maldades. Quero fazer uma comparação, se acertar, para vo-lo dar a entender, porque, embora isto seja assim e o ouçamos muitas vezes, ou não reparamos nisso, ou não o queremos entender, pois não parece que seria possível sermos tão atrevidos, se se entendesse tal como é.

Façamos agora de conta que Deus é como uma morada ou palácio muito grande e formoso, e que este palácio, como digo, é o mesmo Deus. Pode porventura o pecador, para fazer suas maldades, apartar-se deste palácio? Não, por certo; senão que, dentro do mesmo palácio, que é o mesmo Deus, passam-se as abominações e desonestidades e maldades que fazemos nós os pecadores. Oh! coisa temerosa e digna de grande consideração e muito proveitosa para os que sabemos pouco que não acabamos de entender estas verdades e não seria possível ter atrevimento tão desatinado! Consideremos, irmãs, a grande misericórdia e sofrimento de Deus em não nos aniquilar ali imediatamente; e demos-Lhe muitas graças, e tenhamos vergonha de nos sentirmos por cousa que se faça ou diga contra nós; que a maior maldade do mundo é ver que Deus Nosso Criador sofre tamanhas dentro de Si, mesmo às Suas criaturas, e que nós sintamos alguma vez uma única palavra que se deiga em nossa ausência, e talvez sem má intenção.

Oh! miséria humana! Quando, mas quando, filhas, imitaremos em alguma coisa este grande Deus? Oh! e não se nos vá afigurar que já fazemos algo em sofrer injúrias! Mas passemos, de muito boa vontade, por tudo  amemos a quem no-las faz, pois este grande Deus não deixou de nos amar a nós, ainda que O tenhamos ofendido muito, e assim Ele tem razão de sobejo em querer que todos perdoem, por mais agravos que lhes façam.

Sta Teresa D'Avila, Castelo Interior

Cinco razões pelas quais não se devem pedir sinais sobrenaturais na oração



Sta Teresa D'Avila, Doutora da Igreja, Mestra de Oração


A primeira, porque é falta de humildade querer que se vos dê o que nunca haveis merecido, e assim creio que não terá muita quem o desejar; porque, assim como um pequeno lavrador está longe de desejar ser rei, parecendo-lhe impossível, porque não o merece, assim também o está o humilde de coisas semelhantes; e creio eu que estas coisas nunca se darão, porque, primeiro que faça estas mercês, dá o Senhor um grande conhecimento próprio. Pois, como entenderá, com verdade, que se lhe faz uma muito grande mercê em não estar já no inferno, quem tem tais pensamentos?

A segunda, porque é muito certo ser enganado, ou estar muito em perigo de o ser; porque o demônio não precisa mais do que ver uma pequena porta aberta para fazer mil trapalhices.

A terceira; que é a mesma imaginação, quando há um grande desejo, faz entender à própria pessoa que ela vê e ouve aquilo que deseja, tal como os que andam com vontade de uma coisa durante o dia e pensando muito nela, lhes acontece virem a sonhar com ela de noite.

A quarta, é muito grande atrevimento querer eu escolher caminho, não sabendo qual o melhor, mas sim deixar ao Senhor, que me conhece, que me leve por aquele que me convém, para que em tudo faça a Sua vontade.

A quinta, pensais que são poucos os trabalhos que parecem aqueles a quem o Senhor faz estas mercês? Não, são grandíssimos e de muitas maneiras. E sabeis vós se seríeis pessoas para os sofrer? A sexta, porque talvez por aí mesmo por onde pensais ganhar, perdereis, como Saul, por ser rei.

Enfim, irmãs, além destas há outras; e crede-me que, o mais seguro, é não querer senão o que Deus quer, pois nos conhece e ama mais do que nós mesmos. Ponhamo-nos em Suas mãos, para que seja feita a Sua vontade em nós; e não poderemos errar se, com determinada vontade, nos ficamos sempre nisto.

Sta Teresa D'Avila, Castelo Interior

sexta-feira, 29 de julho de 2011

A Escuridão me Basta - Thomas Merton

Eu creio já ter posto este video por aqui, mas ponho-o de novo. Nele, o Monge Trapista Pe. Luis (Thomas Merton) nos brinda com um belo poema de matiz sanjuanista.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

"O tolo" e Deus


“Jamais ocorreu a nenhum escritor do Velho Testamento provar ou argumentar a favor da existência de Deus”, diz o Dr. James Hastings em A Dictionary of the Bible (Dicionário da Bíblia). “Não é da índole do mundo antigo em geral negar a existência de Deus ou usar argumentos para provar sua existência. A crença em Deus era natural para a mente humana e comum a todos os homens.” Isso não significa, naturalmente, que todos os homens da época temiam a Deus. Longe disso. Tanto o Salmo 14,1 como o 53,1 mencionam “o insensato”, ou, conforme a A Bíblia na Linguagem de Hoje, ‘o tolo’, que diz no seu coração: “Não há Deus.”

Que tipo de pessoa é esse tolo, o homem que nega a existência de Deus? Ele não é ignorante em sentido intelectual. Antes, a palavra hebraica na‧vál indica deficiência moral. O professor S. R. Driver, em suas notas no The Parallel Psalter (O Saltério Paralelo), diz que a falha não está na “fraqueza de raciocínio, mas na insensibilidade moral e religiosa, na completa ausência de sensatez ou percepção”.O salmista passa a descrever a decadência moral resultante de tal atitude: “Agiram ruinosamente, agiram de modo detestável na sua ação. Não há quem faça o bem.” (Salmo 14,1) O Dr. Hastings resume isso da seguinte forma: “Confiando nesta ausência de Deus do mundo e na impunidade, os homens se tornam corruptos e fazem coisas abomináveis.” Eles abraçam abertamente princípios contrários às leis divinas e desconsideram a pessoa de Deus, a quem não têm desejo nenhum de prestar contas. Mas tal modo de pensar é tão tolo e insensato hoje como era quando o salmista escreveu essas palavras há mais de 3.000 anos.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Buscando meu Amor, meu Amado...


"Buscando meu Amor, meu Amado,
vou por montes e vales sem temer mil perigos.
Nem flores colherei no caminho,
pois segui-Lo é preciso sem deter-me ou parar."

S. João da Cruz

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Grupo Libera - Locus Iste

Que farsa é tudo o que há no mundo...


Oh! irmãs minhas, que não é nada o que deixamos, nem nada o que fazemos, nem quanto pudermos fazer por um Deus que assim se comunica a um vermezinho! E, se temos esperança de ainda nesta vida gozar deste bem, que fazemos e em que nos detemos? Que coisa é bastante para que deixemos um só momento de buscar a este Senhor, como o fazia a Esposa, por bairros e praças? Oh! e que farsa é tudo o que há no mundo, se não nos leva e ajuda a isto, ainda mesmo que durassem para sempre os seus deleites, riquezas e gozos, todos quantos se puderemo imaginar, que tudo é asco e lixo, comparado a estes tesouros que se hão-de gozar sem fim! Mesmo estes são nada em comparação de ter por nosso o Senhor de todos os tesouros do Céu e da terra.

Oh cegueira humana! Até quando, até quando estaremos até que nos caia esta terra de nossos olhos? Pois, embora entre nós não parece ser tanta que nos cegue de todo, vejo uns argueirinhos, umas manchazinhas que, se os deixamos crescer, bastarão para nos fazer grande dano; senão que, por amor de Deus, irmãs, aproveitemo-nos destas faltas para conhecer a nossa miséria e elas nos dêem melhor vista, como a deu o lodo ao cego a quem sarou o nosso Esposo. E assim, vendo-nos tão imperfeitas, cresça mais em nós o suplicar-Lhe que tire bens das nossas misérias, para em tudo contentarmos a Sua Majestade.

Sta Teresa D'Avila, Castelo Interior.

domingo, 24 de julho de 2011

Monges Trapistas em Oração



Era noite negra; à altura de um primeiro andar, um olho de boi aberto na parede da igreja furava as trevas com uma lua vermelha.

Durtal deu algumas tragadas num cigarro, depois se dirigiu à capela. Girou devagar a maçaneta da porta; o vestíbulo onde penetrava era escuro, mas a rotunda, embora vazia, estava iluminada por diversas lamparinas.

Deu um passo, fez o sinal da cruz e recuou, pois acabava de topar com um corpo; olhou a seus pés.

Estava entrando num campo de batalha.

Pelo chão, formas humanas deitadas em atitudes de combatentes metralhados; umas de bruços, outras de joelhos; estas, agachadas com as mãos no chão, como atingidas nas costas, aquelas estendidas com os dedos crispados sobre o peito, e aqueloutras segurando a cabeça ou estendendo os braços.

E desses grupos de agonizantes não se elevava nenhum gemido, nenhum lamento.

Durtal contemplava, estupefato, esse massacre de monges; e logo ficou boquiaberto. Uma faixa de luz caía de uma lamparina que o velho sacristão acabava de deslocar na rotunda e, atravessando o pórtico, iluminava um monge de joelhos diante do altar dedicado à Virgem.

Era um velhinho de mais de oitenta anos; estava imóvel como uma estátua, de olhos fixos, debruçado num tal ímpeto de adoração, que todas as figuras extasiadas dos Primitivos pareciam, perto da dele, forçadas e frias.

A máscara era, porém, vulgar; o crânio rapado, sem coroa, queimado por todos os sóis e por todas as chuvas, tinha cor de tijolo; os olhos velados, cobertos de belida pela idade; o rosto vincado, enrugado, costurado como um velho buxo, se fincava num matagal de pelos brancos, e o nariz um pouco achatado acabava de tornar particularmente comum o conjunto desse rosto.

E saía, não dos olhos, não da boca, mas de toda parte e de parte nenhuma, uma espécie de angelidade que se irradiava sobre essa cabeça, que envolvia todo aquele pobre corpo curvado num monte de trapos.

Naquele velhinho, a alma nem se dava ao trabalho de reformar a fisionomia, de enobrecê-la; contentava-se em aniquilá-la, radiante; era, por assim dizer, o nimbo dos velhos santos, que não mais permanecia ao redor da cabeça, mas se estendia sobre todos os seus traços, banhando, empalidecido, quase invisível, todo o seu ser.

E ele não via nem ouvia nada; monges arrastavam-se de joelhos, vinham para se aquecer, para se abrigar junto dele e ele não se mexia, mudo e surdo, rígido o bastante para que fosse possível crer que estivesse morto, se, por um momento, o lábio inferior não se tivesse mexido, erguendo nesse movimento sua grande barba.

O amanhecer embranqueceu os vitrais e, na escuridão que começava a se dissipar, os outros irmãos se mostraram por sua vez a Durtal; todos esses feridos do amor divino rezavam fervorosamente, saltando para fora de si mesmos, sem ruído, diante do altar. Havia alguns, muito jovens, de joelhos e de tronco erguido, outros, de pupilas em êxtase, dobrados para trás e sentados sobre os calcanhares, outros ainda percorriam o caminho da cruz e muitas vezes se colocavam uns diante dos outros, cara a cara e se olhavam sem se ver, com olhos de cegos.

E entre esses conversos, alguns padres, enterrados em suas grandes cogulas brancas, jaziam, prosternados, beijavam o chão.

Ah! Rezar, rezar como esses monges, exclamou Durtal.

Sentia o seu infeliz ser se distender; nessa atmosfera de santidade, ele se soltou e se agachou sobre as lajes, pedindo humildemente perdão a Deus por sujar com sua presença a pureza daquele lugar.

E rezou demoradamente, abrindo-se pela primeira vez, reconhecendo-se tão indigno, tão vil, que não conseguia entender como, apesar de sua misericórdia, o Senhor o tolerava no pequeno círculo de seus eleitos; ele se examinou, viu claro, confessou ser inferior ao último desses conversos que talvez sequer soubesse ler um livro, compreendeu que a cultura do espírito não era nada e a cultura da alma tudo, e pouco a pouco, sem se dar conta, pensando apenas em balbuciar ações de graças, desapareceu da capela, com a alma levada pela dos outros, fora do mundo, longe de seu cemitério, longe de seu corpo.

(Joris-Karl Huysmans, En route, Paris, Plon, pp. 210-212)

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Angel - Uma bela música

"Busquem a Deus, pois Ele já nos buscou"


"Busquem a Deus, pois Ele já nos buscou. Só precisamos dar o nosso sim, como a Virgem Maria. E deste sim, deste único sim, depende a nossa felicidade"

Ir. Kelly Patrícia

A conversão católica não é malandragem


No sítio "Mídia Sem Máscara", acompanhando esta polêmica entre o Prof. Olavo de Carvalho e o Prof. Carlos Nougué, fui lendo os comentários, e encontrei este, proveniente de uma certa Adriana, e que expressa com termos vivos a veracidade de uma conversão católica. Escreve ela em resposta a uma outra lá:

"Você demonstra não fazer idéia, não ter noção do que implica o processo de conversão católica. Seu desrespeito é apenas consequência de sua ignorância sobre este processo que exige crítica profunda a si mesmo, às condutas de toda uma vida.

Quando agradecemos a alguém, no caso aqui ao Olavo de Carvalho, pelo incentivo à nossa conversão, significa dizer que através da força de suas exposições, iniciamos um processo profundo de autocrítica e revisão global de nossas almas. Muita gente passa anos na cadeira de um analista apenas adquirindo ferramentas de desculpabilização de suas responsabilidades. Quando aparece alguém que é capaz de nos colocar diante de nós mesmos e encarar nossa feiúra, ahh, sem dúvida temos o dever de reconhecer um feito como esse!

Então, conversão católica é coisa pra gente corajosa, honesta e sinceramente ocupada com o bem do outro. Não é seita, não é malandragem, não é empreitada para quem tem pouco amor no coração, nem tão pouco para quem tem preguiça. Muito menos também, para quem só enxerga o mundo através de um olhar sem profundidade. A busca pela superação dos desafios internos e pela razão das coisas são requisitos necessários para esta tomada de decisão pessoal e única."

Disponível aqui

E é isso aí mesmo. Acrescento somente que tudo isto só se torna possível porque Nosso Senhor vai conosco. Sem Ele, nada podemos.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Conhecer a Jesus só é possível se Ele se revela


"Buscai o Senhor enquanto Ele se deixa encontrar" (Is 55,6)

Os que criticam a Nosso Senhor e lhe negam total adesão da vida, afirmando que talvez Ele não queira isso, pecam sempre por simplismo, seja já na interpretação da religião, seja também na suposição de conhecê-Lo bem, assim, simplesmente olhando de longe e fazendo breves meditações a respeito. Porém, Cristo não é um objeto inerte e pequeno que se consegue abarcar assim, de uma olhadela. É, primeiramente, Alguém que Se revela, quando encontra, no que O busca, as devidas disposições que são sempre o esvaziamento das próprias reservas e subtefúrgios para não aderir, como a radical sede de verdade. Depois, Nosso Senhor é inesgotável. Toda uma vida não será suficiente para conhecê-Lo em absoluto. Podemos, porém, começar a fazê-lo e, então, encontraremos tanta riqueza como sequer supúnhamos. Se dizemos que algo deve ser muito grande para sinceramente nos satisfazer de todo, Nosso Senhor torna nossa ressalva risível, porque Ele superabunda absolutamente e infinitamente o que esperamos que seja e, como se não bastasse, embora digamos que nossas exigências são altas, é Ele quem nos alarga ainda mais a alma para que possamos, sempre um pouco mais, fruir de Sua Majestade, aumentando-nos, para tal, a nossa capacidade de autêntica alegria.

Para conhecer a Nosso Senhor, não basta olhá-Lo, assim, de longe, e ensaiar uma tímida interpretação sobre o que Ele seja ou sobre o que d'Ele pensam os religiosos e espirituais. Querer conhecê-Lo sem abandonar-se e, portanto, sem expôr-se, é perpetuar a nossa desconfiança e manter os estreitos limites do nosso baixo horizonte. Se no amor humano, exige-se a total entrega, muito mais o será no amor divino. 

Para conhecê-Lo é preciso se deter n'Ele com a alma inteira, e passar tempo, e esfomear-se. Ele é como o Tesouro Escondido que não se revela se o homem não sai de sua casa. É preciso cavar, e é preciso cavar antes de que seja visto. Mas é como diz o Evangelho: "Se o homem o encontra, ainda que não tenha mais nada, é plenamente feliz". Outros olharão para este homem e o criticarão, rindo da sua pretensão de ter encontrado a Única pérola que realmente buscava. E dirão que são felizes com bijouterias.

É indigno buscar a Nosso Senhor sem abandonar, no processo, a si mesmo. 
"Aquele que põe a mão no arado e olha pra trás, não é digno de Mim".

Jesus é grande demais para caber num coração cheio de reservas. E, no entanto, é infinitamente paciente, e espera...



A Vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa Cruz sacrossanta descobertos:
Que para receber-me, estais abertos,
E, para não castigar-me, estais cravados.

A vós, olhos divinos eclipsados,
De tanto sangue e lágrimas cobertos,
Que, para perdoar-me, estais despertos.
E, por não devassar-me, estais fechados.

A vós, pregados pés, por não fugir-me,
A vós, cabeça baixa, por chamar-me,
A vós, sangue vertido, para ungir-me;

A vós, lado patente, quero unir-me;
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme!

(Da "Floresta" do Pe. Manuel Bernardes)

Poesia tirada do blog Zelo Zelatus Sum

A religiosa medíocre


"O estado de uma religiosa medíocre me parece mais lamentável do que o de um malfeitor. O malfeitor pode converter-se e nasce pela segunda vez. A religiosa medíocre não poderá renascer. Nasceu e perdeu o nascimento. Salvo um milagre, será sempre um aborto"

Diálogo das Carmelitas.

domingo, 10 de julho de 2011

Francisco e a Pobreza


Enquanto viveu neste vale de lágrimas, o santo pai desprezou as míseras riquezas dos filhos dos homens e, ambicionando a mais alta glória, dedicou-se de todo coração à pobreza.

Vendo que era estimada pelo Filho de Deus e estava sendo desprezada por toda a terra, quis desposá-la com um amor eterno. Apaixonado por sua beleza e querendo unir-se mais estreitamente a sua esposa, como se fossem dois em um só espírito, abandonou não só pai e mãe mas tudo. Abraçou-a por isso em ternos abraços e não quis deixar de ser seu esposo em nenhum momento. Dizia a seus filhos que ela era o caminho da perfeição, o penhor e a garantia das riquezas eternas.

Jamais houve alguém tão ambicioso de ouro quanto ele de pobreza, e nunca houve guarda mais cuidadoso de um tesouro do que ele o foi da pérola evangélica. O que mais o ofendia era ver, dentro ou fora de casa, alguma coisa nos frades que fosse contrária à pobreza. Desde sua entrada na Ordem até à morte, sua única riqueza foram uma túnica, o cordão e as calças. Sua roupa pobre mostrava que riquezas estava amontoando. Por isso, alegre, seguro e livre para correr, tinha o prazer de ter trocado as riquezas que perecem pelo cêntuplo.  

Tomás de Celano, Segunda Vida de São Francisco, A Pobreza, Cap. 25. Louvor à Pobreza

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Belíssimo! Que todos O adorem!



"Uma praça na cidade de Preston, Inglaterra; um país dos menos católicos do mundo ocidental; um continente que, embora tenha sido concebido e viabilizado pela Igreja, se descristianiza (e se islamiza) a grande velocidade. O Santíssimo é erguido por um Capuchinho Fransciscano da Consolação e o que se segue é momentoso. Assistam o vídeo, com legendas em português"

Blog do Angueth

Poesia que provocou um êxtase em S. João da Cruz


"Quem nunca provou de amarguras
No humano vale da dor
Nada sabe de doçuras
Desconhece o que é o amor.
Amarguras são o manto
Dos que amam com ardor"

Estrofe cantada por uma religiosa.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Sobre verdades e amores

Isto não foi fantasia e não pode ser banalizado sem que se caia numa terrível ofensa...
Ofender a quem eu amo é ofender a mim. Se com os amigos e a família é assim, quanto mais com Ele...

Nós sempre agiremos conforme a nossa compreensão das coisas. Uma coisa é o entender - próprio do intelecto. Outra coisa é o agir - próprio da vontade. Esta é posterior ao intelecto. Este ilumina a vontade. O intelecto entende. A vontade quer e ama. Amamos aquilo que entendemos ser um bem. O nosso entendimento estará correto se aquilo que consideramos bem for, de fato, bem. Isto pressupõe a existência objetiva do bem.

Mais uma vez, bem e verdade se relacionam. No entanto, como pretender defender uma moral objetiva se o total nos escapa? Há dois pontos: De fato, nós não conhecemos o todo, mas isto não implica em relativizar o conhecimento da parte que temos. Eu não conheço todos os materiais existentes no universo, mas isto não me impossibilita de dizer, com absoluta certeza, que a mesa da minha casa é de madeira.

Em segundo lugar, a aparente petulância da religião em se pretender a defensora e representante de uma moral absoluta se justifica perfeitamente a partir do momento que consideramos a real possibilidade de um Deus feito homem que, como tal, nos ensinou o que é ser bom e prometeu seguir formando isto que Ele chamou de Sua Igreja. É justo que Deus conheça a verdade última das coisas, sobretudo se Ele disse de Si mesmo: "Eu sou a Verdade". O que este Deus disser, se Ele é Deus, será absolutamente verdadeiro, simplesmente porque tudo quanto há teve sua origem n'Ele.

A pretensão está, ao contrário, no fato de que, ainda considerando a realidade desta presença no mundo, o homem, limitado, se opõe ao que este Deus diz, negando-se a observar a perfeita razoabilidade de tudo quanto Ele mostrou. Se O entendêssemos, agiríamos segundo o Seu coração. Propriamente isto é a santidade. Não à toa se diz de Cristo que Ele é a Verdade (objeto do intelecto) e o Amor (objeto da vontade). Estes dois - Intelecto e Vontade - são as potências da alma humana e o que precisamente fazem do homem imagem e semelhança de Deus. Isto significa que é o homem inteiro que deve aderir a Deus.

Tocamos no ponto do amor. Convém, então, sabermos o que isto significa. Todas as virtudes geralmente são imitadas por um vício que tenta se passar por elas, assim como o demônio vive querendo macaquear Deus. Assim, a humildade pode ser confundida com um orgulho disfarçado ou com a pusilanimidade, que é um tipo de fraqueza; a estudiosidade pode ser imitada pela curiosidade, etc. Também o amor tem a sua bijouteria: em geral, quem tenta se passar por ele é o respeito humano, mas há também outros concorrentes, como a afetação, a impureza, etc.

O amor legítimo é sempre doação. É um sair de si em busca de um bem para o outro. Só que este bem não é uma idéia subjetiva, mas um bem real. Acontece que, por vezes, este bem é imediatamente desconfortável. A gente vê isso quando uma mãe leva um filho para tomar uma injeção. Aquilo dói e aos olhos do infante parece uma crueldade. Porém o amor da mãe não lhe permite falsear o bem, e isto é a característica do amor legítimo. Ele se expõe, faz pouco da sua imagem, corre o risco de não ser compreendido e de ser chutado, desde que um bem real se dê no outro. Aqueles que, ao contrário, têm como fim de tudo o que fazem apenas agradar a sensibilidade da outra parte, não amam porque não estão comprometidos com um bem real, mas só com um prazer superficial e egóico e com a preservação da própria imagem. Se uma pessoa comete um erro e um suposto amigo lhe elogia por isso, este não lhe fará nenhum bem. Isto se chama respeito humano. É como quando alguém está tendo uma crise de abstinência por causa de uma droga e outra pessoa, com o pretexto de que o ama, lhe traz o que ele tanto desejava. Isto não é amizade, não é amor.

O amor não falseia, porque ele não existe na mentira. O amor só pode se desenvolver e respirar na verdade. É por isto que, por vezes, ele parece ser rude e grave. O amor preocupa-se, o amor denuncia. Já dizia S. Paulo: "rejubila-se com a verdade e sofre com a mentira", ainda que a verdade seja, a princípio, uma espécie de cruz. Mas como já dizia Nosso Senhor, é pela morte da semente que temos o milagre do fruto. É quando a dor eficaz da Cruz é assumida que a vida absolutamente maior da Ressurreição é concedida.

Nunca me tenham por mal. Eu ajo segundo entendo, como qualquer um, mas busco que estes atos tenham por base o amor. Eu amo, ainda que não costume ficar dizendo isso, e entendo que amar é querer o bem, e entendo que não há bem sem Deus. Eu trocaria de bom grado todo e qualquer suposto mérito que eu possa ter acumulado nas minhas orações com relação a uma pessoa, se eu visse efetivada a conversão desta vida. Amar é querer Deus para o outro. E isso eu quero. E não seria cristão se não quisesse.

"Todo aquele que vem a mim, eu o levarei a Ele..." Sta Edith Stein.

"O amor quando já crescido não pode ocioso ficar, nem o forte sem lutar por amor de seu querido" Sto André

terça-feira, 5 de julho de 2011

Sobre o problema da moral


Esta é uma questão inerente ao ser humano e que permeia toda a sua vida. Ela surge com particular clareza a partir do momento em que o homem é estudado como essência. Se, no entanto, perde-se isto de vista e adere-se à perspectiva histórica, como fez Freud, é claro que o método consistirá numa hermenêutica fenomênica, isto é, numa observação do que se constata pela experiência mais superficial, caindo num determinismo nada interessante.

O problema da moral, no entanto, é muito mais profundo. Na verdade, a sua existência está necessariamente ligada à existência de Deus, pois Ele é, como dizia Descartes, a garantia de que o mundo é racional e, portanto, de que os valores são objetivos. Se tiramos Deus da conversa, temos, já, um primeiro problema: faremos a racionalidade descender da irracionalidade, o que é uma aporia. Depois, não havendo um princípio metafísico do bem, este seria visto apenas como um cálculo para fins utilitaristas. Uma pessoa seria "boa" porque isto lhe permite receber uma retribuição da bondade. Este tipo de moral é um canto ao egoísmo.

Para que a moral exista, é necessário que o homem seja livre e, portanto, tenha certa independência do corpo, isto é, tenha uma alma imaterial. A existência objetiva de uma moral leva tão irrefutavelmente à constatação da espiritualidade da alma e, portanto, da existência de Deus, que Kant os admite justamente a partir deste imperativo que ele reconhece em todo homem. Se o ser humano se reduzisse à materialidade, as suas ações seriam necessariamente dependentes dos processos químico-físicos que nele acontecem e, portanto, teríamos anulado a possibilidade de qualquer moral. Um criminoso não seria culpado, nem um inocente mereceria qualquer mérito. Só é possível ser bom se se é livre e só se é livre se há espiritualidade.

Aí alguém olha para o mundo e afirma que há, ao contrário do que estamos defendendo, diversos tipos de moral, como dizia Nietzsche, e que isto demonstra que o bem, na verdade, é relativo; seria algo puramente subjetivo. No entanto, peca-se, nesta interpretação, justamente por ater-se ao nível fenomênico. É interessante notar que somente as manifestações do bem é que são diferentes. No conceito, em geral, há consenso. Há pormenores, claro, que divergem, mas isto se deve ao fato de que também a moral é um campo que pode ser mais ou menos aprofundado.

No entanto, todos os seres humanos estamos imersos dentro de uma moralidade objetiva. E todos temos dentro da alma algo que busca o bem. O nosso conhecimento do bem pode ser variado, mas a existência do bem é uma só. Estamos certos quando a nossa noção de bem corresponde àquilo que o bem é. Portanto, a idéia de bem está intimamente ligada com a idéia de verdade. Quando, ao contrário, nos equivocamos na nossa idéia de bem, terminamos por fazer algum mal, e todos que fazem o mal, em geral somente o fazem porque buscam, nele, uma aparência de bem.

A pessoa que bebe, por exemplo, busca nisso um bem: seja o prazer, seja o esquecimento dos problemas, seja a aquisição de coragem pra algo. Até mesmo a pessoa que se suicida visa, com isto, algum suposto bem: o fim dos seus tormentos. Mesmo aquelas pessoas que criticam toda teoria moral, se o fazem, é porque consideram que, ao fazê-lo, estão fazendo um bem, isto é, estão provocando naqueles que os lêem ou escutam um contato com uma "verdade mais verdadeira": "se não há moral objetiva, é melhor que os outros saibam". Neste "é melhor" está contida a idéia do "mais bom", como um adensamento de bem. 

Simplesmente não se pode fugir da moral, porque ela é intrínseca à natureza humana.

Com base nisto, é com contragosto que lemos coisas assim, o que me inspirou também o texto anterior:

"Percebo que existem pessoas que, ao falarem em nome de sua fé, seja ela qual for, acreditam ter o patrimônio do bem, da ética e da verdade. Às vezes, até do “amor”. Como alguém já disse, muita gente tortura os números para que eles digam aquilo que pode comprovar a sua tese. Lendo, escutando e assistindo à fala de alguns religiosos, tenho a impressão de que torturam a Bíblia para que possam seguir com a propriedade de uma verdade única – a sua. O caminho da sabedoria, porém, inclusive para os grandes teólogos da Igreja Católica, passou e passa pelo exercício da dúvida, constante e tenaz. É preciso se despir da vaidade das certezas para alcançar a dor do outro – movimento imprescindível para o amor."

(Disponível no Blog de Dom Luiz Bergonzini, escrito pela jornalista Eliane Brum)

Se transpassarmos a camada sofista que apela aos termos de efeito, veremos os problemas.

Ignorância como máscara e desculpa


Uma das maiores hipocrisias que já vi consiste em utilizar a própria ignorância e indiferença como sinal de sinceridade e justeza de caráter. Mas é justamente o contrário. Há sujeitos que denunciam a "vaidade de ter certezas", a inadimissível pretensão de defender uma moral absoluta e que, não obstante, sob as aparências de tolerância e humildade, tentam dar a impressão de serem mais esclarecidos, no fundo. Vê-se isso quando estes sujeitos demonstram crer absolutamente nas próprias interpretações a respeito dos homens e do mundo.

Este tipo de filosofia de meia tigela geralmente surge depois de um processo meio demorado de mediocridade moral e do que alguns filósofos chamam "escotoma" que consiste num orgulho pessoal que prefere não aderir a nada, ainda que algo seja totalmente digno de crédito, a fim de satisfazer o próprio orgulho que certamente sofreria se se admitisse que a razão está do outro lado.

Coisa mais nauseante é ver os lamentos desses uns, e notar o prazer que sentem por baixo das próprias exteriorizações de aparente pesar, rs. Se se queixam de não saber, poderiam se convencer a estudar seriamente o objeto de sua ignorância ao invés de desacreditar gratuita e desonestamente, atitude que serve somente de estratégia para manutenção do próprio orgulho e como pretexto para continuar com a indiferença nada corajosa.

"Imparcialidade é um nome pomposo para indiferença, que é um nome elegante para ignorância" Chesterton.

"Ai daqueles que às trevas chamam luz, e à luz, chamam trevas". (Is 5,20)

domingo, 3 de julho de 2011

Sta Teresa trata sobre os motivos pelos quais não devemos pedir gostos sobrenaturais na oração


Primeiro, porque a primeira coisa, que para isto é mister, é amar a Deus sem interesse.

Segundo, porque não deixa de ser um pouco falta de humildade pensar que, por nossos serviços miseráveis, se há-de alcançar coisa tão grande.

Terceiro, porque a verdadeira preparação para isto é o desenho de padecer e de imitar ao Senhor e não o ter gostos, nós que, enfim, O temos ofendido.

Quarto, porque Sua Majestade não está obrigado a dar-nos gostos, como o está a dar-nos a Glória se guardarmos os Seus mandamentos, pois, sem isto [os gostos], nos poderemos salvar, e Ele sabe melhor que nós o que nos convém e quem O ama de verdade. Assim é coisa certa, eu sei-o, e conheço pessoas que vão, pelo caminho do amor como se deve ir, só para servir a seu Cristo crucificado, que não só não Lhe pedem gostos nem os desejam, mas Lhe suplicam que não olhos dê nesta vida. Isto é verdade.

A quinta, porque trabalharemos debalde, pois, como não se há-de trazer está água por aquedutos, se o manancial não a quer produzir, pouco aproveita que nos cansemos. Quero dizer que, por mais meditação que tenhamos e por mais que nos apoquentemos e tenhamos lágrimas, não é por aqui que esta água vem. Só a quem Deus quer e, muitas vezes, quando mais descuidada está a alma.

Suas somos, irmãs; faça de nós o que quiser, leve-nos por onde for servido. Creio bem que, a quem de verdade se humilhar e desapegar (digo de verdade, porque não o há-de ser só em nosso pensamento, que muitas vezes nos engana, senão que estejamos desapegadas de todo), não deixará o Senhor de nos fazer esta mercê, e outras muitas que não saberemos desejar. Seja Ele para sempre bendito. Amen.

Sta Teresa D'Avila, Castelo Interior.

sábado, 2 de julho de 2011

Em que consiste o amor


"Só quero que estejais advertidas que, para aproveitar muito neste caminho..., não está a coisa em pensar muito, senão em amar muito; e assim, o que mais vos despertar ao amor, isso deveis fazer. Talvez não saibamos o que é amar, e não me espantarei muito; porque não está no maior gosto, mas sim na maior determinação de desejar contentar a Deus em tudo e procurar, tanto quanto pudermos não O ofender, e rogarl-Lhe que vá sempre por diante a honra e glória de Seu Filho e o aumento da Igreja Católica. Estes são os sinais do amor."

Sta Teresa D'Avila