terça-feira, 23 de abril de 2013

O Mistério da Liberdade Pessoal


O eu é aquilo por meio do que, na alma, ela própria possui a si mesma e aquilo que nela se move como estando em seu "espaço" próprio. O ponto mais profundo é igualmente o lugar de sua liberdade: onde ele consegue reunir todo seu ser e decidir sobre ele. Decisões livres, de menor alcance, podem ser tomadas, em certo sentido, a partir de um ponto localizado "mais adiante na direção exterior", mas são decisões "superficiais": é um "acaso" quando a decisão se desdobra de acordo com a questão em causa; uma vez que é só no ponto mais profundo que se tem a possibilidade de medir tudo no parâmetro último; também não é uma decisão derradeiramente livre, pois quem não tem a si mesmo inteiramente sob controle tampouco poderá dispor verdadeira e livremente de si, mas "deixa-se determinar".

O homem é chamado para viver no imo de si e tomar as rédeas de si mesmo, como só é possível a partir daqui; só a partir daqui é possível um confronto e embate correto com o mundo; só a partir daqui poderá encontrar o lugar que foi pensado para ele; em tudo isso, ele jamais perpassa totalmente com o "olhar" seu íntimo.

É um mistério de Deus, que só Ele pode revelar, na medida em que lhe apraz. Apesar disso, seu íntimo é colocado em suas mãos; podendo dispor dele em liberdade plena, mas também com o dever de conservá-lo como um bem precioso que lhe foi colocado... O direito de decidir sobre si mesmo é uma tarefa da alma, o fato de o próprio Deus suspender sua atuação ali é o grande mistério da liberdade pessoal. Ele quer o domínio, sobre os espíritos criados, apenas como um livre presente do amor desses. Ele conhece os pensamentos do coração, perpassa com o olhar os fundamentos e abismos mais profundos da alma, para dentro dos quais a visão dela não penetra se não for iluminada por Deus de maneira própria. Mas Ele não quer tomar posse dela se ela própria não o quer pessoalmente. No entanto, ele faz tudo para ganhar a livre entrega da sua vontade, na vontade dela, como presente do amor, e poder conduzi-la assim para a união bem-aventurada.

Edith Stein, Teu coração deseja mais

Nenhum comentário: