Quando uma criança começa a praticar artes-marciais, o mais comum é que ela esteja influenciada por filmes ou por contos gloriosos de conhecidos seus. Tudo aquilo influi no imaginário dela de forma poderosa. E ela o quer.. Nos filmes, em uma ou duas semanas, o sujeito desajeitado consegue ganhar o campeonato. Nas histórias ouvidas, depois de apanhar um pouco, o protagonista, animado por não sei qual espírito bruceleeniesco, vai pra cima e conquista a vitória. Na vida real, porém, o primeiro dia de treino, não obstante o ânimo quase sobrenatural que inspira o neófito desde dentro, o que ele terá são hematomas, cansaço, sede. E no outro dia, misteriosamente, ele continua o mesmo verminoso fraco de sempre, com a diferença de que o seu ânimo, por algum motivo, arrefeceu.
No cristianismo é assim também. Lemos a vida dos santos e dos grandes defensores da fé. Os relatos dos grandes místicos quase nos extasiam na cadeira. A coragem dos cristeros e cruzados em dar a própria vida nos arrebata ao ponto de quase metermos a cabeça na parede e proclamarmos, em seguida e de algum modo, o nosso martírio. Porém, quando começamos a fazer os sacrifícios cotidianos e o lento processo de morte de nós mesmos e, olhando de lado, não vemos nenhum expectador que possa tomar nota dos nossos atos, ou nenhum fundo musical que possa acrescentar uma carga emocional aos nossos feitos, e notamos, então, que não se passou sequer meia hora e que uma vida inteira nos espera à frente, então vemos como a vida real - graças a Deus - faz questão de mostrar que o mundo e a vida não são como nós supomos. E se tivermos a loucura de questionar a Deus sobre isso, Ele nos dirá algo do tipo: "deixe de tolices".
O cristianismo é um caminho de pessoas reais que vão sofrer de verdade, vão sangrar de verdade, vão gritar vez ou outra: "que se dane isso tudo!", vão chorar sem ninguém ver e vão ter o ego atingido por metralhadoras. É assim mesmo. Essa é a condição. É preciso vencer a ilusão para chegar a ser um campeão de Kung Fu. É preciso vencer a fantasia para chegar à santidade. É preciso abandonar os mimos teletubianos e as mentiras a nosso respeito se queremos chegar a ser seguidores do Cristo. Cristo é a Verdade. O fantástico mundo de Bob tem de ser abandonado. O melhor bem que Deus pode nos fazer é quebrar o nosso mundinho e nos mostrar as coisas como realmente são.
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