"Tive a chance de encontrar-me com o Dr. Suzuki e de poder conversar - em espaço de tempo demasiadamente curto - por duas vezes. Essa experiência foi não somente proveitosa mas, diria eu, inesquecível. Foi, na minha vida, um acontecimento bem extraordinário, uma vez que, devido às circunstâncias em que vivo, não me encontro com todos aqueles com quem me encontraria de maneira profissional se estivesse, vamos dizer, ensinando numa universidade. Já conhecia, havia muito tempo, o trabalho do Mestre, e com ele me correspondia. Tivéramos até um curto diálogo, que foi publicado, em que discutíamos a "Sabedoria do Esvaziamento" como a encontramos comparativamente no Zen e no cristianismo, nos padres do deserto do Egito. Por ocasião de sua última visita aos Estados Unidos, tive o grande privilégio de encontrá-lo. Era preciso avistar-se com este homem para poder apreciá-lo devidamente. Parecia-me que ele encarnava todas as qualidades indefiníveis do "Homem Superior" das antigas tradições asiáticas: taoísta, confucionista, budista. Ou melhor, ao encontrá-lo, tinha-se a impressão de uma entrevista com aquele 'Verdadeiro Homem Sem Título', de que falam Chuang Tzu e os Mestres do Zen. E, está claro, é este o homem que se quer realmente encontrar. Quem mais haveria? Ao reunir-me com o Dr. Suzuki, bebendo com ele uma xícara de chá, senti haver encontrado esse homem único. Foi como se chegássemos, enfim, à nossa própria casa. Uma experiência muito feliz, para dizer o mínimo. Não há muita coisa a registrar a respeito. Pois discorrer longamente sobre isso atrairia a atenção para os pormenores que, afinal, são irrelevantes. Quando se está de fato com a pessoa, os múltiplos pormenores encaixam-se naturalmente na unidade que é vista sem ser expressa. Quando se fala nisso em segunda mão, veem-se apenas os múltiplos pormenores. Assim, o Verdadeiro Homem já desapareceu; foi tratar de seus negócios alhures."
Thomas Merton. Zen e as aves de rapina. São Paulo: Cultrix, 1993.
Nenhum comentário:
Postar um comentário