Quem vem a ser "sentido gnóstico"?
É o sentido contemplativo: uma contemplação - precedida de uma meditação concentrada - que começa quando o pensamento discursivo e lógico é suspenso.
O pensamento discursivo fica satisfeito quando chega a uma conclusão bem fundada. Ora, essa conclusão é o ponto de partida da contemplação. Ela sonda a profundeza dessa conclusão, à qual o pensamento discursivo acaba de chegar. A contemplação descobre um mundo dentro daquilo que o pensamento discursivo constata simplesmente como "verdadeiro". O "sentido gnóstico" começa a operar quando no ato de conhecimento há uma nova dimensão, a da profundidade. Ele se torna ativo quando se trata de algo mais profundo do que a questão: isso é verdadeiro ou falso? Além disso, compreende o alcance da verdade descoberta pelo pensamento discursivo e também "por que essa verdade é verdadeira em si mesma", isto é, ele chega à fonte mística ou essencial dessa verdade. Como chega ele a essa fonte? Ouvindo em silêncio. É como se alguém quisesse lembrar-se de coisa esquecida. A consciência "ouve" em silêncio como alguém que "ouve" interiormente, a fim de evocar da noite do esquecimento uma coisa que conheceu anteriormente. Mas há diferença capital entre o "silêncio que ouve" da contemplação e o silêncio proveniente do esforço para lembrar-se. Nessa segunda circunstância, o que é determinante é a horizontal do tempo - passado e presente - enquanto "o silêncio que ouve" da contemplação corresponde à vertical - àquilo que está no alto e àquilo que está embaixo. Quando alguém se lembra estabelece em si espelho interior para refletir nele o passado; quando alguém "ouve em silêncio" no estado de contemplação, faz também de sua consciência um espelho mas esse espelho tem a função de refletir o que está no alto. É o ato de lembrar-se na vertical.
Meditações sobre os 22 arcanos maiores do Tarô
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