Há dois momentos na vida que são tudo: o momento presente, no qual somos livres para escolher o queremos ser, e o momento da morte, no qual não temos mais nenhuma escolha e no qual a decisão cabe a Deus.
Ora, se o momento presente é bom, a morte será boa; se estamos agora com Deus - neste presente que se renova sem cessar mas que continua sempre este único momento atual -, Deus estará conosco no momento de nossa morte.
A lembrança de Deus é uma morte na vida; ela será uma vida na morte. De maneira análoga: se entramos em Deus, Deus entrará em nós. Se habitamos esse centro que é seu Nome, Deus habitará esse centro que é nosso coração. Em toda a extensão do mundo, não há nada além dessa reciprocidade; pois o centro é em todo lugar, como o presente é sempre.
Entre o momento presente, em que nós nos lembramos de deus, e a morte, em que Deus se lembrará de nós - e essa reciprocidade já está em cada Invocação -, há o resto da vida, a duração que se estende do momento presente até o último momento; mas a duração não é senão uma sucessão de momentos presentes, pois vivemos sempre 'agora'; é, portanto, concreta e operativamente falando, sempre o mesmo instante abençoado em que somos livres para lembrar de Deus e encontrar nossa felicidade nessa Lembrança.
Nós não somos livres para escapar à morte, mas somos livres para escolher Deus, neste momento presente que resume todo momento possível. É verdade que só Deus é absolutamente livre; mas nossa liberdade é, não obstante, real em seu nível - sem o que a palavra não existiria -, dado que ela manifesta a de Deus e por consequência participa dela Em Deus, somos tão livres quanto podemos sê-lo, e na medida em que Deus nos reintegra em sua infinita Liberdade.
Frithjof Schuon, Transfiguração do homem.
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