Há cerca de 2000 anos, o povo judeu costumava, anualmente, subir a Jerusalém; esta viagem era motivo de grande alegria, pois estas pessoas sabiam que Jerusalém era a cidade de Deus, onde havia o Templo. Para lá chegar, eles não notavam as dificuldades ou a distância; ainda ao longe, quando somente avistavam a Cidade Santa, rompiam em cânticos e lágrimas pela graça de, mais uma vez, visitarem o lugar onde Deus estava.
Como expressão desta singular experiência, lemos nos Salmos: "Que alegria quando ouvi que me disseram: vamos subir à casa do Senhor! Eis que nossos pés já se detêm em vossas portas, ó Jerusalém! Jerusalém, cidade tão bem edificada, que forma um tão belo conjunto! Para lá sobem as tribos, as tribos do Senhor, segundo a lei de Israel, para celebrar o nome do Senhor. Lá se acham os tronos de Justiça, os assentos da casa de Davi. Pedi, vós todos, a paz de Jerusalém, e vivam em segurança os que te amam. Reine a paz em teus muros, e a tranquilidade em teus palácios. Por amor de meus irmãos e de meus amigos, pedirei a paz para ti. Por amor da casa do Senhor, nosso Deus, pedirei para ti a felicidade" (Sl 121,1-9).
Quando se sabe que Deus está, de forma particular, num determinado lugar, é grande a alegria de um servo Seu ao se perceber na Presença dELe. É o que acontece com Jacó que, ao acordar, vê que está em sólo sagrado. Dele diz a Escritura: "Jacó, despertando de seu sono, exclamou: 'Em verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia!' E cheio de pavor, ajuntou: 'Quão terrível é este lugar! É nada menos que a casa de Deus; é aqui, a porta do Céu!'" (Gn 28,16-18)
Algo similar, mas ainda mais grandioso, acontece conosco hoje. Não obstante a sua terrível grandiosidade, aparece-nos como algo simples, discreto, como é característico do Filho de Deus em Sua adorável delicadeza. Esta experiência realiza-se de forma semelhante à de Elias que reconheceu a presença do Eterno na brisa suave, aparentemente tão comum (I Rs 19,11-13). Sim, diariamente podemos ir à casa de Deus e pormo-nos em Sua Presença; não somente como Moisés diante da Sarça Ardente, nem somente como Elias diante da brisa ligeira, nem ainda como Jacó. Nos é permitido muito mais! De fato, conosco se realiza o que Nosso Senhor dissera: "Ditosos os olhos que vêem o que vós vedes, pois eu vos digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes, e não viram; e ouvir o que vós ouvis, e não ouviram" (Lc 10,23-24).
A nós é dado estar diante dEle como os Apóstolos estiveram.. como esteve João, reclinado em Seu coração. E, como agimos diante disto? Como Elias, que cobre o rosto? Como Moisés que tira as sandálias? Como os peregrinos de Jerusalém que ansiavam o ano inteiro para poder contemplar os muros do Templo? Como Jacó, tomado de pavor diante de Deus?
Quanta indiferença de nossa parte! Quanta frieza.. Quanto gelo!
Agimos, às vezes, como cegos que se obstinam na cegueira. Tratamos Nosso Senhor como uma coisa qualquer. Evitamos devotar-lhe o nosso tempo e, hipocritamente, ousamos cantar-lhe as maiores declarações de amor. Mas, "de Deus não se zomba!" (Gl 6,7).
Rezo pra que Nosso Senhor nos mostre que grandioso é estar com Ele e, ao mesmo tempo, como é profundo o seu amor e sua simplicidade de permitir-nos achegar ao seu seio.
"Buscai o Senhor, já que Ele se deixa encontrar; invocai-o, já que está perto" (Is 55,6)
Quando se abrirem os nossos olhos, então, alegres, poderemos dizer: "Encontrei Aquele que meu coração ama. Segurei-o, e não o largarei" (Ct 3,4)
Fábio Luciano