quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Silêncio amoroso



É triste ver como o ativismo adentrou mesmo dentro das igrejas, como o pragmatismo toma espaço e como os homens simplesmente fogem do silêncio e da quietude. A solidão virou sinônimo de mal nos tempos hodiernos. Tudo isto representa, de fato, uma grande inversão dos retos valores do espírito.

Por vezes, temos o Santíssimo exposto e basta que haja um microfone ou alguns livros devocionais para que se tenham garantidas duas horas de barulho ininterrupto. Aquilo a que chamam oração, por vezes, não passa de mera fuga, de esquiva. Simplesmente não há verdadeira entrega, porque nos mantemos apegados ao nosso jeito, às nossas opiniões, às nossas preferências. É preciso libertar-se disto!

"Retira as sandália", fica nu! "Não sabemos rezar nem pedir como convém" porque nos fiamos em nós mesmos, na nossa limitada compreensão das coisas. É preciso desnudarmo-nos e, na nossa pobreza, podermos sentar aos pés dEle, silenciosos, enquanto Ele, também silente, nos olha e nos sonda. "A linguagem que Deus mais entende é a do silêncio de amor" escreve o doutor da noite. E este silêncio se faz presente não simplesmente quando nos abrimos à vontade dEle, o que caracteriza a atitude amorosa; mas, também, quando, desejosos de O louvar e adorar, reconhecemos a baixeza dos nossos termos e compreendemos que, se o quiséssemos louvar com nossas palavras, antes teríamos de reduzi-Lo ao nível pobre dos nossos conceitos. Diante do inefável, calamos e o nosso silêncio se torna a mais linda canção de amor. É o que os místicos chamam canção silenciosa ou solidão sonora.

Não se trata aqui de negar a eficácia da oração vocal. Ao contrário, reconheço mesmo a sua necessidade. Mas é preciso aprofundar as coisas. Sempre que louvamos a Deus de forma conceitual, nos utilizamos de termos que a Ele se atribuem apenas de forma analógica. Deus está para além deles. E não apenas nisto, mas também nas supostas experiências espirituais pelas quais pode um cristão passar. Estaria enganado quem, ao sentir um raio solar sobre a pele, supusesse já conhecer o ardor do sol.

É preciso pobreza e amor! Quando somos pobres, percebemos o abismo que é Deus e, diante disto, calamos! Quando amamos, percebemos que isto está além das palavras e, então, calamos. Sobretudo, quem ama quer imitar, como escreveu S. Pedro Julião Eymard. Ao contemplá-Lo no Santíssimo Sacramento, percebemo-Lo quieto e escondido. É então que, amando-O, O imitamos e descobrimos estas verdades veladas, estas pérolas escondidas.. Deus é simples e grande amigo do escondimento, do silêncio e da solidão. No momento em que encontramos algo escondido, nos tornamos, também, neste momento, escondidos. É então que Ele nos leva aos Seus aposentos e nos dá de beber da sua adega.

"Levarei a alma ao deserto e, lá, a desposarei" (Os 2, 16)

Fábio Luciano

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