Neste exato momento, um arco-íris no céu me moveu, primeiramente, à sua contemplação. Para tal, me levantei de meu acento e me dirigi à porta a fim de vê-lo melhor. Como se sabe, este sinal simboliza a Primeira Aliança que Deus fez com a humanidade. Quando os homens supunham que Deus estava irado com eles, Deus põe o seu "arco", com o qual se acreditava fizesse-lhes guerra, no céu. Tal ato, portanto, simboliza o fim das tensões entre Deus e a humanidade e estabelece, no horizonte da história, a expectativa da reconciliação definitiva.
Ora, a Primeira Aliança naturalmente nos faz lembrar da Segunda e Eterna Aliança que Deus fez com a humanidade por Seu Filho Jesus Cristo. Se a Primeira estabelecia uma expectativa, a Segunda trouxe a realização da espera.
Jesus, tendo vindo ao mundo, tendo vindo habitar em nosso meio, tendo vindo ser um de nós, é um sinal muito mais eficaz do fim da inimizade divina do que um símbolo, ainda que muito sugestivo, impresso no céu. Se este seria efeito fugaz da presença da divindade, em Jesus temos a própria divindade fazendo sua tenda entre nós.
Tal reconciliação definitiva se faz notar de forma muito singular já no batismo do Senhor, quando S. João, o Precursor, vê os céus se abrindo. Como se sabe, até a Redenção operada por Jesus, o Céu estava fechado aos homens. Agora, porém, os céus se abrem, como quando um amigo abre sua casa ao outro amigo. Era o início de novas relações entre Deus e os homens.
Contemplar o arco-íris, então, me faz lembrar o esponsal entre Cristo e a natureza humana. Em Cristo se realiza o desejo da enamorada dos Cânticos: "encontrei Aquele que meu coração ama, e não O largarei".
O Novo Arco-Íris também deve mover-nos. A ordem "vem e segue-me" exige que nos levantemos e empreendamos viagem. Primeiramente, porém, contemplamos Aquele que nos faz aquele chamado e é nesta contemplação que nos apaixonamos... "Quanta razão hé de te amar", suspira a Esposa dos Cantares... E como o amor é aquilo que, posto na vontade, faz movê-la em direção a quem se ama, ao contemplarmos Nosso Senhor, somos movidos a seguir-lhe os passos. Dizia Sto Afonso: "O amor faz semelhante o que ama ao amado" e S. Pedro Julião Eymard: "o amor, forçosamente, quer imitar".
Como eu dizia acima, para melhor ver o arco íris, dirigi-me à porta. Assim também, quem quer que deseje contemplar Jesus mais de perto, deve dirigir-se à porta do Céu, a Virgem Santíssima, que é Quem lho apresenta. Também os reis magos, na viagem a Belém, foram apresentados ao Menino Deus por Aquela Bendita Mulher. Não é diferente hoje. Esta porta é a via direta para Deus. É ainda aquela porta dos Cânticos onde a esposa pressente a presença do Amado. Apenas este passa a Sua mão na maçaneta da porta, e a alma amante estremece.
Maria, a Virgem Puríssima é aquela que, pela Sua saudação, faz Isabel e João Batista ainda em seu ventre pressentirem a presença do Verbo Divino e, com isto, estremecem...
Amar a Cristo, contemplar-Lhe a beleza, seguir-Lhe os passos e, para tal, dirigir-me àquela Porta bendita... Enfim, unir-me neste esponsal e, então, poder dizer: "encontrei Aquele que meu coração ama e não o largarei..."
Que a Virgem Maria, Mãe do Verbo, nos conduza pela mão.