sábado, 23 de abril de 2011

Tempo da ausência


Certa vez, ouvi dizer que a grande inspiração da Teologia Apofática é este curto período entre a morte do Senhor e a sua ressurreição. O período da ausência. Neste momento, a saudade do ser amado se faz mais pungente, mais sofrida. A ausência é muito sentida e o amor alcança vôos muito altos. De fato, esta é a lógica da teologia negativa.

Meditando um pouco neste mistério, lembrei-me do episódio ocorrido com a Sagrada Família quando Jesus tinha seus doze anos. Em visita ao templo, seus pais se perderam dele e passaram a procurá-lo incessantemente durante três dias. Esta experiência consta como uma das dores de Nossa Senhora e, de fato, como deve ter sido aflitiva esta ausência!

Numa de suas reflexões sobre este fato, Sua Santidade Bento XVI comenta que talvez os pais de Jesus é que tenham se sentido perdidos. Jesus é quem dava alegria ao ambiente; com Ele, tudo era diferente. E agora, porém, Ele não estava. Depois de três dias, O reencontraram e quão grande deve ter sido o alívio!

Agora, porém, Jesus morreu. Humanamente, não é possível esperar que, após três dias, O houvessem de reencontrar. A cena da crucifixão, com toda a sua crueldade, não os deixa ter esperanças aparentemente ingênuas. Viram-no morrer; estavam lá. Que dor a da ausência! E os apóstolos? Depois de três anos tão intensos, como não ficaram? Como era dolorido relembrar as ocasiões felizes com Jesus; o simples conforto que a Sua presença trazia. E João? Há dois dias atrás, estava reclinado sobre o coração do mestre e agora, talvez relembre com tristeza as palavras de Jesus, já que também o discípulo amado já não tem onde reclinar a cabeça.

A mística de trevas é a mística da ausência. É onde a presença do Amado é mais que tudo desejada, é onde se inflama de vez o pequeno coração humano e se transforma como numa pura labareda. É quando a alma não se consola com mais nada, a não ser, como diz S. João da Cruz, com a Presença e com a Figura do ser amado. 

Neste sofrimento, muitas imperfeições da alma se extinguem à semelhança da ferrugem consumida pelo fogo, tornando o ferro incandescente. E é precisamente aí que os Apóstolos se prepararão para revê-Lo.

Maria, a mulher forte, tem agora o seu coração perfurado, trespassado, como o dissera, anos atrás, Simeão.
No entanto, ela nunca duvidou...

Fábio.

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