segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Um arco íris no céu...


Neste exato momento, um arco-íris no céu me moveu, primeiramente, à sua contemplação. Para tal, me levantei de meu acento e me dirigi à porta a fim de vê-lo melhor. Como se sabe, este sinal simboliza a Primeira Aliança que Deus fez com a humanidade. Quando os homens supunham que Deus estava irado com eles, Deus põe o seu "arco", com o qual se acreditava fizesse-lhes guerra, no céu. Tal ato, portanto, simboliza o fim das tensões entre Deus e a humanidade e estabelece, no horizonte da história, a expectativa da reconciliação definitiva.

Ora, a Primeira Aliança naturalmente nos faz lembrar da Segunda e Eterna Aliança que Deus fez com a humanidade por Seu Filho Jesus Cristo. Se a Primeira estabelecia uma expectativa, a Segunda trouxe a realização da espera.

Jesus, tendo vindo ao mundo, tendo vindo habitar em nosso meio, tendo vindo ser um de nós, é um sinal muito mais eficaz do fim da inimizade divina do que um símbolo, ainda que muito sugestivo, impresso no céu. Se este seria efeito fugaz da presença da divindade, em Jesus temos a própria divindade fazendo sua tenda entre nós.

Tal reconciliação definitiva se faz notar de forma muito singular já no batismo do Senhor, quando S. João, o Precursor, vê os céus se abrindo. Como se sabe, até a Redenção operada por Jesus, o Céu estava fechado aos homens. Agora, porém, os céus se abrem, como quando um amigo abre sua casa ao outro amigo. Era o início de novas relações entre Deus e os homens.

Contemplar o arco-íris, então, me faz lembrar o esponsal entre Cristo e a natureza humana. Em Cristo se realiza o desejo da enamorada dos Cânticos: "encontrei Aquele que meu coração ama, e não O largarei".

O Novo Arco-Íris também deve mover-nos. A ordem "vem e segue-me" exige que nos levantemos e empreendamos viagem. Primeiramente, porém, contemplamos Aquele que nos faz aquele chamado e é nesta contemplação que nos apaixonamos... "Quanta razão hé de te amar", suspira a Esposa dos Cantares... E como o amor é aquilo que, posto na vontade, faz movê-la em direção a quem se ama, ao contemplarmos Nosso Senhor, somos movidos a seguir-lhe os passos. Dizia Sto Afonso: "O amor faz semelhante o que ama ao amado" e S. Pedro Julião Eymard: "o amor, forçosamente, quer imitar".

Como eu dizia acima, para melhor ver o arco íris, dirigi-me à porta. Assim também, quem quer que deseje contemplar Jesus mais de perto, deve dirigir-se à porta do Céu, a Virgem Santíssima, que é Quem lho apresenta. Também os reis magos, na viagem a Belém, foram apresentados ao Menino Deus por Aquela Bendita Mulher. Não é diferente hoje. Esta porta é a via direta para Deus. É ainda aquela porta dos Cânticos onde a esposa pressente a presença do Amado. Apenas este passa a Sua mão na maçaneta da porta, e a alma amante estremece.

Maria, a Virgem Puríssima é aquela que, pela Sua saudação, faz Isabel e João Batista ainda em seu ventre pressentirem a presença do Verbo Divino  e, com isto, estremecem...

Amar a Cristo, contemplar-Lhe a beleza, seguir-Lhe os passos e, para tal, dirigir-me àquela Porta bendita... Enfim, unir-me neste esponsal e, então, poder dizer: "encontrei Aquele que meu coração ama e não o largarei..."

Que a Virgem Maria, Mãe do Verbo, nos conduza pela mão.

sábado, 21 de agosto de 2010

Sacramento da Confissão

Preparando-me para a confissão, e está frio... rs.
Isto pode ser uma analogia interessante. Daqui a pouco, confessados os meus pecados e tendo recebido a absolvição de minhas faltas, serei abrasado de novo, ainda que não o percebam os sentidos, pela chama da Caridade.

E então, poderei cantar:

"De amor está se abrasando
O que nasceu tiritando"

Rogando a Deus que se compadeça de minha pobre alma e lhe infunda um arrependimento sincero, bem como o firme propósito não mais O ofender.

Fica, Senhor, comigo,
Preciso da tua presença para não te ofender.
Sabes quão facilmente
Sou fraco e te abandono
Preciso de Ti para não cair...

Fica, Senhor, comigo
Se queres que eu te seja fiel.
Seja-me aquele abrigo
Pois embora minh'alma
Muito pobrezinha
Deseja ser p'ra Ti

Lugar de consolação
Carinho e adoração
Um ninho de amor, então,
Quietude e profunda oração.

(...) Fica, Senhor, comigo
Fica meu grande Amigo.
Minha alma é tão pobrezinha
Seja meu único abrigo.

Quero Tua compania
Muito preciso ouvir-Te, Senhor
Tanto desejo amar-Te,
Fica meu grande Amor...

(Adaptação de uma oração de S. Pio de Pietrelcina feita por Celina Borges)

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O pobre é senhor de tudo - S. Bernardo de Claraval


"O avarento está sempre faminto como um mendigo, nunca chega a ficar satisfeito com os bens que deseja. O pobre, como senhor de tudo, os despreza, pois não deseja nada".

O rubor de Zaqueu no Céu, se ele foi pra lá...


 O que fazer quando o padre pede pra se cantar "Como Zaqueu"? Coitado do Zaqueu.. Por causa desta música, muitos há que jão não querem nem ouvir o nome do inocente...

Eu falei ao padre que não sabíamos cantar aquilo...Na verdade, eu não disse estritamente a verdade. Não costumo cantar a moda, é óbvio. Mas a linha melódica dela é medíocre e, por certo, não haveria qualquer dificuldade para uma execução de improviso. Mas foi a saída que encontrei. Ele costuma puxar estas cantigas e os músicos que se virem pra acompanhar e pegar tom..rs...

Fiquei preocupado. Uma simples ocasião dessas e lá se vão por água abaixo todas as tentativas de inculcar nos músicos que não se pode cantar música protestante na Santa Missa. Como se não bastasse, ainda me pedem pra ignorar a fórmula do Ato Penitencial e cantar outra música lá que fala de misericórdia...

Creio que eu não escondi o rubor da face, nem o constrangimento. Nestas horas, penso mesmo em viajar e ir a um lugar onde as pessoas já estejam adaptadas a uma liturgia mais correta. Ah, estes tradicionais mundo a fora que podem, quando quiserem, assistir à Santa Missa no rito tridentino...

Se Zaque foi para o céu, imagino que ainda hoje viva em cima das árvores, com vergonha e cante a Nosso Senhor algo do tipo:

Mil perdões, Senhor, porque
Hoje em dia a musiquinha
Que me leva o nome tem
Bagunçado a Liturgia...

Aiai...

Por sua vez, canta o outro..




Entrei na Sua casa,
Tô até na Santa Missa
E o que era Sacrifício
Fica quase uma festinha...

Povo diz que é o mesmo Deus
Que não tem problema não
Já nem sabem o que é a Missa
É tudo sem noção...

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Sobre os adiantamentos a respeito da minha vocação


Várias pessoas, inclusive religiosos, já me disseram que tenho um coração de religioso consagrado. Se este for o caso, deixo que Nosso Senhor providencie as coisas. Já fiz, durante um bom tempo, meus modestos esforços, proporcionais à minha pouca força. Agora, portanto, se Ele quer algo neste sentido, que ajeite os meios e me seduza de vez.

Eu sempre tive um encantamento particular pela vida consagrada. Agora, porém, já com meus 25 anos, não vejo como minha baixeza pôde aspirar coisa tão alta. E não ando a forçar as coisas, como o fazia na adolescência, a fim de me ver pequeno. Não é preciso. E se não é empresa impossível a de seguir vida religiosa, isto se deve somente Àquele que tudo pode.

Ademais, eu poderia facilmente enganar alguém que não me conhecesse com minhas conversas devotas. Adiantar-se em atribuir-me uma vocação seria por demais fácil e cômodo. Tendemos a ver somente as aparências. Atores nos enganam sem muito esforço.

Seja como for, na vida consagrada ou na vida leiga, seja Ele a conduzir as coisas. De mim mesmo, nada faço que preste. E já estou cansado disso...

Ide a Deus pelo vosso nada


Por aqui o inverno, ainda bastante frio, se prepara para ceder lugar à primavera. Ano passado eu já saudava a chegada desta "prima", de quem tanto gosto. Por ora, porém, a proximidade cronológica não é denunciada pelas evidências naturais... Faz frio ainda.

E eu recordava algumas palavras do Thomas Merton que li há uns anos atrás: "Procurai a Deus na fome, na sede, na pobreza"... no frio, também, por que não? Resumindo, fazei a experiência de Deus a partir da vossa indigência. Constata, pela tua pequenez, a tua necessidade radical deste Outro que te criou e te sustenta para a tua santidade. Que a vossa pobreza sentida te torne livre para a recepção do vosso verdadeiro Amado.

Estes são ensinamentos que correm o risco de serem lidos com indiferença e estranhamento. Sobretudo hoje, em que se busca uma forma de espiritualidade que seja sempre agradável. Todas as mudanças modernas no campo da mística e da doutrina sempre têm algo em comum: tornar as coisas mais fáceis. Só que, tornadas mais fáceis, tornam-se também menos altas, mais medíocres. E, no final, estamos falando de uma via estreita  e íngreme e de uma porta apertada.

Estou, eu também, vivenciando uma nova fase na vida. E isto é um presente da misericórdia divina. É agora que posso fazer a experiência, um pouco mais radical, de vivenciar a pobreza que tanto amo, de ter as mãos vazias, de desapegar-me e buscar fazer a experiência da liberdade.

Eu só peço a Deus que não me deixe desperdiçar este dom que Ele me dá agora; almejo que Ele termine esta obra de Suas mãos. A santidade é, de fato, um horizonte constante. Sempre está lá... mas minhas pernas são muito mais habituadas às quedas. Haverá dia em que levantarei vôo? Eu o quereria muito...

A regra agora é: experimentar a Deus a partir da pobreza. Provar e ver como o Senhor é bom.

Fábio

A Virtude da Pobreza e a Virgem Santíssima


Sto Afonso Maria de Ligório

Quem ama as riquezas, dizia São Felipe Neri, não chegará a ser santo. E afirmava Santa Teresa: É claro que vai perdido quem caminha atrás de coisas perdidas. Pelo contrário, dizia a mesma santa que a virtude da pobreza abarca todos os demais bens. Disse: "a virtude da pobreza", que, como diz São Bernardo, não consiste em ser pobre, senão em amar a pobreza. Por isto afirma Jesus Cristo: "Bem aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus" (Mt 5,3). Bem aventurados porque não querem outra coisa mais que a Deus e em Deus encontram todo bem e encontram na pobreza seu paraíso na terra, como o entendeu são Francisco ao dizer: "Meu Deus e meu tudo".

Amemos esse bem no qual estão todos os bens, como exorta Santo Agostinho: Ama um bem no qual estão todos os demais. E roguemos ao Senhor com Santo Inácio: Dá-me só teu amor, que se me dás tua graça sou de todo rico. E quando nos aflija a pobreza, consolemo-nos sabendo que Jesus e sua Mãe Santíssima foram pobres como nós. Diz São Boaventura: O pobre pode receber muito consolo com a pobreza de Maria e a de Cristo.

Mãe minha amantíssima, com quanta razão disseste que em Deus estava teu gozo: "E se alegra meu espírito em Deus meu salvador", porque neste mundo não ambicionaste nem amaste outro bem mais que a Deus. Atrai-me após ti. Senhora, desprende-me do mundo e atrai-me a ti para que ame o único que merece ser amado. Amém.

Sto Afonso Maria de Ligório, As Glórias de Maria (Tradução minha do espanhol)