sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Quando o amor o chamar...


"Quando o amor o chamar, 
se guie,
embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados.

E quando ele vos envolver com suas asas,
cedei-lhe,
embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos.

E quando ele vos falar,
acreditai nele,
embora a sua voz possa despedaçar vossos sonhos 
como o vento devasta o jardim.

Pois da mesma forma que o amor vos coroa, 
assim ele vos crucifica.
E da mesma forma que contribui para o vosso crescimento,
trabalha para vossa poda.

E da mesma forma que alcança vossa altura 
e acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol,
assim também desce até vossas raízes e a sacode no seu apego à terra.
Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração,
ele vos debulha para expor a vossa nudez;
ele vos peneira para libertar-vos das palhas;
ele vos mói até extrema brancura;
ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.

Então ele vos leva ao fogo sagrado 
e vos transforma no pão místico do banquete divino.
Todas essas coisas o amor operará em vós
para que conheçais os segredos de vossos corações.
E com esse conhecimento,
vos convertais no pão místico do banquete divino.

Todavia, se no vosso temor 
procurardes somente a paz do amor, o gozo do amor,
então seria melhor para vós que cobrísseis vossa nudez, 
abandonásseis a ira do amor 
para entrar num mundo sem estações onde rireis, 
mas não todos os vossos risos;
e chorareis, 
mas não todas as vossas lágrimas.
O amor nada dá, se não de si próprio,
E nada recebe, se não de si próprio.
O amor não possui nem se deixa possuir,
pois o amor basta-se a si mesmo.

Quando um de vós ama, 
que não diga 'Deus está no meu coração',
mas que diga antes: 'Eu estou no coração de Deus'.
E não imagineis que possais dirigir o curso do amor,
pois o amor, se vos achar dignos, 
determinará ele próprio vosso curso.

O amor não tem outro desejo se não o de atingir a sua plenitude
Se contudo amardes e precisardes ter desejos, 
sejam estes os vossos desejos:
de vos diluírdes no amor 
e serdes como um riacho que canta sua melodia para a noite;
de conhecerdes a dor de sentir ternura demasiada;
de ficardes feridos por vossa própria compreensão do amor;
e de sangrardes de boa vontade e com alegria;

de acordardes na aurora com o coração alado
e agradecerdes por um novo dia de amor;
de descansardes ao meio-dia 
e meditardes sobre o êxtase do amor;
De voltardes pra casa à noite com gratidão,
e de adormecerdes com uma prece no coração para o bem-amado, 
e, nos lábios, uma canção de bem-aventurança".