sexta-feira, 20 de março de 2020

O Zen e o Silêncio


Para compreender o Oriente, temos de compreender o misticismo, que é o Zen.

Deve ser lembrado, entretanto, que há vários tipos de misticismo. Racional e irracional, especulativo e oculto, sensível e fantástico. Quando digo que o Leste é místico não quero significar que seja fantástico, irracional e impossível de ser trazido para dentro da esfera da compreensão intelectual. Simplesmente quero dizer que nas atividades da mente oriental há algo de silencioso, calmo, imperturbável, que parece estar olhando para a eternidade. Essa quietude e silêncio não indicam preguiça ou inatividade. O silêncio não é aquele que existe num deserto desprovido de vegetação, nem o de um corpo entregue para sempre ao sono e à putrefação. É silêncio de um "abismo eterno", no qual todas as condições e contrastes estão sepultados. É o silêncio de Deus, que profundamente absorvido na contemplação das suas obras passadas, presentes e futuras, se senta calmamente em seu trono de absoluta totalidade e unidade. É o "silêncio do trovão", obtido no meio de um relâmpago e do rumor de correntes elétricas opostas. Esta espécie de silêncio embebe todas as coisas orientais. Infelizes aqueles que consideram esse silêncio como decadência e morte, pois serão envolvidos pela explosão de atividade provinda desse silêncio eterno. É com esse sentido que falo do misticismo da cultura oriental e posso afirmar que o cultivo dessa espécie de misticismo é principalmente devido às influências do Zen.

D. T. Suziki, Introdução ao Zen-Budismo.