Deves saber que jamais alguém renunciou tanto nesta vida que não encontre a que ainda não devesse renunciar. São poucos os que têm plena consciência disto e se mantêm firmes. No fundo, trata-se de uma troca proporcional e de um negócio justo: na medida em que sais de todas as coisas, nesta mesma medida - nem mais nem menos - Deus entra em ti com tudo o que Ele tem. Mas somente com a condição de que tu em todas as coisas te despojes completamente de ti mesmo. Começa com isso e paga para isto o quanto puderes.
É mais urgente pensar no que se deve ser do que pensar no que se deve fazer. Se as pessoas e suas atitudes forem boas, suas obras brilham com toda claridade. És justo, então tuas obras serão justas. Não se pense em fundamentar a santidade num fazer; antes deve-se fundamentar a santidade num ser, pois as obras não nos santificam; nós é que santificamos as obras. Por mais santas que forem as obras, elas, enquanto obras, jamais chegam a nos santificar. Mas na medida em que nosso ser e nossa natureza forem santos, nesta mesma medida santificamos todas as nossas obras como o comer, o dormir, o acordar, ou outra coisa qualquer. De nada valem as obras, pouco importa quais, daqueles que não são portadores de uma natureza elevada. Tira disto a seguinte lição: coloca todo o teu empenho em ser bom; não te preocupes com o que fazes ou com o tipo de obras que fazes, mas com o fundamento e o motivo das obras.
Mestre Eckhart, Conselhos espirituais
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