segunda-feira, 9 de setembro de 2019

A felicidade e dignidade da Pobreza


John C. H. Wu

Os santos são criaturas, ao mesmo tempo, as mais pobres e as mais ricas. Nem todos são realmente mendigos, mas são mendigos em seu coração. Quando são ricos, entregam-se generosamente a obras de misericórdia corporal, sabendo que os seus bens não lhes pertencem e que devem usá-los segundo a vontade de Deus. Vivem no mundo, mas não são do mundo, e põem em prática as palavras de São Paulo: "Isto pois digo, irmãos: o tempo é breve; o que resta é que os que têm mulheres, sejam como se as não tivessem; os que choram, como se não chorassem; os que folgam, como se não folgassem; os que compram, como se não possuíssem; os que usam deste mundo, como se dele não usassem; porque a figura deste mundo passa" (1Cor 7, 29-31). Em resumo, tudo depende da avaliação justa das coisas. "Se avaliássemos as coisas acertadamente, em comparação com o que é divino e incorruptível, o ouro e a prata não deveriam ter a nossos olhos mais valor do que a areia. Estabeleceríamos nossos tesouros no céu, e para lá voltaríamos o nosso coração, para mantê-lo recolhido. Pois segundo Santo Agostinho, o homem rico que emprega os seus bens pondo-os a serviço de Deus e de sua alma, da melhor maneira possível, não encontra dificuldade alguma em aproximar-se de Deus: o seu coração só está apegado a Deus, e não às riquezas, embora as possua em abundância" - diz-nos Frei Francisco de Osuna, em O Terceiro Alfabeto Espiritual.

Os santos não temem a pobreza material, porque reintegram tudo no seu valor verdadeiro. O mesmo se dá com os filósofos e sábios, que centralizam o interesse de sua vida na busca da sabedoria e não na aquisição de bens materiais. Confúcio, por exemplo, dizia o seguinte a seus alunos: "Um alimento frugal, água para beber, o braço dobrado como travesseiro - este é o estado que nos convém para sermos felizes. As riquezas e as honras mal adquiridas são mais inconsistentes do que a nuvem que passa." (Analecta, 7, 15). Entre os seus discípulos, tinha grande estima e admiração por Yen Huei, que morreu antes dele, e do qual fez este elogio, que atravessou os séculos: "Huei foi realmente um homem de bem! Uma única tigela de cereal, uma só concha de água, e por moradia um sórdido corredor. Outros não teriam suportado essa miséria. Mas Huei nunca perdeu a sua alegria." (Analecta, 6, 9). Os adeptos de Confúcio, de todas as épocas, sempre admiraram a indiferença de Huei à pobreza. Um grande filósofo da Dinastia Sung, Chou Tun-yi (1017-1073) assim comenta a alegria de Yen Huei: "Agora todos os homens buscam honras e riquezas; no entanto, Yen Huei não as prezava nem as procurava e permanecia feliz na pobreza. Seria o seu coração diferente dos outros? O fato é que há algo infinitamente mais digno de amor e interesse do que essas coisas; e Yen Huei, tendo visto onde estava o verdadeiro valor, desprezou o que apresentava menos valia. Quando alguém encontra o valor verdadeiro, o seu coração fica em paz, e ele não deseja mais nada. E, não desejando nada, torna-se indiferente às circunstâncias exteriores, podendo assim adaptar-se a qualquer delas, perfeitamente bem. Eis porque Yen Huei foi um sábio abaixo apenas de Confúcio."

WU, John C. H. O Carmelo Interior. São Paulo: Flamboyant, 1962. p.57-59.

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