quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

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Já faz algum tempo que não posto neste espaço...
Por vezes, o silêncio é mesmo mais eloqüente. Diante da profundidade destes tempos, Advento e Natal, achei melhor assim... É melhor silenciar; assim nos abrimos à totalidade sem fim do Mistério, ao invés de delimitarmos um pequeno horizonte a partir de uns pobres conceitos...

O amor de Deus está para além do pouco que sabemos...
Na noite, Ele veio a nós. Que mais fazer senão imitar os reis e pastores? Curvemo-nos...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A virtude da Santa Pobreza - Conclusão

Enfim, depois de tanto tempo, cumpro o prometido. Tentarei, nesta oportunidade, terminar a exposição que iniciei sobre a virtude da pobreza.

Primeiramente, é preciso considerar que é uma virtude ordenadora, que põe a Deus no centro, como deve ser, e faz centralizar nEle todos os afetos da alma. "Onde está o teu tesouro, aí está o teu coração", diz Jesus. O coração simboliza a vontade, e esta é a potência a partir da qual o homem ama. Portanto, dizer que amo a Deus sobre todas as coisas, significa dizer que a minha vontade se inclina para Ele, antes de tudo. É justamente isto o que faz a Santa Pobreza: estabelece a reta hierarquia das coisas.

Poder-se-ia dizer que ela trabalha intimamente com a virtude cardeal da Prudência, pois faz ver claramente, o que é essencial para estabelecer esta hierarquia de que falamos; e, ao mesmo tempo, une-se à virtude da fortaleza para agir de acordo com esta ordenação, educando a vontade, mortificando os desejos provenientes da desordem da afetividade, pena do pecado original, para que todo o homem, na sua unidade, seja uma nova criatura.

Obviamente que a via de conversão não se faz, de ordinário, de forma impulsiva, do dia para a noite. É comum que seja gradativa, e que o homem se submeta a um caminho metódico, sistemático. Estes dias um amigo meu me indagava, depois de ter iniciado a leitura de um livro que lhe recomendei e que aproveito para recomendar aos meus poucos leitores deste espaço: "Compêndio de Teologia Ascética e Mística" do Adolph Tanquerey. Espantou-se este meu amigo de ter lido algo, na visão dele, estranho: "a ascese é uma forma metódica de conversão" ou algo parecido, mas de mesmo sentido. Em virtude de certa "espontaneidade", que mais poderíamos chamar "desorganização", proveniente de certa espiritualidade dada ao sensacionalismo e que concebe a conversão como qualquer coisa de "espataculoso" (permitam-me o neologismo), ele resistiu a esta afirmação do célebre escritor.

A autoridade dos místicos e doutores, bem como da teologia, ensina que a vida espiritual é composta de três grandes partes, ou de três conversões, como o expõe o grande Pe. Garrigou Lagrange, em seu "As três conversões". As duas primeiras, a dos iniciantes e a dos proficientes, são caracterizadas pelo traço ascético, isto é, pelo esforço ativo da alma que se esforça por purificar-se de seus vícios. Na terceira parte, temos o estado místico, característico dos perfeitos.

Na primeira parte, a dos iniciantes, a alma deve lutar contra duas filhas da soberba, que se manifestam, de ordinário, no vício da gula e no da luxúria. Ambos têm como fator comum o desejo de provocar prazer corporal. O da luxúria costuma ser mais difícil porque vem a ser reforçado pelo da gula. Isto já diziam os Santos Padres: "o ventre acalorado pelo vinho gera a espuma da luxúria". Portanto, convirá à alma, para libertar-se disto, dar-se à ascese, ou à mortificação metódica que, em virtude de se opor ao movimento dos vícios (a mortificação provoca o inverso do prazer buscado pelos vícios), terminará por enfraquecê-los e, como os vícios costumam interligar-se, enfrequecendo-se um, enfraquecemos os demais.

Onde entra a pobreza neste contexto? Simplesmente em tudo. Primeiramente, para que nos submetamos a este "treino militar" da alma, forçoso é que reconheçamos que o que se faz é por Deus e que este é o nosso Tesouro. A pobreza, fazendo com que a vontade retire seus afetos das criaturas, pondo-o somente em Deus, dá à alma leveza para empreender esta subida.

A pobreza manifesta-se, sobretudo, como desapego, e pode-se exercitá-la nas pequenas coisas. Assim como é possível mortificar-se sem que ninguém perceba, assim também é possível praticar a pobreza que, nestas ocasiões, vem a identificar-se com a mortificação, sendo que o conceito de pobreza contém significado mais rico. Podemos ainda dizer que, uma vez que ordena as coisas, distinguindo a desigualdade de valor delas, a pobreza possibilita a virtude da Justiça. E, mesmo com relação às coisas boas, a pobreza modera o apetite com relação a elas, pelo que também é íntima da temperança. Portanto, a pobreza está em grande conformidade com as virtudes cardeais. Alguém poderia dizer que estas quatro são desdobramentos ou diferentes operações da pobreza; porém, não me arrisco a dizê-lo, visto que não tenho grau teológico para tal. Além disto, a virtude da Fortaleza parece distinguir-se mais claramente, enquanto força ou coragem para levar a termo certo dever. Talvez a Justiça sirva à pobreza neste contexto e, fazendo-o, diferencia-se mais claramente dela... Seja como for, continuemos.

Podemos ser pobres em tudo. Quando conversamos, quando estudamos, quando comemos, quando olhamos... Será desnecessário, aqui, escrever novamente sobre a diferença entre a pobreza e a pusilanimidade. Há outros textos que tratam disto. Falemos destes três exemplos de situações que citei, e creio que se poderá ter uma idéia, ao menos geral, sobre a aplicação desta bendita virtude em outras tantas situações. Quando conversamos é muito comum que, aqui ou ali, queiramos contar certas vantagens a nosso respeito ou, de outro modo, que nos deixemos levar pela curiosidade, ou ainda que falemos mal de um terceiro. Estas coisas são muito fáceis de se fazer. A pobreza, no entanto, podaria a vaidade no primeiro caso, tratando-a com indiferença, mortificaria a curiosidade no segundo caso e, no terceiro, revelaria a inutilidade e perversidade de tal coisa. Portanto, ou silenciaríamos ou falaríamos de outras coisas mais proveitosas. Estudando, a pobreza novamente corta o vício da curiosidade, facilitando a ordem sistemática das leituras, estabelecendo uma hierarquia de assuntos, descartando outros tantos, retirando os escrúpulos, que mais não são do que falsa humildade, sobre o destacar-se intelectualmente. E aqui, invoco uma autoridade bem maior do que a minha, a de S. Josemaria, que escreveu: "se puderdes ser sábio, não te permito que não o seja". A pobreza exige a entrega, exige de quem a porta que dê o melhor de si... Portanto, ela pedirá constância e dedicação.

No olhar, e isto é algo que venho aprendendo, a pobreza exige igual desapego. Certas imagens parecem solicitar-nos por mais tempo, seja porque nos estimulam as paixões, seja mesmo porque nos assustam e repugnam. A pobreza as trata indiferentemente, considerando-lhes somente a inconveniência. Nestes casos, atua com grande agilidade... Além disto, mesmo aquilo que é comum, que é neutro, passamos a olhar com grande espontaneidade, mantendo o desapego que nos garante a leveza, tão útil para este caminho.

Bem... Dizer de todas as situações em que a pobreza é útil, exigiria muito maior experiência que a minha e um texto muito mais extenso (na verdade, vários livros). Seria preciso, creio, que a própria Virgem Santíssima se dispusesse a escrevê-lo a fim de encerrar a questão, ela que possuiu tal virtude em grau eminentíssimo e perfeitíssimo. Mas creio ter ficado claro que a pobreza é uma atitude interior da alma que atua nas diversas situações da vida. E o ponto que considero principal é que a pobreza limpa a alma para que nela se acenda, mais puro, o amor a Deus e ao próximo. A pobreza é serva da caridade e expressão dela.

Bendita seja a pobreza, esposa de Francisco de Assis, que nos esvazia de nós mesmos, para que estejamos abertos, dessa forma, ao abismo do amor divino. Que ela nos eduque e nos ensine a imitar o divino Infante que se fez pobre, no seio de uma pobre e que, por amor, perpetuou a Sua pobreza.

Tottus Tuus Mariae

Fábio.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Semi-Férias!!! Eh!!!! To the Beach!!!


Amanhã estarei viajando... Vou a uma pousada, pertinho da praia, num tipo de "semi-férias". No fim do ano a coisa sai mais cara, e não temos condições para tal.. rs... Já é com aperto que nos decidimos fazer isto. Faremos algo que os amigos do Opus Dei chamam de "convívio". Pena irmos tão poucos, apenas cinco pessoas; iríamos seis, mas uma desistiu ainda ontem, devido a necessidades da Faculdade. Este mundo acadêmico tem seus profundos inconvenientes... Se estas ocasiões ainda fossem frequentes....

Bem.. Vou ver o mar.. Ah! o mar... Se eu pudesse viveria sempre pertinho. Alguns me chamarão de matuto (kkk) mas, mais matuto eu consideraria quem se pusesse indiferente diante de tal imensidão de beleza. Como não remetermo-nos, imediatamente, à grandeza e beleza do Criador? Se encantar-se com a majestade do mar é matutez, eu o sou com muito gosto.. kk... Pobres os que, pela proximidade e ordinariedade do contato, deixam de notar as belezas da vida...

Sempre me pareceu estranho que, embora o firmamento seja algo belíssimo e esteja sobre as nossas cabeças constantemente, tão poucos de nós paremos para observar-lhe. Eu sou encantado pelo céu, muito embora, admita, também passo tempos sem notar-lhe... Ah... A beleza está em todo canto... Outro dia, faltou energia à noite, e, de repente, abriu-se a nós um espetáculo no céu noturno: as estrelas se fizeram notar e me veio uma vontadezinha: "quem dera que todos os dias faltasse energia"... Porém, as luzes falsas, estas invenções das quais tanto nos gloriamos, nos ofuscam estas belezas. Não são assim as nossas vaidades? As nossas pretensões? Em nome destas coisas insignificantes deixamos de notar aquilo que é verdadeiramente belo..

Verei o mar, e não deixarei de admirar-lhe e sentir a maresia, e ouvir as ondas.. Mas buscarei fazer como o fazem as crianças: sem apego, sem querer roubar o momento ou intensificar o que, porventura, venha a sentir. Buscarei agir como pobre: nem quererei provocar nada, nem tampouco prolongar as sensações; serei como alguém que contempla uma rosa justamente onde ela está, sem cair na tentação de querer fazê-la sua... Tenho pra mim que a infância, por vezes, é tão querida porque nela vivemos, justamente, como pobres...

Há uma frase do Thomas Merton que muito me agradou quando a li pela primeira vez, e até hoje costuma me servir de norte em certas ocasiões: "tudo é teu, sob a condição de tudo te ser dado".. É justamente isto que permite uma atitude de leveza... irei de mãos vazias e voltarei assim também... Dessa forma, sem me apropriar de nada, poderei voar. Desde que nada desejo, tudo me é dado; autêntica teologia sanjuanista! Do contrário, diz o santo: "quanto mais procurei, com tanto menos me encontrei"...

Ah.. No lugar que vamos tem Santa Missa no domingo pela manhã... Que beleza..
Parece que Nosso Senhor é quem nos prepara esta viagem...
Que sirva, então, para mais O amar....

Fábio.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Ó alma que és como um cavaleiro...

São constantes as batalhas que temos de enfrentar conosco mesmos... Percebo que temos que ser, ao menos na alma, bons artistas marciais, no verdadeiro sentido do termo... Neste processo, forçoso é que amadureçamos, que cresçamos e dos cristãos certas coisas são particularmente exigidas.

A beleza de uma vida imersa nestas lutas, embora talvez tão evidente a quem olha de fora, parece imperceptível ao que as enfrenta... Covardias, medos, egoísmos, formas mil do amor próprio... Por vezes, a coisa se torna bem dolorida e, tristes, arriscamos uma olhadela para o céu, numa hesitante expectativa daquela a quem São Francisco chamou a "irmã morte". Creio que são nestes combates que a morte vai perdendo seu caráter assombroso....

Nosso Senhor é um ótimo pedagogo... Na Grécia Antiga, aos candidatos a filósofos, era necessário que fossem formados também em Educação Física, que mais não era que a vida militar. Isto lhes servia para perceberem a fragilidade de seus corpos e a efemeridade da vida; uma vez que o fizessem, estariam em melhores condições de se elevarem às realidades imutáveis, a olharem pra cima, motivo pelo qual tinham que estudar também a astronomia.

Nosso Senhor faz algo semelhante. Ricardo de S. Vitor faz notar que, na Sagrada Escritura, o livro do Eclesiastes no qual este sentido do caráter passageiro é tão gritante, vem exatamente antes do livro do Cânticos, cujo simbolismo nos eleva àquelas terras bem-aventuradas e ao convívio dAquele que será a delícia dos nossos dias.

Ao lado das brilhantes promessas da Vida Eterna, Nosso Senhor nos faz ver, com clareza singular e, às vezes, grandemente incômoda, o nada desta vida. E as lutas continuam... A paz por vezes é pequena trégua entre as lutas... Vezes há em que ficamos muito aborrecidos e, talvez, decepcionados, e entre estas lutas, onde não escutamos nenhum fundo musical e onde, talvez, momentaneamente, suma de nossos olhos qualquer horizonte, Ele está a nos fortalecer, a nos amadurecer, a nos lapidar, silencioso, escondido, como sempre foi do Seu feito fazer...

É então que Ele nos sussura: "nada temas; crê somente".

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Devendo o término do artigo sobre a Pobreza

Assim que encontrar tempo, escreverei a segunda e última parte da exposição que iniciei abaixo sobre a virtude da Santa Pobreza.

"A pobreza é a nossa riqueza"
S. João da Cruz

Pax et bonum.

Fábio.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Assembléia Arquidiocesana em Maceió

Nos últimos dias 20 e 21 deste mês, estive em Maceió, no colégio Marista, próximo ao Seminário Nossa Senhora dos Prazeres, por ocasião da Assembléia Arquidiocesana para a primeira avaliação do Projeto de Evangelização 2009-2012.

Contamos, nesta ocasião, com a presença do senhor bispo Dom Antônio Muniz, juntamente com diversos sacerdotes responsáveis pelas diversas paróquias distribuídas pelo território alagoano. Também estavam presentes coordenadores e representantes de vários movimentos e pastorais.

A coisa lá andou meio esquisita. Embora se falasse de Fé, de Igreja, de Deus, a impressão é que o assunto era abordado apenas em pontos periféricos, acidentais, superficiais. Não se foi ao centro da questão. Falou-se de santidade, mas não se explicou o que isso significava. Talvez se assumiu como pressuposto que todos deveriam saber do que se tratava. Os discursos começavam a pender sempre mais para o lado social, o que a princípio não é um mal, desde que se ponha isto no seu devido lugar. Mesmo o Concílio Vaticano II, que certos sofistas afirmam defender integralmente, ainda que à sua maneira, afirma claramente que a ação se submete à contemplação....

Algo, porém, que achei interessante foi ver que o ecumenismo, entendido como sincretismo, ainda não adentrou naquele ambiente. Ouvi sérias críticas a personalidades protestantes, tais como RR Soares, Silas Malafaia, e outros gurus midiáticos que andam a celebrar as sessões de "descarrego" dos bolsos dos incautos. Outro movimento também, seriamente espetado, foi a RCC, a partir de uma alusão claríssima à prática do "Repouso no Espírito", comum a este grupo. Importante ressaltar que lá estavam carismáticos, inclusive membros de Comunidades de Vida.

Um outro ponto interessante aconteceu já próximo ao final do evento; um membro da "Pastoral da Terra", movimento particularmente afeto à ideologia comunista e que traz a fama de baderneiro, pôs-se a solicitar que a Igreja de Maceió providenciasse uma séria formação dentro da Doutrina Social da Igreja. Recomendava ele que se contratasse algum perito nesta área e que pudesse passar o assunto de forma acessível. Não sei se o rapaz sabe, mas a diferença entre a Doutrina Social da Igreja e a ideologia marxista é gritante...

Sinto dizer que os pontos positivos terminam assim. Poderia também citar a disponibilidade de todas aquelas pessoas, mas isto se daria de uma forma ou de outra. Muitos ali, creio, são sinceros, mas ainda não têm uma formação sistemática sobre a crise da Igreja e sobre certas nocividades que a ferem por dentro.

A citação de Dom Helder Câmara era constante. Lá se encontravam cds e livros sobre o dito "bispo da paz". Até mesmo um video contendo uma mensagem com a sua voz, na qual ele chama Nossa Senhora pelo estranho nome de "Mariama", fez-se ouvir no auditório onde estávamos reunidos.

A saudação do "Axé" também apareceu pelo menos umas duas vezes, acompanhada de uma breve crítica do bispo aos que se desagradam destes termos, onde ele afirmava que a terminologia deve se adaptar. Fazia referência também ao termo "Deus mãe". Além destas, outras expressões de cunho africano, até pela data em que ocorria o encontro, estiveram presentes em algumas músicas, dentre as quais posso citar  a "negro nabor" ou algo assim, que particularmente não sei do que se trata.

No domingo, pela manhã, houve Santa Missa. As músicas eram cantadas no ritmo do forró, numa tentativa desastrada de fazer inculturação, caindo, feiamente, num regionalismo, desprezando a determinação litúrgica, presente mesmo na Sacrosantum Concilium, que trata da universalidade das formas como requisito da verdadeira música litúrgica, sendo o canto gregoriano o exemplo perfeito desta prescrição.

Muito embora a letra do "Glória" fosse litúrgica, o que é raro acontecer, a do "Santo" não o foi. A do "Ato Penitencial", então, nem se fala. Mais triste ainda, porém, foi ver que no momento da Consagração, apenas cerca de 10% das pessoas alí presentes se ajoelharam, e os músicos sequer estavam voltados para o altar. Havemos de convir ainda que os que ali se faziam presentes se pretendiam pessoas "de caminhada"; muito estranho e triste.... Talvez me chamassem de formalista, de rubricista, mas não fui eu quem prescreveu o ato de ajoelhar-se neste momento santo, foi a Igreja. Também não fui eu quem disse que a adoração a Deus é um ato de todo o ser, inclusive também do corpo, foi o Santo Padre Bento XVI.

Outra coisa que me preocupou foi o material do Cálice. Não sei se vi direito, eu estava longe; mas parecia-me que era feito de vidro.. Fiquei na dúvida... Espero sinceramente que não, pois é outra determinação claríssima da Santa Igreja que os materiais destinados a conter o adorável Corpo e o adorável Sangue de Nosso Senhor sejam nobres, e isto é inegociável...

Houve ainda um diácono que vi a criticar o feliz hábito da confissão semanal. Falava indignado, que isto era brincar com o Sacramento, e não conversava com desavisados, mas com padres e leigos representantes de suas respectivas paróquias.

Enfim, pontos positivos, houve. Mas, parece que os pontos negativos se sobressaíram...
Lá estiveram muitos padres; nenhuma menção, porém, sobre a necessidade da confissão, sobre a realidade do pecado mortal, sobre a necessidade do estado de Graça, sobre a oração do terço. Ouvi, é verdade, uma breve recomendação da vida sacramental e outra mais enfática sobre a necessidade da oração, mas a coisa ficou por demais solta... Tenho saldades dos discursos a respeito das virtudes teologais, das virtudes cardeais, das práticas devocionais, dos gestos anagógicos.. coisa que só vejo nos livros e só escuto nas conversas com os amigos.

Mas talvez eu esperasse coisa até pior...
Só peço a Nosso Senhor que proteja a Sua Igreja de todo erro, e, humildemente, solicito a interceção de S. Pio X e de S. Pio de Pietrelcina, que tanto amaram a Igreja, para que, de fato, Deus prevaleça, já agora, contra os Seus inimigos.

Fábio.

A questão do respeito humano

Sempre ataquei muito este incômodo vício, disfarce do amor próprio, mas sempre fui, eu mesmo, cativo deste cuidado inútil. Estes dias, porém, Nosso Senhor veio me mostrando certas coisas, e me fez ver, com maior clareza, a inutilidade desta atitude... Tenho o propósito de deixar disso, mas, quando diante de uma situação que move este vício, a minha covardia, por vezes, me impele à atitude mais confortável.

Embora eu não abra mão da posição que defendo, é comum que a exponha com excessivo cuidado, como que a fazer carinhos... E isto é muito enfadonho. Nestes dias em que Nosso Senhor me aponta este defeito, peço a Ele que me ensine a deixar estes pantins, e peço também aos amigos que rezem por mim neste sentido. Embora eu, talvez, não demonstre, sou muito inseguro...

Peço ao Amado Senhor que me dê a intrepidez dos Apóstolos...
Sentarei aos Seus pés, O olharei e ouvirei..
E Vós, Sublime Sol, lançai sobre a minha alma um raio de vossa divindade, e modelai-me conforme os Vossos desejos....

"Dá-me o que me mandas, e manda o que quiseres"

Mancipia Christi
Tottus Tuus, Mariae

Fábio.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Só os pobres agradam a Deus


Deus Pai diz a Santa Catarina de Sena que a humildade, fruto do conhecimento de si mesmo, é a raiz de todas as virtudes. Ora, se falta a raiz, como haver virtude? A humildade, ou pobreza cristã, é uma virtude altíssima. Ela é uma via perfeita de imitação do Cristo, que foi e é pobre. Qualquer resistência a esta verdade implica num falso conceito, ou da pobreza evangélica, ou da pessoa do Cristo.

Todo pecado constitui uma conversão às criaturas e à falsa satisfação que elas oferecem, e uma aversão a Deus. No entanto, é comum que a maior parte dos pecados sejam como que uma fuga de Deus. O vício, porém, oposto à pobreza, a soberba, é o único que não foge, mas se opõe a Deus. E é dito ainda que são a estes que Nosso Senhor resiste. Se alguém descuida da pobreza, suas atitudes mancham-se mais facilmente do amor próprio, que enfeia tudo. Pessoas embevecidas com a própria maestria, que consideram-se um presente para o mundo, predestinados infalivelmente ao Céu e a uma particularidade do prêmio eterno, são um tipo muito comum. E, por vezes, se deixam acompanhar por uma certa encenação de suposta humildade que bem poderíamos chamar de "coitadismo" e que nada mais visa senão provocar admiração nos admiradores da humildade. A coisa, porém, é por demais desafinada... Como escreveu S. João da Cruz, qualquer espírito que pretenda caminhar por prazeres e honras, fugindo de imitar a Cristo, não o teria eu por bom.

A pobreza, movimento da alma oposto ao da soberba,  abraça a Deus e O ama...
Para o pobre é suficiente estar com Ele e saber que, não obstante a repugnância do pecador, Deus o abraça e o quer. Esta virtude, porém, como já escrevi outras vezes, não consiste em qualquer timidez ou medo, nem qualquer tendência à ofensa de si mesmo; não se trata de inventar coisas, mas de conhecer-se. A pobreza ou humildade é uma objetividade na consideração de si mesmo. Quando um S. Francisco de Assis ou outro santo qualquer falavam da sua pequenez e miséria, isto não era qualquer afirmação gratuita, mas, ao contrário, era fruto de uma clareza particular. Por isto, a grande Teresa D'Avila ensina que "a humildade é a verdade".

Outros santos dizem ainda que uma carruagem cheia de virtudes, mas conduzida pela vaidade, leva ao inferno, enquanto que, uma outra carrega de pecados, mas conduzida pela humildade, leva ao Céu. O demônio enraivece-se com Sta Catarina porque, ao humilhá-la, ela voltava-se à misericórdia divina e, ao elevá-la, a sua humildade se rebaixava aos infernos, indo atormentá-lo. Não há santidade sem pobreza e, embora isto seja tão evidente, quase nenhum cuidado há por parte de certos cristãos neste sentido. Não deixa de ser particularmente curioso que, no seguimento de um Deus que se fez homem e, feito homem, tornou-se escravo e, como tal, não teve onde nascer, não teve onde reclinar-se e morreu humilhado numa Cruz, abandonado - não deixa de ser curioso e imensamente contraditório que alguns de seus seguidores pretendam trilhar caminho precisamente oposto, de glórias, de elogios, de aclamações. Não temem um dia escutar: "já recebeste vossa recompensa"? E aqui podemos aprofundar ainda mais na compreensão da pobreza cristã; um Deus a viveu e ensinou; não é qualquer coisa...

O amor a Deus, quando perfeito, não O ama por causa do Céu, mas por Ele mesmo. Já pedira uma santa que, se amasse a Deus por causa do Céu, Ele a excluísse dele; se, porém, o amasse por medo do inferno, Ele a atirasse aí; mas se o amor que a consumia fosse por Ele mesmo, que Ele, por favor, não lhe escondesse a Sua face. O mesmo diz um poema atribuído a Santa Teresa, onde se lê algo neste sentido: "Mesmo que não houvesse Céu, eu te amaria como te amo; mesmo que não houvesse inferno, eu te temeria como te temo. O que me move a te amar, és Tu mesmo".

Vemos, então, que a pobreza é a possibilitadora do verdadeiro amor e isto é grandioso. É ela que permite o que os santos chamam de "pureza de intenção". Esta radiante virtude tem seu máximo expoente no Cristo crucificado e na Virgem Santissima. Portanto, ser pobre, verdadeiramente, é imitá-Los, ou seja, não se pode imitá-Los sem cultivar a pobreza espiritual. Esta, porém, grande inimiga da timidez, é amiga íntima da magnanimidade. A pobreza rejeita o pequenino e fútil pelo verdadeiro Bem. Esta verdade se expressa em várias passagens da Sagrada Escritura. Portanto, ser pobre é, de certa forma, ser ousado e, desprezar as coisas rasteiras por erguer os olhos ao Céu. É rejeitar sentar-se num trono de rei para estar, ao invés, sentado sobre todo o orbe terrestre.

Certa vez, eu estive a fazer uma pregação sobre o ódio a si mesmo; depois de citar inúmeros exemplos e máximas de santos, um amigo meu, que me acompanhava, disse-me no intervalo: mostre não somente o edifício, mas também as portas... Pois bem, tratemos de algumas formas de praticar a pobreza, pois, embora eminentemente interior, ela se reflete na conduta. São Francisco de Assis é exemplo luminoso disto, embora nem todos estejamos obrigados a viver esta virtude naquelas supremas alturas em que ele viveu. São Francisco é prova da potencialidade humana ao infinito.

Como há inúmeras formas de se viver esta virtude, há quem enfatize esta ou aquela. Grande erro, porém, é reputá-la a uma atitude meramente exterior. As virtudes cristãs não são coisa que qualquer ator possa praticar. A mera imitação, como já escrevi, torna-se um caricato sem graça, ou melhor, de fazer graça...

Sobre as formas de se praticar a pobreza, escreverei log em breve, pois agora estou meio ocupado... Mas adianto: melhor seria ler um bom místico, doutor ou qualquer pessoa mais instruída. O que aqui digo, embora mui verdadeiro, parece menor em virtude da pessoa que diz e pelo modo como diz. Mesmo assim, logo mais, continuo...

Como dizem os nordestinos, "inté"....

Fábio.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Texto retirado do blog "Anjos"

Fui forçado a retirar do blog Anjos de Adoração um texto referente a uma problemática aqui da paróquia. A coisa está ainda a nível de segredo, de modo que foi imprudência minha escrever aquele artigo, ainda que sem expor os pormenores da questão. Muito embora eu o tenha retirado da parte visível aos leitores, salvei-o como rascunho. Talvez, futuramente, ele possa ser, de novo, disponibilizado. A questão, porém, é um tanto séria... Aguardemos pra ver no que vai dar.

Tottus Tuus Mariae

Fábio Luciano

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

As pedras também são...


Ontem à noite, estive conversando com um colega formado em música e, em dado momento, citei o ingênuo Descartes, como lhe chama o incômodo pensador francês Léon Bloy, e a sua fórmula do Cogito. Apenas perguntei se ele conhecia a célebre falácia "penso, logo sou" e, imediatamente, ele me retrucou que tal assertiva caíra em desuso, pois uma pedra, embora não pense, é.

Bem.. Embora tal resposta, dada pelo meu colega músico, seja tão óbvia, fiquei imensamente feliz ao ver que ele, ainda que não adentrado nestes campos filosóficos e religiosos (até onde eu sei), constatou com uma grande naturalidade a fragilidade desta falsa afirmação. Outros, até pela inventada autoridade deste pensador, facilmente diriam que isto está certo, mas meu colega soube olhar direito.  Porém, embora assim fosse, não sei se ele percebia a relação entre este erro do "pai da filosofia moderna" e a ditadura de achismos a que assistimos nos dias de hoje, mesmo nas universidades onde, ironicamente, a verdade, por vezes, nem é considerada.

Quis alongar a conversa neste assunto; fiquei faminto por isto, mas tínhamos outras obrigações a fazer. Precisávamos selecionar algumas músicas para um projeto num futuro bem próximo. Mas, enfim, algo tão simples me fez sorrir... Que Deus abençoe este meu colega e o traga, de vez, ao abrigo da verdade.

Fábio.

sábado, 7 de novembro de 2009

Que alegria ouvir uma pregação sobre os Novíssimos!!!


O Pe. Iran não cessa de me surpreender. Ultimamente, graças a Deus, ele tem se apresentado sempre de batina, tem falado expressamente do "Santo Sacrifício da Missa" e, ontem, para minha feliz surpresa, o ouvi pregar sobre os Novíssimos!!! Falou claramente sobre o Inferno e que há sim quem para lá rume; tratou do Purgatório e disse que lá há quem ficará até o fim dos tempos.. enfim, falou da alegria do Céu...

Ah.. Que bom é ouvir uma pregação com tal clareza, com tal fidelidade ao ensino da Igreja, sem as misturas ideológicas que se costumam fazer, sem as manipulações de sentido das passagens evangélicas... Ah padre, fiquei muito feliz...

Que Deus o guarde e santifique, para a Glória do Pai, para a sua salvação e para o bem das almas ao senhor confiadas...

Arigato Gozaimasu!

Fábio.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Ele está chegando...


Nem ainda adentramos no Advento, e já ando no aguardo deste Infante que vem à terra nos dar alegria...
Como não sentir os perfumes deste Soberano que já se aproxima?

Como já dizia uma santa: "O coração puro, de longe, Senhor, vos perceberá"
Meu coração ainda não é puro, Amado.... Mas fá-lo-ás ficar...
E então, serei só amor....

Totus Tuus Mariae.

Fábio...

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Medos e Desejos - causas da agitação na alma


A Santa Igreja e os seus santos nos ensinam e recomendam a cultivar a paz interior. É o que diz, por exemplo, S. João da Cruz: "dá-te à tranquilidade", Sta Teresinha de Lisieux, S. Pio de Pietrelcina, entre tantos outros. Há, na espiritualidade católica, grande estima pelo silêncio, pela quietude, pela solidão. O Céu mesmo é, às vezes, retratado como um repouso.

A agitação, ao contrário, perturba a alma. Podemos observar a diferença abismal entre uma alma em paz e outras que se deixam agitar, no evento evangélico da tempestade. As ondas se agitam, os Apóstolos imitam-lhes com o coração e, enquanto isto, o que faz Jesus? Dorme... Uma vez despertado, Jesus faz que o mar se assemelhe à quietude e ordem do seu interior, e tudo silencia....

No mesmo sentido, na casa de Marta e Maria, Jesus elogia esta última por manter-se em paz quieta, afirmando que esta é a melhor parte.

A agitação está na multiplicidade. A paz na unidade e totalidade. Um dos demônios expulsos por Jesus se chamava legião, pois, na verdade, eram muitos. A multiplicidade agita. A unicidade acalma. Quando destacamos algo na multidão, não estamos seguindo a unicidade, pois estabelecemos, no mínimo, uma dualidade entre o que escolhemos e os demais objetos. A multiplicidade permanece. É preciso prezar pela totalidade e, como dizia Sta Clara a S. Francisco de Assis, se notarmos bem, veremos que só existe uma verdade: "Deus é"...

Na mística sanjuanista, a virtude teologal da caridade exige-nos que concentremos todo o nosso afeto em Deus; só assim, amando-O somente, amaremos ordenadamente tudo o que por meio dEle se fez. Quando, porém, não O amamos, perdemo-nos na multiplicidade de objetos, ignorando os laços comuns que os unem e, consequentemente, nosso afeto se dirige a mil direções.

Daí surgem o desejo e o medo. O desejo, agindo sobre a vontade, impele-nos a mil coisas; agita-nos enquanto nos denuncia a falta de algo e se lança, de forma irrefletida, sobre qualquer brilho que perceba nas criaturas. O medo, como um desejo inverso, impele-nos, não em direção a certas coisas, mas em direção oposta; ele nos põe em fuga... O medo nada mais é do que o desejo de que tal situação não se dê.

E, escravos destes dois, do desejo e do medo, nos comportamos como marionetes, passando o dia perseguindo certas coisas e fugindo de outras e, enquanto isto, passa o tempo, e do silêncio somente conhecemos o nome, e da solidão somente sabemos a existência. Nossos inimigos movem-nos à força de ilusões... O amor próprio brinca conosco; sugere ameaças inexistentes, como miragens no deserto, para que nos cansemos numa corrida inútil; enquanto isto, nos apresenta falsos brilhos, sólidos como fumaça, para que, ridiculamente, nos distraiamos com o nosso nada... Verdade suprema é o que disse, certa vez, um anjo a S. Francisco: "Espumas.. Eis quanto pesam os sonhos dos homens".

"Não goste nem desgoste", foi o que li certa vez, e vários paralelos de mesmíssimo sentido se encontram distribuídos nos bons livros espirituais. É preciso educar bem a nossa vontade, a nossa imaginação que, como dizia Sta Teresa D'Avila, "é a louca da casa", disciplinar o nosso interior para que não se tensione em fantasias, medos ilusórios, desejos fúteis, mas, ao contrário, se atenha sobre a Verdade. Esta não muda, abrange toda substância e, se nos firmarmos sobre ela, poderemos, enfim, descansar e silenciar...

"A nada ame com particularidade" S. João da Cruz
"Cessai, e vede que sou Deus" (Sl 45,11)

Fábio.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Homilia Gnóstica??


Tenho, ultimamente, contado de algumas experiências desagradáveis que tenho tido com relação ao trato que certos católicos dão à liturgia e a algumas questões doutrinárias. Pois bem, aqui vai mais uma...

Ontem, graças a Deus, tivemos Santa Missa. O padre, que eu não conhecia, parecia simpático, mas falou algo estranhíssimo na homilia.

Discorrendo a respeito do mal, arriscou dizer algo deste tipo: “a Santa Igreja coloca o mal quase que à mesma altura de Deus. A diferença entre um e outro é que Deus nos ama” (???)

Obviamente, a Santa Igreja nunca disse tal coisa. Depois, o padre parece, aqui, conceber a existência de dois princípios opostos, substanciais, e de mesma força, apenas com uma diferença: o bem nos ama. Gnose? É... parece que sim.

Teria o padre convicção do que disse? Ou teria sido algum tipo de afirmação descuidada? Talvez os dois....rs...

Só fico a me perguntar: o que estão a aprender os religiosos e padres nos conventos e seminários?

Vejo uma semelhança entre isto e o que aconteceu na faculdade de filosofia que eu frequentava: assim como lá, onde se doutrina o Marxismo, puseram um ignorante (no verdadeiro sentido da palavra) pra ensinar Filosofia Medieval, com o intuito, talvez, de providenciar para que o conhecimento metafísico dos alunos fosse tão medíocre ao ponto de não perceberem qualquer problema no materialismo, assim também o discurso de certos padres, enquanto não mudar, não apresenta qualquer ameaça para o mundo e seus sofismas. Não é à toa, então, o abandono de Sto Tomás dos seminários, e sua substituição pelo ingênuo Descartes, como Léon Bloy o define, juntamente com outros pseudo-filósofos modernos. Não, realmente não é à toa. Se não há um sujeito humano desta ação (teoria que parece indefensável), há, ao menos, um personagem infernal por trás da mudança funesta. Trocar Filosofia por certos textinhos acadêmicos dá nisso. No fim, tem-se um diploma que, como diz o Olavo de Carvalho, mais não é que um atestado de ignorância que permite dizer abobrinhas com cara de esperto.

Aiai...

Fábio Luciano

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Quando o erro se torna obstinação


Artista moderno das liturgias modernas

Ontem à noite, não houve Santa Missa... Devido à morte da mãe do Pe. Francisco, este não compareceu; houve uma tentativa de contactar o padre Guimarães, de uma cidade vizinha, mas nada ficou certo. Houve "Celebração da Palavra".. O que ali se viu era algo realmente deplorável... A começar pelas músicas, dedicadas ao famoso Pe. Cícero que não pode ser cultuado. Ainda por cima, o ritmo dos cânticos lembrava qualquer batuque ou apresentação de uma banda de forró, não fosse a desafinação do vocalista. Havia até um baterista que "mandava ver" no seu discreto instrumento... Só pra se ter uma idéia, o "Cordeiro de Deus" foi cantado no ritmo da "Asa Branca" do Luiz Gonzaga... Não me admirarei se, dentro em pouco, Billie Jean, do falecido Michael Jackson, fôr o fundo musical da procissão de entrada.. Quem sabe até um acólito não arrisca entrar de costas, executando um perfeito "Moon walker"? Rs...

O único motivo pelo qual fiquei, foi porque pensei que, no meio daquelas profanações (tenho outros nomes praquilo, mas todos inconvenientes com o espaço sagrado onde se deram...), eu poderia ser um dos que estariam com Ele. Não O quis abandonar só às recreações infernais daqueles devassos... Mesmo quando não pode fazer nada, a presença de um amigo conforta; talvez seja pretensão minha a de supor que poderia, de alguma forma, diminuir os destratos ao Cristo, permanecendo com Ele, negando-me a fazer parte da "bagunça litúrgica" que ali acontecia. Mas... Fiquei... Minha possível pretensão era bem intencionada.

Antes de se iniciar o "martírio" da Liturgia, um amigo veio conversar comigo a respeito de certos costumes adotados por alguns católicos de hoje. No meio da conversa, falou-me de um rapaz, ao qual já dei formação, que afirmou discordar de certos ensinamentos da Igreja e criticou-lhe o caráter hierárquico. Nas formações que dou, há sempre o espaço para que se levantem questionamentos, dúvidas e objeções e, quando estas são postas, faço o possível por clarificá-las, de modo que os amigos terminam dizendo-se convencidos. Este, porém, pareceu obstinar-se no erro, mesmo diante dos argumentos apresentados. Baseava-se a sua obstinação num achismo pessoal. O seu contra-argumento sempre se iniciava com um "eu acho que"... Fato é que abandonou as aulas...

Não deixa de ser algo misterioso que alguém se arvore o direito de achar coisas a despeito do que a Igreja afirma. Uma coisa são as dúvidas sinceras, outra a permanência irracional no erro. Esta soberba luciferina e luterana parece animar muitos dos católicos hodiernos. Além disto, constata-se a total falta de objetividade, e esta soberba mesmíssima foi o que inspirou meio mundo de cismáticos e hereges. O orgulho humano realmente parece um poço sem fundo que desemboca, obviamente, no próprio salão central do inferno. Esta vaidade é a porta principal para que lá se chegue...

No caso deste rapaz, que muito estimo, na verdade, o que há não é uma ignorância, como a de muitos "romeiros" da referida celebração; o que há, nesta particularidade, é uma decisão livre pelo erro e, como diz S. Tiago, o que sabe fazer o bem e não o faz, peca.

Duas coisas a se vencer: o orgulho e a ignorância. Esta última é mais fácil de se tirar, mas há mesmo quem carregue as duas.

Realmente... tempos difíceis..

Fábio

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Que tempos tão estranhos os que vivemos...


Diariamente, aqui, do lado, constatamos os efeitos desta grande crise pela qual passa a Santa Igreja. E quantos vemos lutar contra ela? Ao contrário, o que noto nos semblantes é um sorriso cúmplice, uma obstinação em fazer do próprio jeito, em mudar as coisas, em apresentar o próprio "brilho", que mais não faz senão ofuscar.

Muitos neste processo agem como marionetes ingênuas, seguindo apenas a direção deste vendo escuro qual fumaça; mas outros há que, diante das manifestações de fé menos ortodoxas, quase soltam gritinhos de prazer. Gozam destas coisas como se fossem vitórias... mas vitórias contra quem? Saberão dizer?

Neste meio, como não entristecer-se? Como não experimentar aquilo que os exilados de Sião sentiam às margens do rio? Que estranho é ver os habitantes de nossa Pátria, todos acostumados ao exílio, ao ponto de quererem misturar as coisas... Que grotescas são recreações no Calvário, as palminhas, certas expressões usadas, ideologias vomitadas, todo tipo de profanações que, por seu caráter mais ou menos velado, alcançam a aprovação dos presentes.

Deus meu, até quando suportarás? Até quando assistirás estas zombarias quieto?
Se nós, que nem sabemos amar direito, nos entristecemos, o que não sentirás Tu, adorável Amor?
Eu gostaria de poder chorar...

Fábio.

Quando discutir é inútil


Nestes últimos dias, estive entranhado em algumas discussões doutrinárias, das quais pouco ou nenhum resultado se obteve. Conversava nestas ocasiões com alguns protestantes desaforados e outros carismáticos sentimentais que, passando ao largo dos argumentos usados, sabiam me ofender muito bem e julgar as minhas intenções como verdadeiros aprendizes do inferno... Que Deus os recompense tamanha generosidade.

É verdade que de uma boa discussão pode-se sair algo, mas isto quando as partes no mínimo se respeitam e se permitem expor os argumentos, centrando o diálogo no conteúdo destes mesmos argumentos. Método de covardes é, no entanto, distrair a conversa para as ofensas pessoais, dando a impressão, aos menos avisados, de que a ofensa gratuita é sinal de convicção.

Da retórica protestante que cheira a enxofre, livrai-nos Senhor;
Da retória carismática "ad hominem", livrai-nos Senhor.

Do sentimentalismo e sensacionalismo que entorpece a visão, livrai-nos Senhor.
Dos caricatos mal feitos dos carismas apostólicos, livrai-nos Senhor.

Que Deus ilumine as trevas de certos corações, para que se abram, senão à luz do Céu, ao menos a um mínimo de respeito e objetividade....

Que assim seja, amém.

Fábio.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

DOCUMENTÁRIO SOBRE SÃO RAFAEL ARNÁIZ - TRAILER



A vida do Irmão Rafael foi uma vida de intensa busca de Deus e, à medida em que ia experimentando em si mesmo a santa presença do Senhor, era levado a uma entrega cada vez maior, chegando ao anseio mais profundo da alma, que o conduz sempre mais a uma renuncia total, dando à luz o que poderíamos chamar de seu selo e assinatura: Só Deus… Só Deus … Só Deus …

Neste video-documentário gravado na Espanha, se poderá percorrer os momentos mais importantes de sua vida, sua infância e juventude, seus anseios, sua entrega a Deus, sua mística, e além disso, tudo o que o Irmão Rafael faz “hoje em dia” no mundo através de sua mensagem.

O vídeo consta de duas partes. Na primeira, se poderá apreciar sua história, desfrutando-se dos momentos mais belos da silenciosa vida do trapista. Na segunda, se poderá ver e escutar os testemunhos mais autorizados sobre sua pessoa.

Duração: 1º parte: 48 minutos - 2º parte: 36 minutos

Fonte: http://rafaelarnaiz.blogspot.com/

terça-feira, 13 de outubro de 2009

O Amor não é amado porque Maria não é amada


"O Amor não é amado", diria S. Francisco de Assis. São Luís Maria explicaria que isto se dá porque Ela, a Mãe do Amor, não é amada. Naturalmente, para amar algo, precisamos conhecer este algo. Somente o conhecemos quando com ele passamos tempo e o observamos. Quando fazemos isto, é natural que, dependendo da excelência do objeto observado, desperte-nos interiomente o desejo deste algo. Isto experienciamos diariamente. Devido à nossa desordem na afetividade, os meios que participam da excelência divina aparecem-nos, devido à sua imediatez e à nossa miopia, como fins, desejáveis em si mesmos... Tal é o caso em que, observando uma garota bela, o garoto arde em sua concupiscência, quando, ao contrário, aquela beleza participada deveria o elevar à Beleza em si, que é Deus.

Para amarmos o Filho, forçoso é amar a Mãe; para amá-la, necessário é conhecê-la e, para tal, passar tempo com ela... Este é o testemunho de inúmeros santos e, não obstante isto, quão pouco nos motivamos, vários de nós, a adentrar neste Mistério de Deus que é a Virgem. É Ela quem nos gera para a eternidade e quem nos ensina a amar o Verbo de Deus. Maria é, pois, necessária para a Salvação, não por si mesma, mas porque Deus assim o quis... O Altíssimo quis elevar aquela que, embora revestida de tão excelsas graças, fez-se humilde e pobre. Esta sua grandeza, porém, ainda discreta aos homens, só pode ser percebida quando lhe investimos nosso tempo... Se pararmos para observar Maria, pedindo que o próprio Deus abra os nossos olhos para os seus esplendores, veremos que graciosa é, acima das descrições dos santos e dos escritos dos poetas... Mais eloquente é o silêncio e, como escreveu S. Luís Maria, citando um outro santo: Hic taceat omnis lingua - Toda língua aqui emudeça.

Quando conheço a Mãe, passo a amá-la. É então que ela me apresenta o Filho e, conhecendo-O, O amo. É simples.... Dizia alguém que a distância menor entre dois pontos é a simplicidade. Maria é, ela mesma, a Simplicidade que traz nos braços o Infante Onipotente e Pobre. Para compreendermos o Mistério do Natal que se avizinha, devemos entrar naquela gruta, naquele escondimento onde Ela nos conduz à contemplação do Amor encarnado. É sempre ela quem nos mostra...

Agradeço, Senhor, porque começo a compreender...

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Rezar...


"Rezar é tirar água do poço. Mas... e se o poço estiver vazio?"
Sta Teresa D'Avila

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Os sofrimentos e a vida eterna - Imitação de Cristo


Jesus Cristo - Filho, não esmoreças nos trabalhos que empreendeste por Meu amor, nem desanimes com as tribulações, mas em todas as circunstâncias a Minha promessa te deve dar força e alegria.

Posso, com efeito, recompensar-te acima de todas as medidas e limites. Não trabalharás aqui durante muito tempo, nem sempre viverás oprimido pelos sofrimentos. Espera um pouco, e verás quão depressa acabam os males.

Chegará a hora em que cessarão todas as fadigas e angústias. Tudo aquilo que passa com o tempo é pouco e breve.

Faz com cuidado o que deves fazer; trabalha conscienciosamente na Minha vinha; a tua paga serei Eu.

Escreve, lê, suspira, guarda silêncio, fala, reza, sofre varonilmente a adversidade; a vida eterna bem merece ser comprada por estes e por outros combates ainda maiores.

A paz há-de chegar no dia que só o Senhor conhece, e não haverá mais dias e noites, como no tempo presente, mas será uma luz eterna, um esplendor infinito, uma paz inalterável, um repouso seguro.

Então não dirás: "Quem me libertará deste corpo de morte?" (Rm 7,24). Nem exclamarás: "Ai de mim, que se prolongou o meu exílio" (Sl 119,5). Porque a morte será destruída e a salvação será eterna ; não haverá mais ansiedade, mas alegria bem-aventurada, doçura da sociedade celeste e da formosura do Paraíso.

Oh! Se visses as coroas imortais que os Meus Santos possuem no Céu, e a glória de que agora gozam aqueles que neste mundo eram desprezados e até julgados indignos de viver! Certamente prostrar-te-ias até ao chão e preferirias antes estar sujeito a todos os homens do que mandar apenas num.

Não cobiçarias os dias felizes desta vida; pelo contrário, quererias ser atribulado por amor de Deus e considerarias grande vantagem ser tido por nada entre os homens.

Oh! Se experimentasses estas coisas e elas penetrassem até ao fundo do teu coração, como ousarias queixar-te uma vez que fosse?

Não te parece que para alcançar a vida eterna todas as penas se tornam toleráveis? Será pouca coisa perder ou conquistar o reino de Deus?

Levante os olhos para o Céu. Ali é onde Eu habito com todos os Meus Santos; eles travaram na terra grandes combates; agora regozijam-se e estão cheios de consolação e segurança; agora descansam em paz e permanecerão para sempre comigo no reio de Meu Pai.

Alma - Ó beatíssima mansão da cidade celestial! Ó dia luminoso da eternidade que nenhuma noite obscurece, mas que sempre brilha com os raios da soberana Verdade! Ó dia sempre alegre, sempre tranquilo, livre de qualquer vicissitude!

Quem me der que despontasse já este dia e findassem todas as preocupações materiais! Com efeito, este dia já resplandece para os Santos com a sua perpétua e esplêndida luz; porém, para nós, só se vislumbra ao longe e como através de um espelho.

Imitação de Cristo, Livro III, Cap XLVII.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Que terrível é este lugar!


Há cerca de 2000 anos, o povo judeu costumava, anualmente, subir a Jerusalém; esta viagem era motivo de grande alegria, pois estas pessoas sabiam que Jerusalém era a cidade de Deus, onde havia o Templo. Para lá chegar, eles não notavam as dificuldades ou a distância; ainda ao longe, quando somente avistavam a Cidade Santa, rompiam em cânticos e lágrimas pela graça de, mais uma vez, visitarem o lugar onde Deus estava.

Como expressão desta singular experiência, lemos nos Salmos: "Que alegria quando ouvi que me disseram: vamos subir à casa do Senhor! Eis que nossos pés já se detêm em vossas portas, ó Jerusalém! Jerusalém, cidade tão bem edificada, que forma um tão belo conjunto! Para lá sobem as tribos, as tribos do Senhor, segundo a lei de Israel, para celebrar o nome do Senhor. Lá se acham os tronos de Justiça, os assentos da casa de Davi. Pedi, vós todos, a paz de Jerusalém, e vivam em segurança os que te amam. Reine a paz em teus muros, e a tranquilidade em teus palácios. Por amor de meus irmãos e de meus amigos, pedirei a paz para ti. Por amor da casa do Senhor, nosso Deus, pedirei para ti a felicidade" (Sl 121,1-9).

Quando se sabe que Deus está, de forma particular, num determinado lugar, é grande a alegria de um servo Seu ao se perceber na Presença dELe. É o que acontece com Jacó que, ao acordar, vê que está em sólo sagrado. Dele diz a Escritura: "Jacó, despertando de seu sono, exclamou: 'Em verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia!' E cheio de pavor, ajuntou: 'Quão terrível é este lugar! É nada menos que a casa de Deus; é aqui, a porta do Céu!'" (Gn 28,16-18)

Algo similar, mas ainda mais grandioso, acontece conosco hoje. Não obstante a sua terrível grandiosidade, aparece-nos como algo simples, discreto, como é característico do Filho de Deus em Sua adorável delicadeza. Esta experiência realiza-se de forma semelhante à de Elias que reconheceu a presença do Eterno na brisa suave, aparentemente tão comum (I Rs 19,11-13). Sim, diariamente podemos ir à casa de Deus e pormo-nos em Sua Presença; não somente como Moisés diante da Sarça Ardente, nem somente como Elias diante da brisa ligeira, nem ainda como Jacó. Nos é permitido muito mais! De fato, conosco se realiza o que Nosso Senhor dissera: "Ditosos os olhos que vêem o que vós vedes, pois eu vos digo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes, e não viram; e ouvir o que vós ouvis, e não ouviram" (Lc 10,23-24).

A nós é dado estar diante dEle como os Apóstolos estiveram.. como esteve João, reclinado em Seu coração. E, como agimos diante disto? Como Elias, que cobre o rosto? Como Moisés que tira as sandálias? Como os peregrinos de Jerusalém que ansiavam o ano inteiro para poder contemplar os muros do Templo? Como Jacó, tomado de pavor diante de Deus?

Quanta indiferença de nossa parte! Quanta frieza.. Quanto gelo!
Agimos, às vezes, como cegos que se obstinam na cegueira. Tratamos Nosso Senhor como uma coisa qualquer. Evitamos devotar-lhe o nosso tempo e, hipocritamente, ousamos cantar-lhe as maiores declarações de amor. Mas, "de Deus não se zomba!" (Gl 6,7).

Rezo pra que Nosso Senhor nos mostre que grandioso é estar com Ele e, ao mesmo tempo, como é profundo o seu amor e sua simplicidade de permitir-nos achegar ao seu seio.

"Buscai o Senhor, já que Ele se deixa encontrar; invocai-o, já que está perto" (Is 55,6)

Quando se abrirem os nossos olhos, então, alegres, poderemos dizer: "Encontrei Aquele que meu coração ama. Segurei-o, e não o largarei" (Ct 3,4)

Fábio Luciano

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Primavera chegou!


Eis que chega a primavera, e com ela, nova luz, nova cor, novo calor.. a beleza produzida no inverno e, de certa forma, latente no outono, se mostra de forma pura e santa. Ah, que ordem admirável de coisas!

A primavera vem após o outono; a alegria vem depois do parto; o dia vem depois da noite; a vida vem depois da morte...

Ah, nestes tempos em que as sombras se recolhem, em que o frio dá lugar aos cálidos raios do sol, também o meu coração se ergue, e voa... e a primavera é como que prelúdio e abertura da maior doçura: o nascimento do Senhor que celebraremos daqui a pouco. Sim, a primavera é o pé desta adorável montanha que iniciamos a subir...

Que amor, Senhor, em tudo o que fazes! E que cegueira a de não podermos enxegar teus gracejos, teus carinhos, teus desenhos... como gostas do verde, do azul, do amarelo... Será isto que significa voltar a ser criança? Tudo destila amor, meu Deus... tudo! Compreendo, Senhor... na nossa sede de juntar admiradores, e de construir nós mesmos a imagem da qual nos revestimos, nos ocultamos de vossa brisa suave sob a capa impermeável de nossas pretensões e soberba.

Concede-me, Senhor, nesta primavera, despir-me de mim mesmo e, nu, sob a chuva terna de vosso amor, sob o raios do vosso coração, contemplar o arco-íris de vossa ternura infinita. Quero retirar os véus e esses pesos que, por vezes, trago comigo... Quero, suave, cantar tuas misericórdias.... Quero conhecer a liberdade dos filhos, aos quais é dado o Espírito Santo... celebrarei teus amores, oh Amor meu e, quando do Teu nascimento, quero estar, eu também, pobre e nu, contemplando a tua adorável pobreza e nudez.

Fábio Luciano.

Aos seguidores deste blog...

Amigos, ontem inventei de pesquisar alguns templates e experimentei mudar por um momento a aparência deste blog. Uma vez que o fiz, a lista de seguidores sumiu e, embora no painel, após o login, a quantidade de seguidores se mantenha, na página do blog isto não é visível.

Quero apenas comunicar que não exclui ninguém ( :) )... Vou dar uma fuçada aqui...

Fábio.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Todos defendem a democracia... mas quantos refletem sobre isso?

A democracia, como todos sabem, surgiu na Grécia num sistema nem tão democrático assim. Mas, desde então, fazem-nos decorar o que este sistema significa: "governo do povo para o povo" e fazem-nos crer, enquanto nos mostram como participantes deste grupo supostamente beneficiado, que isto deve ser o ideal para o qual a vida deve se orientar. Porém, este tipo de conversa é muito frágil. Notamos bem que, pelo menos, há algo de estranho nesta ordem de coisas, pois a atitude democrática por excelência, o voto, não tem resolvido nada... Ao contrário, deveríamos nos perguntar: é mesmo conveniente tomarmos uma decisão tão séria utilizando irrefletidamente o critério da quantidade? Quer dizer que, se democraticamente escolhêssemos um bandido declarado, a sua tomada de poder seria legítima só porque a maioria decidiu, alíás quase como sempre, pelo erro?

Nosso querido sistema democrático, fundado sobre o sempre frágil critério da quantidade, tenta legitimar o pecado, só porque a maioria dos homens são medíocres e vivem para os próprios desejos; muito bem! A mediocridade será, então, o valor propagado.. e não é isto o que vemos nas televisões, nas escolas, nas conversas?

Estes dias eu conversava com um amigo; contava-me ele do caso de alguns "atletas" de academia que, numa verdadeira idolatria pelos músculos, inventaram de tomar vitaminas para cavalos. Daí eu pergunto: será realmente algo interessante pôr nas mãos de cavalheiros como esses (quase cavalos) a decisão de algo importante? E estes são os legítimos representantes da maioria! Observemos bem: a maioria dos jovenzinhos hoje tenta reproduzir em vida aquilo que assiste em telenovelas e outros programas jovens imbecis. Se não idolatram os músculos propriamente, idolatram as próprias paixões e as toscas aventuras amorosas que aprendem a desejar como um bem...

Nunca vi ninguém pôr nas mãos de desocupados o compromisso de uma grande empresa; nunca tive a oportunidade de ver, por exemplo, ser dado a um bêbado o trabalho de discursar num ambiente de intelectuais ou de ser confiada a uma criança a construção de um edifício. Estes trabalhos sempre são confiados a pessoas que tenham a possibilidade de fazê-los. Os moradores de uma residência não ficam com raiva porque não participaram diretamente da sua construção; antes, ficam agradecidos pelo trabalho do construtor de que agora podem gozar. Todos estes feitos bem ordenados não são nada democráticos, porque se confiam a alguém que os possa fazer, que para isto tenham especial treino.

A quantidade só vale de algo quando ninguém tem idéia do que se deva fazer, que rumo tomar. Quando todos estão perdidos, podemos decidir até no cara e coroa. Mas quando podemos refletir e decidir pelo  bem objetivo, considerar todas as opiniões como igualmente válidas é insistir na burrice. Mas este igualitarismo medonho que tentam impor nos tempos de hoje faz com que todos se sintam estrelas e, no meio da ludibriação geral, a maioria desavisada sempre terminará por fazer mais uma burrada. E aqui não se trata de ser preconceituoso, mas de realista. Desde antigamente, os sábios sempre foram minoria. Os especialistas de qualquer área sempre serão um contingente pequeno da população. Isto é assim pela própria ordem das coisas.

Agora, então, vemos o cúmulo: a democracia na religião. A liturgia já não é vista como algo que nos veio de cima, mas como algo inventado; algo que tem o direito de ser múltiplo visto que reflete a multiplicidade de conceitos e modos. Aqui, mais uma vez, o que vale é a quantidade, o lugar, os gostos pessoais. Cai-se num total relativismo que não é, senão, a destruição da própria religião em si. E pelo igualitarismo protestante que daí se forma, o padre passa a comportar-se como leigo e o leigo, por sua vez, vê-se no direito de quase celebrar. Os membros de outras denominações passam a ser irrefletidamente elogiados e aceitos juntamente com todos os seus erros, porque se excluiu da vista o objeto real da Fé; passa-se a encará-la como resultado de um processo subjetivo. Não me espanta, por isso, que muitos católicos de hoje, inclusive clérigos e bispos, sejam tão gelados e insensíveis com relação a Deus e, ao mesmo tempo, tão avessos à verdadeira Fé, que se funda, não no critério da quantidade, mas no da autoridade, em vista de uma Verdade que existe por si, independentemente do que dela pensem os vários indivíduos.

A democracia, de fato, me parece muito estranha...

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

E vós, quem dizeis que eu sou?


A resposta a esta pergunta feita por Nosso Senhor é crucial. De fato, quem é Jesus pra nós? É claro que, talvez, responderemos a isto facilmente: "É Deus... a razão da nossa vida". No entanto, penso que a resposta vai muito além do que uma mera afirmação vocal. Quando Pedro fez sua declaração de Fé, dizendo que Jesus era o Cristo, o Filho de Deus vivo, ele não falava isso tranquilamente, como se esta resposta não o comprometesse terrivelmente; não era uma frase qualquer que Pedro dizia, como quando nos perguntam o que faremos depois do trabalho. Não! Juntamente com a voz, Pedro transpirava o conteúdo daquelas palavras; ele as vivia e saboreava.

Vejo ainda que algo semelhante quer dizer o Apóstolo ao escrever: "ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor se não tiver o Espírito Santo". A gente até poderia brincar: "João escreveu isso porque não conhecia a igreja universal do reino de deus".. Não... O que João propõe é muito maior: dizer, aqui, não se resume a uma questão fonética, está para além disto; implica em dizer com a vida, em permitir que os outros leiam Jesus em nós, pra usar a expressão de S. Josemaria. E isto é grandioso...

A resposta a esta pergunta pode ser dada por qualquer um. Ouvimos ou vemos o que muitos respondem: é Elias, É João Batista, é um precursor de Marx, é um revolucionário, é um sonhador, é um hippie, é um mestre espiritual, é um buda...". No entanto, a resposta verdadeira somente pode ser dada por quem O conhece e isto implica necessariamente em deter-se com Ele, em passar tempo, em observá-Lo, em estar sentado aos Seus pés e aprender... Por este conhecimento, passamos a amá-Lo e, então, percebemos, como o discípulo amado, quem, de fato, Ele é (Jo 21,7).

Que isto não sirva para dar margem, por favor, a qualquer tipo de individualismo... Nunca, jamais pretendo escrever algo que esteja fora do contexto da Santa Igreja. A vida de santidade somente é possível dentro dos seus muros espirituais, sob o primado de Pedro. Esclarecido isto, continuemos...

Dizer corretamente quem Jesus é só é possível se O conhecemos e amamos; isto faz de nós seus seguidores. A proclamação de que Jesus é o Senhor, o Filho do Deus vivo, se faz com a vida, com o testemunho da Fé, da Esperança e da Caridade. E Aquele que O ama, com a alma, descobriu a felicidade e iniciou a vida eterna.

Ricardo de S. Vítor faz uma interessante observação: Nosso Senhor parece diferenciar os seus Apóstolos, aqueles que lhe estão próximos, dos demais, como se eles, os Apóstolos, estivessem acima dos homens. "Quem dizem os homens que eu sou? E vós?..." Com isto, o escritor termina por demonstrar que os que conhecem a Cristo e que vivem na Sua intimidade, não são meros homens, mas estão acima disto; na sua aparente ordinariedade, na sua vida comum, eles vivem de Deus e, dessa forma, se deificam, ou melhor, são deificados; são os que são chamados a transcender o nível do homem animal e alcançar o de homem espiritual. Só estes podem, de fato, dizer que Jesus é o Senhor, pois é o próprio Espírito Santo que os inspira e ensina os segredos do Esposo.

Por fim, vejo que, nesta pergunta, Nosso Senhor nos dá uma preciosa pista; a mesma que outras vezes usou e que foi motivo de raiva para seus adversários: - E vós, quem dizeis que "EU SOU"? Isto é apenas uma observação pessoal, mas, neste "EU SOU", proferido pela primeira vez no monte Horeb a Moisés pelo próprio Deus, reside o segredo da identidade de Jesus. De fato, Ele é! E isso é grandiosíssimo! Dizer que só Ele é, é dizer que Ele é a causa e o fundamento de tudo quanto existe; É o mesmo que se quer dizer com aquelas palavras: "Eu sou a Videira,e vós sois os ramos", "Sem Mim, nada podeis fazer" e, de uma forma ainda mais clara, "Eu sou a Vida".

Como não tremer diante dEle? O conhecer a Jesus não se faz de uma forma fria, como se fosse qualquer coisa. É como dizia Pascal, mais ou menos nestes termos: "quando O conhecemos, imediatamente nos prostramos, eternamente escravos de amor".

Diante disto, só podemos pedir: Revela-nos Tua Face, oh Senhor, e o nosso coração será teu para sempre.

"E vós, quem dizeis que Eu Sou"? Que a nossa resposta a esta pergunta faça abalar os alicerces deste mundo tenebroso e que a violência do Nosso Amor pelo Senhor arranque as almas do erro afim de arremessá-las no abismo do amor divino.

Fábio Luciano

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Sobre a vida perfeita - S. Gregório de Nissa



Na postagem anterior, tratei da visão de S. Gregório sobre a perfeição evangélica. Disponibilizo aqui o texto em que ele escreve sobre este tema.

Pediste-me, meu querido, que te trace um esboço de qual é a vida perfeita, com a intenção evidente de aplicar a tua própria vida – se o que procuras se encontra em minha resposta – a graça indicada por minhas palavras. Sinto-me igualmente incapaz destas coisas: confesso que se encontra acima de minhas forças tanto o definir com palavras em que consiste a perfeição, como o mostrar em minha vida o que o espirito entende dela. Talvez não só eu, mas também muitos dos grandes e avançados na virtude confessarão que uma coisa assim também não é alcançável para eles. Explicarei com a maior clareza o que estou tentando dizer, para não parecer, dizendo-o com as palavras do Salmo, que tenho temor onde não deve haver temor (Sal 13, 5).

Em todas as coisas pertencentes à ordem sensível, a perfeição está circunscrita por alguns limites, como sucede com a quantidade contínua ou descontínua. Com efeito, tudo aquilo que se pode medir quantitativamente se encontra em limites bem definidos, e alguém que considere um pedaço ou o número dez sabe bem que, para essas coisas, a perfeição consiste em ter um começo e um fim. Por outro lado, com relação à virtude, aprendemos com o Apóstolo que o único limite de perfeição consiste em não ter limite.

Aquele divino Apóstolo, grande e elevado de pensamento, correndo sempre pelo caminho da virtude, jamais cessou de se lançar para a frente, pois lhe parecia perigoso deter-se na corrida. Por que? Porque todo o bem, pela própria natureza, carece de limites, e só é limitado pela presença de seu contrário, como a vida é limitada pela morte e a luz pelas trevas; em geral, tudo aquilo que é bem tem seu fim naquilo que é considerado o oposto do bem. Assim como o fim da vida é o começo da morte, assim também o deter-se na corrida pela virtude é o princípio da corrida ao vício.

Por este motivo, não nos enganava nosso raciocínio ao dizer que, no que diz respeito à virtude, é impossível uma definição da perfeição, já que demonstramos que tudo que se encontra demarcado por alguns limites não é virtude. E como eu disse que para aqueles que vão atras da virtude é impossível alcançar a perfeição, esclarecerei meu pensamento com relação a esta questão.

O Bem em sentido primeiro e próprio, aquele cuja essência é a Bondade, esse mesmo é a Divindade. Esta é chamada com propriedade – e é realmente – tudo aquilo que implica sua essência. Como já foi demonstrado que a virtude não tem mais limite alem do vício, e foi demonstrado também que na Divindade não cabe o que é contrário, conclui-se consequentemente que a natureza divina é infinita e ilimitada. Portanto, quem busca a verdadeira virtude não busca outra coisa senão Deus, já que Ele é a virtude perfeita. Com efeito, a participação do Bem por natureza é completamente desejável para quem o conhece, e, alem disso, o Bem é ilimitado; segue-se, pois, necessariamente que o desejo de quem busca participar dele é coextensivo com aquilo que é ilimitado, e não se detém jamais.

Portanto, é impossível alcançar a perfeição, pois, como já dissemos, a perfeição não está circunscrita por nenhum limite; o único limite da virtude é o ilimitado. E como poderá alguém chegar ao limite prefixado, se este limite não existe? Porem o fato de havermos demonstrado que o que buscamos é totalmente inatingível, não justifica que se possa descuidar do preceito do Senhor, que diz: Sede perfeitos, como é perfeito vosso Pai celeste. (...) Deve-se portanto, pôr todo ardor em não estar privado da perfeição possível e, em conseqüência, em alcançar dela tanto quanto sejamos capazes de receber em nosso interior. Talvez a perfeição da natureza humana consista em estar sempre dispostos a conseguir um maior bem.

S. Gregório de Nissa, Vida de Moisés

Algumas questões muito interessantes.

Ontem à noite, após a Santa Missa, fui a uma praça, onde frequentemente levo alguns livros ou apostilas para fazer algumas leituras e/ou anotações. Gosto de ir lá, pois, além de estar de frente a uma capela e poder avistar a imagem da Virgem de Fátima, o ambiente costuma ser bem ventilado, e as crianças geralmente estão a brincar... Num dia destes eu as ouvi conversar sobre astronomia (kkk...), claro que dentro da simplicidade que lhes é própria.

Ontem levei um livro que há tempo não abria. Trata-se dos escritos de um rapaz chamado Bruce Jun Fan Lee (o famoso Bruce Lee) que, embora poucos saibam, era formado em filosofia chinesa. O livro é entitulado "Tao of Jeet Kune Do" e, além de tratar de artes marciais, é permeado de Filosofia. Eu diria, mesmo, que há muito mais filosofia nele do que, propriamente, técnica marcial. Sua orientação é assumidamente zen-budista, pelo que, realmente, algumas coisas não se aproveitam. Fiquei feliz e um tanto surpreso em notar que, na leitura, identificava com facilidade alguns falsos pressupostos e, consequentemente, o caráter irremediável de certas afirmações dele, enquanto que, antigamente (na adolescência), eu costumava lê-lo quase com devoção e tudo me aparecia como que revestido de uma grande autoridade.

No entanto, muito do que ele escreve, realmente, visto sob a ótica do Evangelho, é muito verdadeiro. Claro que eu estou fazendo como que um deslocamento de sua teoria. É como se eu conservasse-lhe certos acidentes, mudando porém a substância ou a base em que se firmam.

Numa de suas assertivas, ele escreve mais ou menos o seguinte: "Seja simples. Não estabeleça objetivos. Quando o homem estabelece um objetivo, ele está se condicionando a um limite, ele se fragmenta".

Considerei isto muito profundo.Claro que, alguém que me queira importunar, pode ler isto e identificar aí alguma heresia... esta constatação, porém, deve-se mais à lente com que se olha. Esvaziemo-nos um pouco, eu peço.

A princípio, isto parece identificar-se com um preceito dos padres do deserto, em que se afirma mais ou menos o que segue: "o santo não estabelece metas; ele não se atém à própria vontade". Cito estas coisas de memória, e, portanto, me atenho mais ao sentido que à exatidão dos termos. O estabelecer um objetivo muito bem definido, de fato, pode significar um estreitamento de potencialidades. Além disto, considerar as coisas segundo a nossa vontade, ou o gosto que delas temos, significa ver a realidade de forma fragmentada, o que impede-nos de observá-la em sua totalidade. Daí S. João da Cruz afirmar que o processo de santificação do homem faz com que ele deixe de amar e de querer segundo o modo que lhe é próprio; ele deve esvaziar-se disto; é o que ele chama de "pássaro sem cor definida".

Também S. Gregório de Nissa, grande místico, escreve a um discípulo sobre o preceito de ser perfeito, dado por Nosso Senhor. Sabemos que, na filosofia, o conceito de perfeição supõe o de limite e acabamento. É perfeito algo que é acabado em si mesmo. Portanto, S. Gregório afirma que "alcançar a perfeição", no sentido evangélico, é quase que uma contradição. Isto não implica nenhuma falsidade ou erro na ordem dada por Nosso Senhor, mas é conveniente que compreendamos bem isto, para não darmos à santidade um limite que ela não tem.

Para S. Gregório, a perfeição, no sentido evangélico, não tem limites, pois é própria de Deus. Mesmo assim, o homem pode e deve aspirá-la, pois foi-lhe dito: "sede perfeito como Deus é perfeito". Quando dizemos que alguém alcançou a perfeição, é como se disséssemos que alguém chegou ao termo do ilimitado, o que é uma contradição em si mesmo. A perfeição, neste sentido, só é limitada pela sua falta ou ausência. Assim, a vida é limitada pela morte, a santidade pelo pecado, a virtude pelo vício. Mas é próprio da perfeição, no sentido evangélico, estar aberta ao infinito. Alcançar a perfeição não se faz nesta vida, embora desde já devamos iniciar o processo de aperfeiçoamento que se consumará na eternidade. Esta consumação, embora nos evoque ainda o sentido de um termo, abre-nos a uma liberdade que não é tolhida, pois a eternidade é a participação na própria vida de Deus.

Enfim, lendo o rapaz Bruce Lee, a quem tanto estimei em outros tempos, de fato, pude retirar certos preconceitos erigidos por mim mesmo, na compreensão de muitas coisas. E isto não foi, senão, como que um dedo apontando para a seriedade e profundidade da teologia negativa ou apofática, que tanto admiro, e que tem esta capacidade única de nos abrir à eterna novidade de Cristo, de nos desprender de nosso pequeno leque de experiências e conceitos, de nos corrigir as pretensões, de mostrar que Deus está sempre além. Quando aprendemos a ser simples, com aquela simplicidade das crianças que Nosso Senhor recomendou, então enxergamos a realidade também sem rodeios, de forma direta, e não segundo um grupo condicionado de respostas que, não obstante possam ser verdadeiras em si, não impedem que as usemos de forma superficial e que nos limitemos às suas imagens. É então, na simplicidade, que conhecemos a liberdade.

E, antes que estranhem, talvez, estas afirmações, advirto que o seu sentido se encontra nas páginas do grande místico S. João da Cruz, doutor da Igreja que, como escreveu o Papa João Paulo II, é claríssimo dardo de luz, erguido até o fim dos tempos, a fim de guardar contra as heresias, e mostrar um caminho seguro.

Fábio Luciano

Obs.. Não simpatizo com o budismo, não gosto do sincretismo feito pelo Thomas Merton na última fase de sua vida...

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Rever a Deus



O filósofo francês e católico Léon Bloy testemunha, num de seus escritos, que algo que o emociona profundamente é a idéia de que um dia irá rever a Deus. Oh.. que esperança benfazeja! Se é a sede o que nos faz caminhar neste deserto, a promessa da Água que nos saciará move-nos violentamente e, num misterioso paradoxo, ao mesmo tempo em que dá-nos como que um antegozo daquele dia, também nos aviva a ferida da saudade.

No entanto, nosso bondoso Deus não quis esperar tanto para nos rever. Claro que, naquela futura ocasião, a visão será face a face e a saciedade será completa. Desde já, porém, dá-nos a graça de revê-Lo. "Eis que estou todos os dias convosco; podes rever-me quando quiseres"... "Buscai a Deus enquanto Ele se deixa encontrar"... Nosso Senhor se deixa ver e rever... Ah, se soubéssemos que dom maravilhoso é poder olhá-Lo enquanto reis e profetas ansiaram por esta experiência.

Daqui a pouco estarei indo à Santa Missa, e então, pela graça de Deus, me será dado rever, com os olhos da Fé, o amabilíssimo Jesus. Então, serei como que aceito aos pés da Sua cruz onde, quieto e recolhido, O olharei.

A Santa Missa é, já, o antegozo do Céu; é o Céu na terra... É, de fato, onde podemos rever a Deus, embora ainda pela Fé. Isto, no entanto, não diminui a Presença. Aprendamos a olhá-Lo, a amá-Lo, a estar com Ele.

S. João, no seu Evangelho, nos diz que o Filho repousava no seio do Pai; por esse motivo, o Filho, conhecendo o segredo do Pai, deu-Lhe a conhecer. Também o Apóstolo, na última Ceia, reclinava-se no peito de Jesus; não à toa o seu Evangelho é considerado o mais perfeito. É dessa intimidade com o Esposo que João dá a conhecer o mistério do Amado Senhor. Da mesma forma, além de revê-Lo, na Santa Missa podemos reclinar no Seu peito e, não apenas isso, podemos adentrar no Seu coração e adentrá-Lo no nosso.

Este "rever" a Jesus, estando muito além de uma experiência ótica, é a causa da verdadeira alegria, da verdadeira vida do Cristão. É neste abraço inefável que Cristo nos ressoa ao ouvido: "Que a minha alegria esteja em vós, e que a vossa alegria seja plena".

Fábio Luciano