"Cego, alcançado em anos, muito velho, o Venerável Beda nem por isso deixava de pregar a Boa Nova, a palavra de Deus alvissareira. Ubiquamente, por cidades e aldeias, conduzido pelo guia fiel, vagava o santo, cego e encanecido, pregando, com todo o fogo e entusiasmo da mocidade, a palavra divina.
Um dia, o moço que o guiava levou-o a um vale deserto e rodeado de rochas alterosas e, por zombaria, mais do que por malícia, disse-lhe: "padre, eis que se ajuntou uma multidão imensa de pessoas, que querem ouvir a tua voz celeste."
O pobre cego, embora corcunda, ergueu-se, empertigando-se, procurou o seu texto, e sobre ele falou e o aplicou; exortou, aconselhou, repreendeu, e consolou, com tal unção e tamanho fervor que as lágrimas se lhe arrebentaram dos olhos, inundando-lhe em caudais as barbas brancas.
Quando, perorando, ele suplicava: "Pai do Céu, és Todo Poderoso, e reinas sobre tudo, glória a ti agora, e sempre, e por todos os séculos dos séculos, e por toda a eternidade", pelas quebradas repercutiram, unânimes, os ecos de milhares de vozes, conclamando: "Amém! Padre, amém! Amém!"
Tomado de horror e de remorso, o moço caiu de joelho aos pés do santo e confessou-lhe o seu pecado. "Filho", disse-lhe o santo ancião, "nunca leste então que, se os homens emudeceram, hão de as pedras clamar?... A palavra de Deus tem vida, é poderosa, e fere qual espada de dois gumes. E, se o coração humano duro e obstinado se faz empedernido, um coração de carne palpitará nas próprias pedras."
Brooks (Thomas ???) citado por Agrippino Griecco in: S. Francisco de Assis e a Poesia Cristã. Rio de Janeiro: Edições de Ouro, 1967. p. 71-72.
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