segunda-feira, 30 de julho de 2012

Sta Teresinha e sua primeira Confissão


Ó minha Mãe querida! com que solicitude me preparastes, quando me explicastes que não era a um homem, mas ao Bom Deus que iria contar meus pecados. Disto estava tão convicta, que fiz minha confissão com grande espírito de fé, e cheguei até a perguntar-vos, se não seria mister referir ao Padre Ducellier que o amava de todo o meu coração, pois que em sua pessoa era ao Bom Deus que ia falar.

Bem instruída a respeito de tudo quanto devia fazer e dizer, entrei no confessionário e pus-me de joelhos. Quando, porém, abriu o postigo, Padre Ducellier não enxergou ninguém. Era tão pequena, que a cabeça não alcançava o parapeito, onde se apoiam as mãos. Então mandou-me ficar de pé. Obedecendo imediatamente, levantei-me e postei-me bem na frente dele para o ver melhor. Fiz minha confissão, como se fosse uma menina grande, e recebi sua bênção com grande devoção, porque me havíeis explicado que, nesse momento, as lágrimas do Menino Jesus purificariam minha alma. Lembro-me de que a primeira exortação que me foi feita, incitava-me principalmente a ter devoção à Santíssima Virgem, e prometi a mim mesma redobrar minha ternura para com ela. Ao sair do confessionário estava tão contente e lépida, como jamais sentira tamanha alegria na alma. Depois, tornava a confessar-me em todas as grandes festas litúrgicas, e para mim era cada vez um verdadeiro gozo, quando o fazia.

Sta Teresinha de Lisieux, História de Uma Alma.

Teresinha e o seu pobre


Nos passeios que fazia com ele, papai gostava de me mandar entregar a esmola aos pobres que encontrássemos. Certo dia vimos um que se arrastava com dificuldade em muletas. Acerquei-me para lhe dar um óbolo. Mas, não se julgando bastante pobre a ponto de aceita a esmola, ele olhou-me com triste sorriso e não quis pegar o que lhe oferecia. Não consigo descrever o que se passou em meu coração. Quisera consolá-lo e reconfortá-lo. Em lugar disso, porém, julguei que o tinha magoado. O pobre doente adivinhou por certo meu pensamento, pois que o vi virar-se para trás e envolver-me num sorriso. Papai acabava de comprar um doce para mim. Bem me veio a vontade de lho dar, mas não tive coragem. Ainda assim, queria dar-lhe alguma coisa que não me pudesse refugar, pois sentia por ele uma simpatia muito grande. Ocorreu-me então ter ouvido falar que, no dia da primeira comunhão, a gente obteria tudo o que pedisse. Este pensamento foi um consolo para mim, e disse comigo mesma, embora só tivesse seis anos ainda: "Rezarei pelo meu pobre no dia da minha primeira comunhão". Cumpri a promessa cinco anos mais tarde, e espero que o Bom Deus tenha atendido a oração que me inspirara a fazer-lhe por um de seus membros sofredores...

Sta Teresinha de Lisieux, História de Uma Alma

domingo, 29 de julho de 2012

"Só no Céu haverá alegria sem anuviamento"


Bonitos para mim eram os dias em que meu "rei querido" me levava à pescaria consigo. Tinha tanto amor ao campo, às flores e às aves! Tentava às vezes pescar com minha varinha, mas de preferência ia sentar sozinha na relva florida. Meus pensamentos aprofundavam-se bastante e, sem saber o que era meditar, minha alma mergulhava em autêntica oração... Ouvia ruídos ao longe... O murmúrio do vento e até a música indecisa de soldados, cuja sonoridade me chegavam aos ouvidos, melancolizavam suavemente meu coração... A terra parecia-me lugar de degredo, e eu sonhava com o Céu... A tarde passava rápida, e dentro em pouco era hora de regressar aos Buissonnets. Antes de partir, porém, tomava o lanche trazido no meu cestinho. Mudara de aspecto, a linda merenda com geléia de fruta que me tínheis preparado. Em lugar da cor ativa, já não via senão uma ligeira mancha cor de rosa, toda ressequida e amarfanhada... Então a terra se me apresentava mais tristonha ainda, e compenetrava-me de que só no Céu haverá alegria sem anuviamento... 

 Sta Teresinha de Lisieux, História de Uma Alma

"Não quero ser santa pela metade"


"Mais tarde, quando se me tornou evidente o que era perfeição, compreendi que para se tornar santa era preciso sofrer muito, ir sempre atrás do mais perfeito e esquecer-se a si mesmo. Compreendi que na perfeição havia muitos graus e que cada alma era livre no responder às solicitações de Nosso Senhor, no fazer muito ou pouco por Ele, numa palavra, no escolher entre os sacrifícios que exige. Então, como nos dias de minha primeira infância, exclamei: "Meu Deus, escolho tudo". Não quero ser santa pela metade. Não me faz medo sofrer por vós, a única coisa que me dá receio é a de ficar com minha vontade. Tomai-a vós, pois "escolho tudo" o que vós quiserdes" 

 Sta Teresinha de Lisieux, História de Uma Alma

quarta-feira, 25 de julho de 2012

À santidade se vai pela kenosis


"Já não vivo eu, mas é Cristo que vive em mim", escreve S. Paulo, mostrando que o cristianismo é um caminho de negação do eu para que apareça verdadeiramente quem nós somos. Esta verdade sobre nós dorme sob a capa densa dos nossos desejos e medos. É necessário, pois, negar este eu superficial a partir do qual a imensa maioria de nós age. É preciso fazer a experiência da "kenonis", do rebaixamento que o próprio Cristo fez, a fim de que se manifeste quem nós somos, manifestação pela qual a terra inteira geme em dores de parto.

É esta a proposta de Jesus: "quem quiser me seguir, negue-se". Ainda ontem, eu lia das revelações de Jesus a Sta Brígida: "somente irá entrar no céu os que se humilham e se mortificam". E o que são a humilhação e a mortificação senão o rebaixamento da alma e do corpo, respectivamente? Este falso eu que todos trazemos, altivo e inconstante, não é quem de fato nós somos. Ou descobrimos a nossa verdadeira identidade - e para isso, é preciso procurar em Deus - ou morreremos e nos daremos conta da grande mentira que fomos e que estaremos - Deus nos livre - condenados a estender pela eternidade.

Se a via da conversão é mesmo uma via de negação do próprio eu, pouquíssima gente faz progressos no mundo. Antes, se poderia dizer que o cristianismo, como é pregado nos moldes atuais pela maioria, se encontra precisamente no rumo oposto, isto é: o da promoção do próprio ego. Não à toa Jesus diz que são pouquíssimos os que encontram o Caminho.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Saudade não tem tradução


Há uma música bastante conhecida, da banda Rosa de Saron, que diz que "saudade não tem tradução". Eu sempre apreciei a frase.. De fato, segundo se diz, o termo "saudades" parece não ter um equivalente exato em outras línguas... É diferente, por exemplo, do "missing" inglês. Alguns dizem que isto é mito, e que há sim... Eu não conheço todas as línguas, pelo que não posso afirmá-lo nem negá-lo. Mas, obviamente, a expressão da música não se restringe a estas questões idiomáticas. Há um significado muito mais profundo e que se refere à inexpressibilidade daquilo que se sente. A carga semântica do termo "saudade" ainda não alcança o realismo do que se experiencia... Por isso, eu sempre gostei da frase.

Dias atrás, porém, eu tive uma fortíssima evidência disto. "Saudade não tem tradução"... Sim, de fato, eu vi, eu constatei que não tem... não tem... Por mais que se diga, nunca se diz inequivocamente aquilo que se passa na alma. Penso que é disto que S. João da Cruz fala quando escreve que uma coisa é a notícia - isto é, a palavra - e outra é a substância - a realidade que a palavra pretendeu evocar. O amor é, de fato, de uma ordem transcendente.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Reencontrar o tesouro

Quem for estudar as origens do Cristianismo, verá que a natureza dele é totalmente distinta do discurso romântico moderno. Abandonou-se a ênfase metafísica e erigiu-se em seu lugar o reino do subjetivismo. O cristianismo em muitos lugares está irreconhecível. Não à toa os cristãos ortodoxos se divertem com os católicos romanos modernos... A nossa perda do senso legitimamente espiritual tem sido motivo de chacota, desperdício de tempo e esterilidade espiritual. Reencontremos o tesouro escondido.. ele é muito diferente dessa bijuteria que temos ostentado com vão orgulho nestes dias. Enquanto vivermos no campo dos sentimentos e das sensações, não daremos com O caminho, pois estaremos restritos a nós mesmos, ocupados com nossa miséria...

O que a mística não é...


Se, hoje em dia, em pleno século XXI, era da ciência e herdeira dos ideais iluministas, alguém ainda assim quiser ser um espiritual, como é que faz? É só querer? É nada... Queira o quanto possa, a coisa não vai só assim.. "Ah, mas eu escuto o Pe. Fábio de Melo e leio os livros do Augusto Cury.. não é suficiente?" Quê?! É mais fácil se tornar um espiritual assistindo anime japonês do que por aí...

Interessante que, hoje em dia, esse é o tipo de afirmação que causa revolta nalguns pretensos elevados. Esse é o tempo em que nada pode ser dito com clareza; tudo tem de fazer parte de uma sopa de ingredientes indefinidos.. é suficiente que cheire bem. A sensibilidade foi elevada ao critério de verdade. No mundo moderno, há um grande repúdio pela clareza. Uma coisa clara é uma coisa definida, isto é, é algo que é de um modo e não é de outro. Portanto, não convém fazer afirmações claras, porque isto fere susceptibilidades alheias. Ser bom, hoje, é respeitar todas as idéias, correntes, ideologias, etc, etc. Quem pensa assim, vive numa espécie de contínua ebriedade; ela não tem noção clara de nada; apenas tem idéias nubladas, fragmentadas e erige sempre como critério a própria simpatia. Foi simpático a uma idéia? A idéia é boa. A idéia não agradou? É ruim. São incapazes de fazer a pergunta: mas porque tal coisa me causa simpatia ou antipatia? E o bêbado vai caminhando, escutando Pe. Fábio de Melo e lendo Augusto Cury, projetando um deus da sua simpatia, dormindo no conforto das próprias suposições e vendo com maus olhos qualquer um que ouse definir bem as coisas, separando a luz das trevas. 

Nós vivemos num tempo humanista. Os maiores valores são aqueles que promovem o bem estar. Estar em paz com Deus virou sinônimo de estar tranquilo e agradável. Misteriosamente, se crê que Deus obedece real e servilmente os movimentos inconstantes da alma. Oh que sacro e inconcusso vínculo este da alma com Deus que a permite reconhecer imediatamente em si a atual disposição divina para consigo.. E como o sabe? O sabe pela sensibilidade.. está a se sentir bem, foi à Missa e se sentiu tocada... que maior garantia de que Deus a observa do alto com um sorriso largo no rosto e quase que se segura para não dizer-lhe: "eis o meu filho bem amado..."?

Religião serve para quê? "Ora, é para promover o bem estar!", dizem.. C.S. Lewis diz que uma garrafa de cachaça cumpriria melhor esse papel. Não à toa ela tem se convertido num novo ídolo. Mas, se é o bem estar o valor supremo, então vamos fazer uma religião à nossa imagem e semelhança, à altura do homem; importa que seja criação nossa, um novo bezerro de ouro, e o chamaremos de Deus, ou de Jesus, ou do que quer que seja. Apenas não aceitaremos que alguém de fora nos ensine; não aceitaremos aprender; não aceitaremos que as coisas já sejam de antemão... Não aceitaremos que alguma pretensa deidade venha nos dizer "Eu sou", porque, na verdade, "nós é que somos". Partimos do pressuposto de que, desde sempre, nós conhecemos a natureza deste negócio e ele é assim como dizemos que é. Se alguém não se sente bem, a gente adapta.. Toca aquela música lá.. põe essa ênfase aqui.. diz aquela frasesinha tola e clichê que provoca arrepios.. diz que ele vai ser acolhido no céu de todo jeito... Penitência? Mortificação? Ora, deixemos de medievalidades.. Naqueles tempos obscuros, o povo aceitava uma religião pretensamente ensinada pelo próprio Deus. Hoje, em pleno século XXI, a gente sabe que não é bem assim. Tudo é simbólico e, em última instância, somos nós que interpretamos os símbolos. 

Já não se observa mais que a verdade existe e é objetiva. Não se observa mais que o bem existe e é objetivo. Tudo pode ser distorcido, puxado de um lado, estendido de outro, segundo a divindade do nosso próprio conforto. Um Deus numa cruz? Que coisa medonha! Tira daí.. Põe a cruz vazia, ou então, põe Ele sem a cruz... Cruz pra quê? Importa que a gente se ame...

E o amor fica raso... e ninguém sabe exatamente o que é o amor.. E as pessoas acreditam que amar é dissimular, ter respeitos humanos, onde a regra suprema é não incomodar o outro. Tornam-se cúmplices silenciosos de crimes e pecados mútuos, e se sorriem, e se vão empurrando e crendo que, pelo fato de não haver atrito, estão a atingir o sumo grau da caridade.

Ai, Deus.. Quem ensinou o homem a ser tão tolo? Nada disso é mística. Nada disso é caridade. Nada disso é espiritualidade. Nada disso é cristianismo... Não vai nem perto. Não avista nem de longe.

Em qualquer lugar em que, na terra, houver alguém confortável, pode-se acreditar que o cristianismo ali não foi aceito. Como dizia Gustavo Corção, "é terrível a seriedade do cristianismo". 

O humanismo é tolo, é fragmentário, é falso, é satânico: "sereis como deuses". O homem só encontra a sua dignidade quando se abre à severa objetividade daquele Outro. Enquanto não O aceita tal qual é, prosseguirá na sua brincadeira medíocre de se auto-projetar, só mais um jeito confortável de acreditar ser, ele mesmo, seu próprio deus. A serpente do Éden é a verdadeira rainha deste mundo... e um dos seus maiores divertimentos é compor discursos pseudo-católicos. Mas como dizia Nosso Senhor: "quem tiver olhos, que veja!", pois eu não vos fiz cegos. 

terça-feira, 17 de julho de 2012

Hildegard Von Bingen



Sintomas de saudade...


Depois de passar um pouco de tempo com bons amigos, eles foram... e eu fiquei. Acostumado que sou a desapegar-me, desta vez, porém, a ausência se impôs e o coração reclamou. Muito boa a amizade. E isto é o que me falta. Os amigos, os tenho, mas vão distantes.. os de perto, são pouquinhos. Posso, porém, dizer que, na saudade que sinto, há como um vislumbre do Céu. Que esta falta se converta em força, pois é preciso lutar pela bem-aventurança. Lá, enfim, será o grande encontro de verdadeiros amigos. Integrados todos, saber-se-á o que é ser família - até aqui, não o sei. A esperança do céu é o único ânimo da vida. Que não se pense ser isso pouca coisa. Benditos os amigos que me trazem notícias da eternidade, mesmo que, por ora, elas venham pintadas de dor e de vazio. Sinto-lhes tremendamente o vácuo. Amo os meus amigos... os poucos que tenho.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Senhor, tende piedade de mim...



Senhor, tende piedade de mim!... sofro, sim..., mas quisera que meu sofrimento não fosse tão egoísta; quisera, Senhor, sofrer por tuas dores na Cruz, pelos olvidos dos homens, pelos pecados próprios e alheios..., por tudo, meu Deus, menos por mim."

S. Rafael Arnaiz Barón

quarta-feira, 11 de julho de 2012

A falsidade do orgulho


Um homem que presume ser muito importante tentará ser multiforme, buscará uma excelência aparatosa em todos os pormenores, tentará ser uma enciclopédia de cultura, e sua verdadeira personalidade será perdida num falso universalismo. Pensar ser muito importante o levará a tentar ser o universo; a tentativa de ser o universo o levará a deixar de ser. Suponhamos que, por outro lado, um homem seja sensível o bastante para pensar sobre o universo, ele o pensará em termos individuais. Manterá intocado o segredo de Deus; verá a grama como nenhum outro homem conseguirá vê-la, e olhará para o sol como nenhum homem jamais olhou.

G. K. Chesterton, Hereges.

domingo, 8 de julho de 2012

Tesouro, de novo...


A Sagrada Escritura nos diz que encontrar um amigo é encontrar um tesouro. Como poderíamos, então, definir a alegria de reencontrar este amigo? 

Neste dia de hoje, estou felicíssimo porque reencontrei uma pessoa muito querida por mim. Não sei se convém dizer-lhe o nome, mas é suficiente dar a saber que é uma grande amiga, alguém por quem aprendi a ter  bastante carinho. Agradeço a Deus por esta alegria. E que ela seja muito bem vinda, de novo! ^^

Deus a abençoe.