sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

A verdadeira contemplação não prescinde do comum



"Nada é mais alheio à autêntica tradição monástica e contemplativa (isto é, carmelitana) na Igreja do que uma espécie de agnosticismo que exaltaria o contemplativo acima do cristão comum, introduzindo-o num domínio de conhecimento e de experiências esotéricos, livrando-o das lutas, preocupações e sofrimentos comuns à existência humana, colocando-o num plano elevado, num estado privilegiado entre os espiritualmente puros, como se fosse quase um anjo, invocado pela matéria e as paixões e, afinal, sem estar familiarizado com a economia da cruz, dos sacramentos e da caridade.


O caminho da oração monástica não é algo que leve a uma fuga sutil da economia cristã da encarnação e da redenção. É um modo especial de seguir o Cristo, de participar da sua paixão e ressurreição e da sua obra redentora em relação ao mundo. Por esta mesma razão, as dimensões da oração em solitude são as mesmas da angústia comum ao homem, de sua busca de si mesmo, de seus momentos de náusea em face de sua vaidade, falsidade e capacidade de traição. Longe de estabelecer alguém numa segurança narcisista intangível, o caminho da oração nos coloca cara a cara com a impostura e a indignidade do falso eu que procura viver unicamente para si mesmo e saborear as "consolações da oração" egoisticamente. Este "eu" é pura ilusão."

Thomas Merton, Poesia e Contemplação.

Nenhum comentário: