"Time waits for nobody", diz uma das músicas do Freddie Mercury de que eu gosto. A frase, dita assim, parece um lamento. E de fato o é. Grande parte da vida humana é ou desejar que o tempo passe, ou lamentar que ele tenha passado. Até os vinte anos, prevalece a primeira atitude. Depois, a gente vai olhando pra trás e vai querendo sabotar a engrenagem do tempo, para que corra mais devagar. Se isso fosse possível... Mesmo assim, às vezes eu observo alguns idosos e fico impressionado com a resignação que eles têm com isso. Já foram jovens. Já tiveram toda vitalidade. Mas parecem ver como natural o estado no qual se encontram. Aceitaram. Talvez seja a tal sabedoria dos anciãos. E isso me remonta ao Mickey, do filme Rocky, que dizia: "A natureza é sábia. O mundo vai nos tirando as coisas, nos deixando desapegados, até que num momento a gente percebe que não tem mais o que fazer aqui." O tempo, assim, aparece como uma espécie de desnudamento progressivo. E o que acontece quando ficarmos totalmente nus? Nascemos. "Aparecerei diante de Deus com as mãos vazias", dizia Sta Teresinha de Lisieux.
Isto por acaso significa que a vida deve tornar-se uma lamentação ou uma ânsia pela morte? Não. É verdade que esta vida só tem seu valor real - não um valor imaginado que, em última instância, não pode muito além de autoproduzir um prazer fugidio que aumenta ainda mais o blue da coisa - se posta em relação com a eternidade. Mas justamente este aspecto fá-la ser uma antecipação. Embora a espera se ordene à presença, ela tem a sua própria beleza. E o risco de não culminar com aquela visão, misturado com a esperança de tê-la, serve como que de tempero, dando variados sabores aos dias que correm, ou como um espectro de multicores que colore o ambiente com infindas combinações. "Em pensar naquele reencontro, meus olhos enchem de lágrimas", dizia o visceral Léon Bloy, cuja vida não lhe permitia muita coisa além de esperar.
Mas "o tempo é a imagem móvel da eternidade", dizia Platão. A eternidade é um instante fixo, "posse simultânea de todos os bens", escreveu Boécio. Nela não há passado ou futuro, pois estes, dirá Agostinho, são frutos de uma alma partida, efeito da Queda. De posse d'Aquele que nos completa, e possuídos por Ele, seremos inteiros. O presente é, portanto, o símbolo da vida total, e enquanto ele estiver a correr, saberemos que a vida total ainda não chegou. Nisto se dá um paradoxo: lamentamos que a nossa vida vai ficando para trás, e este lamento nos distrai do lugar onde estritamente ela acontece, ainda que premida num espaço estreitíssimo: o presente. Ser fiel ao Céu, destino eterno do homem - o que não o impede de frustrar este destino - é habituar-se, desde já, a viver no presente. "Para amar-Te, oh meu Deus, só tenho hoje." A beleza poética da espera só é possível hoje. A luz feliz e inquieta da esperança também só é possível hoje. A oscilação da Fé, igualmente. O agora tem a sua beleza por ser símbolo da eternidade. A espera é símbolo da presença. Não é bom, portanto, lamentar-se. Os que vão ficando velhos são os que vão terminando o tempo de gestação: voltarão a nascer, mas agora no eterno presente.
Esta vida inteira possui, então, duas faces: uma que se volta para o futuro, pelo que é espera; e uma que se volta para o agora, pelo que é fruição. Uma fruição que se apega é uma fruição na qual se imiscuiu a preocupação com o tempo, sobretudo com o passado. É o medo de perder que faz entrar no gozo do agora a sombra do ego. O agora é instante. Nele não há divisão. Vivê-lo é aproveitar a vida, com suas durezas e seus prazeres, recebendo-a de mãos abertas. É claro que isto não implica nenhum tipo de inconsciência ou irreflexão. Isto implica, ao invés, inteireza e não distração. É o que os budistas chamam de "mindfullness". Acima do fluxo desta vida, está a Rocha inconcussa que é Deus e sobre a qual tudo se fundamenta. Não nos distraiamos disso: Deus é futuro e presente. Aristóteles dizia que o mundo tira seu movimento do fato de ser atraído por Deus, beleza infinita, pois é próprio do belo atrair. O tempo é imagem móvel. Que o tempo da nossa vida seja puxado por aquela Beleza, "assim como a mariposa é atraída pela chama, e se queima", escreve São João da Cruz. Aquele fogo será a totalidade da nossa vida. Corramos para lá, mas já apreciando o calor que desde agora aquele Lume nos projeta. Brigado, Senhor, por mais um ano, e por menos um ano. Obrigado por esta alma imortal, cuja vida faz digno de nada o tempo.
Esta vida inteira possui, então, duas faces: uma que se volta para o futuro, pelo que é espera; e uma que se volta para o agora, pelo que é fruição. Uma fruição que se apega é uma fruição na qual se imiscuiu a preocupação com o tempo, sobretudo com o passado. É o medo de perder que faz entrar no gozo do agora a sombra do ego. O agora é instante. Nele não há divisão. Vivê-lo é aproveitar a vida, com suas durezas e seus prazeres, recebendo-a de mãos abertas. É claro que isto não implica nenhum tipo de inconsciência ou irreflexão. Isto implica, ao invés, inteireza e não distração. É o que os budistas chamam de "mindfullness". Acima do fluxo desta vida, está a Rocha inconcussa que é Deus e sobre a qual tudo se fundamenta. Não nos distraiamos disso: Deus é futuro e presente. Aristóteles dizia que o mundo tira seu movimento do fato de ser atraído por Deus, beleza infinita, pois é próprio do belo atrair. O tempo é imagem móvel. Que o tempo da nossa vida seja puxado por aquela Beleza, "assim como a mariposa é atraída pela chama, e se queima", escreve São João da Cruz. Aquele fogo será a totalidade da nossa vida. Corramos para lá, mas já apreciando o calor que desde agora aquele Lume nos projeta. Brigado, Senhor, por mais um ano, e por menos um ano. Obrigado por esta alma imortal, cuja vida faz digno de nada o tempo.
A cena do Rocky que mencionei acima e de que gosto bastante.
Um comentário:
Hoje é um dos dias mais belos do ano..Feliz aniversário, coisa linda e preciosa!! Que os anjos de Deus o proteja sempre!! seja feliz!! Está muito bonito naquela foto que sua mãe postou S2
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