O problema da queda evoca o desta teofania universal que é o mundo. A queda não é mais que um elo particular desse processo; além disso, ela nem sempre é apresentada como uma 'falta', mas toma em certos momentos a forma de um evento alheio à responsabilidade humana ou angélica. Se existe um cosmo, uma manifestação universal, deve haver uma queda ou quedas, pois quem diz 'manifestação' diz 'outro que não Deus' e 'afastamento'.
Na Terra, o Sol divino está velado; disso resulta que as medidas das coisas são relativas, que o homem pode se dar para o que não é, e que as coisas podem aparecer como o que não são; mas, uma vez rasgado o véu, quando desse nascimento que é a morte, o Sol divino aparece; as medidas tornam-se absolutas; os seres e as coisas tornam-se o que são e seguem os caminhos de sua verdadeira natureza.
Não que as medidas divinas não atinjam nosso mundo, mas elas são 'filtradas' por sua carapaça existencial, e, de absolutas que eram, tornam-se relativas, de onde o caráter flutuante e indeterminado das coisas terrestres. O astro solar não é senão o Ser visto através dessa carapaça; em nosso microcosmo, o Sol é representado pelo coração.
É porque vivemos, sob todos os aspectos, numa tal carapaça que temos necessidade - para saber o que somos e onde nos achamos - dessa rasgadura cósmica que é a Revelação; e poder-se-ia sublinhar, neste sentido, que o Absoluto não consente jamais em se tornar relativo de uma maneira total e ininterrupta.
Frithjof Schuon, O Homem no universo.
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