quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Homens de Dever x Homens de Prazer


Distribuídos na humanidade, independentemente de classes econômicas, culturas ou religiões, estes dois tipos de homens ocupam exaustivamente o globo. Não direi que seja comum a encarnação pura de um destes dois extremos, mas, sob diversos matizes, em certas pessoas predomina o senso do dever, enquanto noutras ganha o interesse de prazer. Estas últimas são, sem dúvida, muito mais comuns, mas são as primeiras que fazem perseverar no mundo o que ainda há de dignidade.

Agir sempre segundo os nossos interesses é bastante fácil, mas não é muito inteligente. Como eu já escrevi diversas vezes, ser egoísta implica reduzir o mundo inteiro, em todas as suas dimensões e valores, ao nível estreito da subjetividade. E, como se não bastasse, o sujeito não apenas apequena tudo à sua medida enquanto indivíduo, mas o faz segundo o seu estado interior imediato. O que lhe interessa é o que, naquele momento, lhe parece proveitoso à própria sensibilidade. Sendo que está justamente aí a raiz da inconstância, e que esta se define como uma oscilação contínua de disposições, o sujeito sequer saberá dizer qual a sua posição definitiva, variando-a de momento a momento, terminando por carecer de unidade naquilo que faz ou que acredita. A única unidade existente nesta vida, o seu próprio ego caprichoso, surge como ditador ao qual deverão obedecer os fatos, os valores, as realidades metafísicas, etc.

Caso muito diverso é o do homem de dever. Este sabe que, acima e independentemente de si mesmo, existem realidades às quais não caberá reduzir. Ao contrário, entendendo a objetividade dos princípios, o sujeito é que se porá em harmonia com eles. Isto implicará, naturalmente, a relativização dos próprios gostos, dos próprios interesses imediatos, e ele só poderá fazer isto se entende que aquilo que o define como indivíduo, como pessoa, se encontra num nível mais profundo que o das sensações imediatas. É uma questão de humildade, de saber que ocupamos um lugar modesto na realidade e que esta naturalmente nos precede. Existe uma ordem intrínseca ao real e que é preciso obedecer. Esta ordem está fundamentada na verdade, na beleza e na bondade. Estes três, chamados universais, na verdade constituem uma unidade e são a mesma realidade considerada sob aspectos diversos. O homem do dever deve agir segundo o bem; mas somente entenderá o que é o bem se se interessa pela verdade. Se, por sua vez, ele busca a verdade e cultiva o bem, terá um profundo senso da beleza.

Desta humildade, que é um respeito pela verdadeira ordem das coisas, é que surge a constância e a fidelidade. É aí também que está a profundidade na compreensão do mundo e, portanto, está aí a sabedoria. Disto descende toda a moral. É pela fidelidade a estes princípios que o homem poderá alcançar o nível da maturidade. E se ele é um dos que cultivam o ideal da santidade, sequer o compreenderá se não for por este caminho. Jesus já o tinha dito de modo muito mais profundo e muito mais direto: "Quem quiser me seguir, negue-se a si mesmo". Estes preceitos são abismos de verdade, aos quais devemos sempre aprofundar e nos quais encontraremos tesouros que, embora escondidos, são preciosíssimos. Convertamo-nos.

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