Aquele pequeno gostava de, todos os dias, subir a pequena elevação de pedra que dava para um abismo. Lá embaixo, um belo vale avistava-se e era alheio a toda escravidão.
O pequeno subia e saltava e gostava de, com a alma vazia, sentir o vento a lhe acarinhar o rosto, a lhe mover os cabelos e se sentia amigo dos pássaros, destes seres livres que, não raro, acompanhavam o seu vôo.
Saltava o pequeno e era abraçado pela imensidão.
Um dia, porém, tendo feito o mesmo percurso, percebeu uma receptividade diferente. O vale como que se enamorara pelo rapaz e, tendo este saltado, foi abraçado de modo único. E foi único por dois motivos: por ter sido diferente de todos os anteriores; e por nunca mais ter se repetido. Foi único, primeiro e último.
E a alma do rapazinho? Ela feriu-se e ao lago, no vale, ele juntou umas poucas lágrimas. Parece que o vento não soube que sofrera. O menino, porém, nunca deixou de saltar, pois sua alegria era ser pobre e sabia que isto implicava em não se defender.
Fábio
Fábio
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