sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Saindo da Prisão


Tudo bem... Abandonemos os vínculos, sejam eles do desejo ou do temor. Teoricamente, ficou claro. Mas, e quando fomos pegos, isto é, quando estamos cativos de uma situação neurótica, o que fazer?

Se ficou claro o que foi dito até agora, ficará claro isso aqui também.

A neurose se estabelece ou como obsessão, rituais de pensamento ou comportamento, ou como mero mal estar. No caso das repetições, em geral elas consistem numa contínua verificação que visa assegurar se tudo está certo e se o sujeito está imune às eventuais ameaças. Outras vezes, a única razão de ser para a contínua execução de um certo ato é a sensação que este ato provoca. Algo que não chega a ser prazeroso, mas que, estranhamente, faz falta.

Os outros casos, como já dito, são de um certo mal estar, geralmente acompanhado das tais suposições sobre as possíveis causas do mal estar. Aqui, a neurose pode vestir-se de argumentos científicos. Mas permanece sendo só viagem na maionese.

O segredo está em reconhecer o colorido particular da neurose. Uma vez que este foi identificado, porém, não significa que a pessoa já se sentirá segura. Não. Na verdade, persiste em nós a tendência a acreditar na nossa própria teoria assustadora e fantasiosa. Mas é preciso ser cético; saber duvidar das próprias suposições.

Os rituais se mantêm como verificação. Ora, só se verifica porque há o medo de alguma coisa dar errada. O segredo é: reconhecer que é somente uma suposição neurótica e barrar o curso de verificações. Lembremos da inércia: há uma tendência em continuar. Mas convirá travar o passo. Penso que esta é a parte que mais exige disciplina: no ritmo frenético do mundo atual, o silêncio interior se torna cada vez mais algo de outro mundo. Outro dia, eu conversava com um amigo a respeito da quietude da mente e ele me perguntava se era possível. É claro que é.

Ah, então o neurótico somente sairá disso se se tornar um asceta ou um budista? Não, rs. Mas ele deverá se disciplinar para ficar sem racionalizar quando se decidir a fazê-lo. O indivíduo percebeu que é suposição? Pronto! Deixa de obedecer o curso neurótico! Aquiete a mente. No início, vai ser preciso fazer um certo esforço mesmo; mas nada de espernear, pois isto mais agita que aquieta. Sempre com paciência, mas com perseverança.

A contínua verificação gera, naturalmente, um cansaço. Quando ela deixa de ser alimentada, o cansaço persiste ainda por um tempo - é a inércia - e só depois ele cessa.

Também no simples mal estar, dá-se algo semelhante. Embora não haja rituais, o sujeito, no entanto, fixa sua atenção na bendita sensação ruim. Ao fazê-lo, geralmente ele intensifica a sensação e a estende. O segredo aqui está em distrair-se daquilo. A princípio, é complicado, pois as tais sensações, não obstante serem neuróticas, se fazem sentir de modo muito real. E, como qualquer incômodo, aquilo como que atrai a atenção.

O ideal seria que o sujeito continuasse sua vida como se nada estivesse errado, como se aquilo não fizesse qualquer diferença.

Uma das coisas que tendem a manter o mal estar é que o neurótico gosta de se pensar como o desafortunado, o sem sorte. Este tipo de atitude faz que ele oponha o seu estado atual ao que gostaria de experimentar. Esta distância lhe é, também, incômoda e termina por fazer retroceder a sua visão sobre a sensação neurótica, aumentando-a e fazendo-o lamentar ainda mais. Mas o que ele está a fazer é tão somente reafirmando pra si mesmo o seu incômodo e convencendo-se de como está distante daquilo que deseja. Tudo isto supõe uma atenção constante sobre o mal estar.

O segredo: não desejar qualquer outra coisa, até chegar o ponto de que tanto faça sentir o mal estar ou não. Se se alcança este nível, e se o incômodo for neurótico, dentro de um certo tempo, ele sumirá. E muito agradável é a sensação que daí surge. 

Mesmo no caso de uma dor autêntica, ainda assim, a atitude aqui tomada minimizará bastante o desconforto.

Talvez neste post fique mais claro como é o amor-próprio o que nos atrapalha; aquele senso de auto-preservação exagerado é que inventa inimigos e põe sobre eles uma lente de aumento que só termina por fazer-nos sofrer bem mais.

Se adquiríssemos aquele desprezo e esquecimento de nós mesmos, ah, quão mais tranquilos e felizes nós seríamos! E depois, ninguém entende como Cristo pode nos convidar à Sua Cruz e, ao mesmo tempo, prometer-nos uma vida em plenitude.

"Como sois lentos para entender", nos diria Ele.

Um comentário:

Yasmin disse...

Engraçado como gostamos de alimentar as neuroses. Temos mesmo que aprender a alimentar a indiferença e dizer "vou continuar me sentindo bem ou mal", por que basta vencer uma neurose absurda, para surgir outra mais absurda ainda. Então o negócio é mesmo esse, ser neutro.