sábado, 14 de abril de 2012

As Virtudes da Esperança e da Pobreza


É quando não desejamos as coisas deste mundo por elas mesmas, que ficamos aptos a vê-las como são realmente. Vemos ao mesmo tempo a sua bondade e a sua finalidade, e tornamo-nos capazes de apreciá-las como nunca antes. Tão logo nos desprendemos delas, eis que começam a agradar-nos. Mal cessamos de contar só com elas, ei-las prontas para servir-nos. Uma vez que não dependemos mais nem do prazer nem do auxílio que nos dão, elas oferecem-nos um e outro à ordem de Deus. Pois que disse Jesus: "Procurai, primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e todas as coisas (isto é, tudo que precisardes para a vossa vida na terra) vos serão dadas em acréscimo" (Mt 6,33).

Esperança sobrenatural é a virtude que nos despoja de tudo a fim de nos dar tudo. Ninguém espera por aquilo que já tem. Por conseguinte, viver de esperança é viver em pobreza, sem nada. E, no entanto, se nos entregamos à economia da Providência, nada do que esperamos nos faltará. Pela fé conhecemos a Deus sem O ver. Pela esperança possuímos a Deus sem sentir-Lhe a presença. Se esperamos em Deus já O possuímos pela esperança, pois ela é uma confiança que Ele cria em nossas almas, uma como evidência secreta de que Ele tomou posse de nós. Assim, a alma que espera em Deus, já Lhe pertence, e pertencer a Deus é o mesmo que possuí-Lo, pois Ele se entrega totalmente àqueles que a Ele se entregam. O que a fé e a esperança não nos dão, é somente a visão clara d'Aquele que nós já possuímos. Somos-Lhe unidos na obscuridade, porque temos de esperar. Spes quae videtur num est spes.

A esperança priva-nos de cada coisa que não é Deus, para que todas as coisas possam servir ao seu verdadeiro destino, que é levar-nos a Deus.

A esperança é proporcional ao desprendimento. Ele introduz a nossa alma no estado do mais perfeito despojamento. É graças a isto que ela restaura todos os valores, dispondo-os no seu justo lugar. A esperança esvazia-nos as mãos, para que possamos trabalhar com elas. Mostra-nos que temos razão de agir, e ensina-nos a fazê-lo.

Sem a esperança, a nossa fé só nos dá distantes relações com Deus. Sem o amor e a esperança, a fé só O conhece como a um estranho. Pois a esperança é que nos joga nos braços da sua misericórdia e da sua providência. Se esperamos em Deus, não nos limitaremos a saber que Ele é bom, mas experimentaremos nas nossas vidas a sua misericórdia.

Thomas Merton, Homem Algum é Uma Ilha, Sentenças Sobre a Esperança

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