Aristóteles afirmou, no início da sua Metafísica, que todo homem deseja naturalmente conhecer. Isto significa que temos uma tensão interior, pela nossa própria constituição de seres humanos, de conhecer as coisas. Ora, conhecer algo é saber a verdade sobre este algo.
Pois bem. E como é que conhecemos? Os primeiros filósofos tinham uma concepção muito interessante da Filosofia como sendo o ato do espanto, ou da surpresa, ou da admiração. Filosofar significava surpreender-se com o que existe. Se isto é verdade, então nós só conhecemos propriamente algo à medida que nos expomos à presença deste algo, pois sem presença não há espanto. Haverá situações, obviamente, em que este pôr-se diante do objeto que se intenta conhecer não será imediatamente possível. Nestes casos, o procedimento de avanço no conhecimento deverá ser dialético.
Porém, diferente é o caso em que podemos observar o objeto diretamente. Como dizia um filósofo chinês, a distância menor entre dois pontos é a simplicidade. Ora, se se quer conhecer um objeto específico, deve-se olhar tão diretamente para este objeto quanto seja possível. Isto é mais simples se o objeto é inerte.
Porém, há situações em que colocar-se diante do que se deseja saber pode representar, ao menos aparentemente, qualquer desconforto para o observador. Há vezes em que outros fatores estão envolvidos, como os afetos, medos, desejos, etc, que muito facilmente tiram a objetividade da observação.
Se é desejo, a pessoa vai com muita sede ao pote e, antes de ir, já fez todo tipo de antecipações. Neste sentido, Freud dizia que o que se deseja encontrar influencia no que se encontra. Embora o próprio Freud tenha pecado neste ponto, nem por isto sua assertiva é isenta de valor.
Se é, ao invés, medo, o mais fácil, mais cômodo, é que a pessoa hesite em encontrar-se com o tal objeto, em olhá-lo friamente. Ao invés, ela terá a tentação de ficar longe e de lá, do seu cantinho seguro, fazer todo tipo de suposições a respeito do objeto supostamente temível. É óbvio que este não é um modo correto de vir a conhecer a verdade sobre alguma coisa. Prestemos atenção nisto: conhecer a verdade de algo implica, sempre, em receber alguma informação que não se tinha, isto é, apreender algo de fora e que era próprio do tal objeto - daí a surpresa! Ninguém se surpreende com o que já sabia. A pessoa que fica só na suposição, ao contrário, não conhece nada, não tem contato real com a coisa; só inventa. As suas conclusões sobre o objeto não vêm do próprio objeto, mas dela mesma. Como a sua atitude inicial é de medo, é natural que as suas suposições reflitam este medo e terminem por reforçá-lo. O medo, por sua vez, se converte em lente de percepção da realidade e faz com que ela interprete o comportamento do tal objeto - que obviamente poderia ter infinitas conotações - segundo os ditados do seu próprio receio. Definitivamente, este não é o modo de conhecer a verdade sobre nada.
Daqui podemos concluir que o conhecimento supõe sempre a coragem da observação. Se o objeto que se quer conhecer pode ser olhado diretamente, é assim que ele deve ser abordado.
Se, portanto, conhecer exige coragem e, ao mesmo tempo, faz parte da natureza humana, temos que esta - a natureza humana - se realiza numa atitude corajosa, e não de medo. O medo tem muito pouca serventia... Sinceramente, embora tenha ele seus defensores, penso que possa ser dispensado de todo.
Se, portanto, conhecer exige coragem e, ao mesmo tempo, faz parte da natureza humana, temos que esta - a natureza humana - se realiza numa atitude corajosa, e não de medo. O medo tem muito pouca serventia... Sinceramente, embora tenha ele seus defensores, penso que possa ser dispensado de todo.
Enfim, notemos esta relação: conhecimento - verdade - coragem.
E o seu oposto: suposição - distorção - medo.
Muita coisa ainda poderia ser dita a partir desses pressupostos. Mas espero que isso aí já seja suficiente.
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