Vez ou outra, eu fico a pensar na pessoa de Jesus e vejo, de um modo mais profundo e mais claro que eu, de fato, não sei muito a respeito d'Ele. Há momentos que eu fico a perguntar-Lhe: "Quem és?" Não é uma pergunta sem sentido... Eu poderia tranquilamente dizer que Jesus é Deus, o que é verdade, ou que Ele é amor, como diz João, o que é verdade também. Mas, peguemos essa definição: "Deus é amor". O que, de fato, isso quer dizer? Para mim, particularmente, é um mistério.
E é um mistério porque o meu conceito de amor é, por força, finito. E esta delimitação feita pelo conceito só pode ser aplicada a Deus por analogia, pois Deus a transcende absolutamente. Como saber quem é Ele? De um lado, é dito de Ele ser tão justo que o homem mais santo tem motivos suficientes para tremer e, ainda, que o poder do Seu braço é aterrador; outras vezes, ainda, sobre a timidez do Seu amor, a Sua ternura e Sua doçura. Outras tantas, Ele é o doce Sedutor que conquista a alma. Todas estas definições realmente dizem algo d'Ele, mas, diante desta variedade e, por vezes, aparente oposição de características, como saber quem, de fato, Ele é? Mesmo que tivéssemos um só conceito, como fazer uma perfeita adequação do nosso pensamento a Ele? Como conhecê-Lo de verdade, ao invés de apenas conhecermos as idéias que temos dEle?
Sim, eu e Ele temos momentos íntimos. Eu sempre O comungo. É difícil imaginar um tipo de união mais íntima, um tipo de abraço mais completo. No entanto, Ele mantém-Se escondido e eu continuo sem saber muito bem como Ele é. Por mais que eu me esforce, apenas obterei uma imagem, uma projeção, uma suposição, obviamente limitadas. E Ele está além disto. Como alcançá-Lo neste além?
Não há que se relativizar a Teologia. De modo algum. O pouco que podemos saber d'Ele nos vem por meio dela. O objeto da Teologia é, de fato, Deus, mesmo que ela se faça a partir de fórmulas conceituais humanas. A contemplação de Deus será uma experiência direta daquilo que, pelas fórmulas teológicas, já vislumbramos com o conceito.
Fico a pensar nessas coisas, e lembro-me, agora, de S. João da Cruz que, retomando S. Paulo, escreveu: "O justo viverá pela Fé". É preciso saltar no meio dessa nuvem, dessa indefinição, pois Aquele que fez nas trevas a Sua tenda está para além dos nossos conceitos e imagens. Agora, de fato, dEle temos apenas uma notícia confusa, mas um dia O veremos face a face. Conceda-nos Ele esta felicidade.
* É realmente dificílimo dizer com precisão quem é Ele, mas nos é possível afirmar o que Ele não é.
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