Por toda a história, podemos ver estes santos que personificam a divina Resignação, trovadores da perfeita alegria que consiste no perfeito desprezo de si mesmos. No entanto, vez ou outra também surge - e o nosso tempo clama desesperadamente por isso - outro tipo de santos que encarnam, por sua vez, a divina Indignação. Estes não se contentam apenas em se vencerem a si mesmos; em nome de Deus, eles partem para a guerra, segurando vigorosamente as armas de que dispõem. Um exemplo:
Para São Francisco de Assis, santo eminentíssimo do primeiro tipo, era-lhe suficiente ser maltratado e fazer que isto não repercutisse no seu interior. Mesmo debaixo de pauladas, a raiva sequer se insinuava na sua alma. Mas, e quanto ao seu agressor? De fato, pode acontecer de ele se converter a partir da profunda humildade que vê diante de si. Mas pode também acontecer que seu sono seja tão forte, que sua cegueira seja tal que, como São Paulo antes da conversão, nada lhe venha de remorso em maltratar um sujeito inocente.
Neste caso, não fazer mais nada é como consentir em agravar a culpa de um cego tolo que bate num santo. Voltando a São Paulo, observemos que não foi a perfeição de nenhuma alma vitimada por ele o que provocou a sua conversão. No seu caso, Deus, Ele mesmo, precisou usar de uma certa violência: derrubou-o literalmente do cavalo e lhe mostrou irrefutavelmente como estava cego.
Estas intervenções mais enérgicas são absolutamente necessárias em nossa contemporaneidade. Não se deve, porém, esperar que Deus se faça ouvir e ver, como naquele caso, a todos os sonâmbulos que perambulam neste tempo. Não. O que é urgente é o surgimento de santos do segundo tipo; sujeitos que não apenas se vençam a si mesmos, mas que cheguem também, se necessário, a trocar pauladas com o agressor*, não para se defenderem, mas para defendê-lo da própria cegueira; para acordá-lo e convertê-lo.
Mas não nos iludamos. Não basta ser um caricato de santo, um santarrão. Este tipo de embate - o trocar pauladas - pode ser efetivado por quem sequer venceu o próprio egoísmo. Na verdade, esta atitude é a primeira requisitada pela soberba, quando esta sofre qualquer afronta. Responder com a mesma moeda é a condição torpe a que somos inclinados desde a Queda. Não é disso que tratamos aqui.
Os santos que aqui são sugeridos devem ser homens profundamente livres, isentos de amor próprio e respeito humano. Nota-se que estes devem ser gigantes do espírito que, esquecidos de si mesmos, combatam unicamente pela glória de Deus e a salvação das almas. Talvez sejam estes bem-aventurados os prenunciados por S. Luís Maria Grignion de Montfort e que, segundo ele, sobrepujariam todos os anteriores pela sua grandeza.
Santos do primeiro tipo também são absolutamente necessários. Mas os do segundo, mais que nunca. O que se espera, portanto, são Apóstolos da Santa Indignação que sejam capazes de fazer caírem do cavalo todos estes modernos inimigos de Deus. Deus saberá suscitá-los. Ao que tudo indica, eles já devem estar por aí, sendo formados...
Fábio
*O exemplo de "trocar pauladas" é só ilustrativo. Não o defendemos num sentido literal. Os embates aqui referidos são, muito mais, intervenções no campo das idéias. Porém, também não temos, com esta ressalva, o intento de demonizar um combate literal. No decorrer da história, estes foram legítimos e necessários, diversas vezes.
Fábio
*O exemplo de "trocar pauladas" é só ilustrativo. Não o defendemos num sentido literal. Os embates aqui referidos são, muito mais, intervenções no campo das idéias. Porém, também não temos, com esta ressalva, o intento de demonizar um combate literal. No decorrer da história, estes foram legítimos e necessários, diversas vezes.
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