domingo, 2 de janeiro de 2011

Meu Deus, eu sou tão desajeitado...



“A alegria é a vida reencontrada depois que se aceitou perdê-la”. Tempos atrás, encontrei esta frase quando tentava me adaptar à idéia de rumar para um convento em que eu não teria nenhuma garantia de vir em casa outra vez. Não fui ao convento, mas a frase reverberou.

Agora passo por uma situação análoga e vim perceber algo da verdade enunciada nesta frase muito recentemente. Todas as vezes que eu deixo um pouco de ser pobre, eu deixo um pouco de ser eu mesmo. E, como eu já disse diversas vezes, o pobre deve manter sempre as mãos abertas. Ele não se defende o tempo todo e não está a agarrar as coisas por aí. 

Há um tesouro que pareceu-me estar ao alcance, mas que notei, porém, que a sua liberdade implica não minha não garantia. Eu estava tendendo a tensionar os dedos, numa atitude de querer assegurar. Mas tive de me deparar, de novo, com a minha nudez. Corri o risco de ser egoísta e fui advertido. Vi. Envergonhei-me e notei o quanto sou desajeitado. Não que isto me fosse novidade...

Conforme a frase, primeiro é preciso aceitar perder a vida. Isto tira da alma os seus apegos, relativiza-os e abre espaço para a gratuidade. O ter a vida não é um direito; mas é algo que é recebido, gratuitamente. O amor ama por natureza. Depois desta entrega, que implica em evitar fechar as mãos, abre-se o espaço para a verdadeira alegria. É que aquela generosidade talvez reencontre a vida e, agora, saberá olhá-la na sua beleza, e experimentará o êxtase que daí provém. 

E se a vida não for reencontrada? ...
Então é preciso continuar com as mãos abertas ainda que os olhos marejem.
E, um dia, Deus ma dará, ainda que não seja o que eu tanto queria...


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Faça-se a Sua vontade, sempre! Sempre! Sempre! Sempre!
E ao egoísmo que ainda se levanta em mim, eu o pisarei sem dó.
***

“Sentimo-nos (...) felizes ao perceber que ainda somos capazes de experimentar alegrias profundas e verdadeiras. Mesmo a dor profunda e autêntica se nos afigura uma graça, comparada ao entorpecimento da sensibilidade." (Edith Stein, A Ciência da Cruz)
 

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