Isto não foi fantasia e não pode ser banalizado sem que se caia numa terrível ofensa... Ofender a quem eu amo é ofender a mim. Se com os amigos e a família é assim, quanto mais com Ele... |
Nós sempre agiremos conforme a nossa compreensão das coisas. Uma coisa é o entender - próprio do intelecto. Outra coisa é o agir - próprio da vontade. Esta é posterior ao intelecto. Este ilumina a vontade. O intelecto entende. A vontade quer e ama. Amamos aquilo que entendemos ser um bem. O nosso entendimento estará correto se aquilo que consideramos bem for, de fato, bem. Isto pressupõe a existência objetiva do bem.
Mais uma vez, bem e verdade se relacionam. No entanto, como pretender defender uma moral objetiva se o total nos escapa? Há dois pontos: De fato, nós não conhecemos o todo, mas isto não implica em relativizar o conhecimento da parte que temos. Eu não conheço todos os materiais existentes no universo, mas isto não me impossibilita de dizer, com absoluta certeza, que a mesa da minha casa é de madeira.
Em segundo lugar, a aparente petulância da religião em se pretender a defensora e representante de uma moral absoluta se justifica perfeitamente a partir do momento que consideramos a real possibilidade de um Deus feito homem que, como tal, nos ensinou o que é ser bom e prometeu seguir formando isto que Ele chamou de Sua Igreja. É justo que Deus conheça a verdade última das coisas, sobretudo se Ele disse de Si mesmo: "Eu sou a Verdade". O que este Deus disser, se Ele é Deus, será absolutamente verdadeiro, simplesmente porque tudo quanto há teve sua origem n'Ele.
A pretensão está, ao contrário, no fato de que, ainda considerando a realidade desta presença no mundo, o homem, limitado, se opõe ao que este Deus diz, negando-se a observar a perfeita razoabilidade de tudo quanto Ele mostrou. Se O entendêssemos, agiríamos segundo o Seu coração. Propriamente isto é a santidade. Não à toa se diz de Cristo que Ele é a Verdade (objeto do intelecto) e o Amor (objeto da vontade). Estes dois - Intelecto e Vontade - são as potências da alma humana e o que precisamente fazem do homem imagem e semelhança de Deus. Isto significa que é o homem inteiro que deve aderir a Deus.
Tocamos no ponto do amor. Convém, então, sabermos o que isto significa. Todas as virtudes geralmente são imitadas por um vício que tenta se passar por elas, assim como o demônio vive querendo macaquear Deus. Assim, a humildade pode ser confundida com um orgulho disfarçado ou com a pusilanimidade, que é um tipo de fraqueza; a estudiosidade pode ser imitada pela curiosidade, etc. Também o amor tem a sua bijouteria: em geral, quem tenta se passar por ele é o respeito humano, mas há também outros concorrentes, como a afetação, a impureza, etc.
O amor legítimo é sempre doação. É um sair de si em busca de um bem para o outro. Só que este bem não é uma idéia subjetiva, mas um bem real. Acontece que, por vezes, este bem é imediatamente desconfortável. A gente vê isso quando uma mãe leva um filho para tomar uma injeção. Aquilo dói e aos olhos do infante parece uma crueldade. Porém o amor da mãe não lhe permite falsear o bem, e isto é a característica do amor legítimo. Ele se expõe, faz pouco da sua imagem, corre o risco de não ser compreendido e de ser chutado, desde que um bem real se dê no outro. Aqueles que, ao contrário, têm como fim de tudo o que fazem apenas agradar a sensibilidade da outra parte, não amam porque não estão comprometidos com um bem real, mas só com um prazer superficial e egóico e com a preservação da própria imagem. Se uma pessoa comete um erro e um suposto amigo lhe elogia por isso, este não lhe fará nenhum bem. Isto se chama respeito humano. É como quando alguém está tendo uma crise de abstinência por causa de uma droga e outra pessoa, com o pretexto de que o ama, lhe traz o que ele tanto desejava. Isto não é amizade, não é amor.
O amor não falseia, porque ele não existe na mentira. O amor só pode se desenvolver e respirar na verdade. É por isto que, por vezes, ele parece ser rude e grave. O amor preocupa-se, o amor denuncia. Já dizia S. Paulo: "rejubila-se com a verdade e sofre com a mentira", ainda que a verdade seja, a princípio, uma espécie de cruz. Mas como já dizia Nosso Senhor, é pela morte da semente que temos o milagre do fruto. É quando a dor eficaz da Cruz é assumida que a vida absolutamente maior da Ressurreição é concedida.
Nunca me tenham por mal. Eu ajo segundo entendo, como qualquer um, mas busco que estes atos tenham por base o amor. Eu amo, ainda que não costume ficar dizendo isso, e entendo que amar é querer o bem, e entendo que não há bem sem Deus. Eu trocaria de bom grado todo e qualquer suposto mérito que eu possa ter acumulado nas minhas orações com relação a uma pessoa, se eu visse efetivada a conversão desta vida. Amar é querer Deus para o outro. E isso eu quero. E não seria cristão se não quisesse.
"Todo aquele que vem a mim, eu o levarei a Ele..." Sta Edith Stein.
"O amor quando já crescido não pode ocioso ficar, nem o forte sem lutar por amor de seu querido" Sto André
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