domingo, 3 de julho de 2011

Sta Teresa trata sobre os motivos pelos quais não devemos pedir gostos sobrenaturais na oração


Primeiro, porque a primeira coisa, que para isto é mister, é amar a Deus sem interesse.

Segundo, porque não deixa de ser um pouco falta de humildade pensar que, por nossos serviços miseráveis, se há-de alcançar coisa tão grande.

Terceiro, porque a verdadeira preparação para isto é o desenho de padecer e de imitar ao Senhor e não o ter gostos, nós que, enfim, O temos ofendido.

Quarto, porque Sua Majestade não está obrigado a dar-nos gostos, como o está a dar-nos a Glória se guardarmos os Seus mandamentos, pois, sem isto [os gostos], nos poderemos salvar, e Ele sabe melhor que nós o que nos convém e quem O ama de verdade. Assim é coisa certa, eu sei-o, e conheço pessoas que vão, pelo caminho do amor como se deve ir, só para servir a seu Cristo crucificado, que não só não Lhe pedem gostos nem os desejam, mas Lhe suplicam que não olhos dê nesta vida. Isto é verdade.

A quinta, porque trabalharemos debalde, pois, como não se há-de trazer está água por aquedutos, se o manancial não a quer produzir, pouco aproveita que nos cansemos. Quero dizer que, por mais meditação que tenhamos e por mais que nos apoquentemos e tenhamos lágrimas, não é por aqui que esta água vem. Só a quem Deus quer e, muitas vezes, quando mais descuidada está a alma.

Suas somos, irmãs; faça de nós o que quiser, leve-nos por onde for servido. Creio bem que, a quem de verdade se humilhar e desapegar (digo de verdade, porque não o há-de ser só em nosso pensamento, que muitas vezes nos engana, senão que estejamos desapegadas de todo), não deixará o Senhor de nos fazer esta mercê, e outras muitas que não saberemos desejar. Seja Ele para sempre bendito. Amen.

Sta Teresa D'Avila, Castelo Interior.

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