A discussão abaixo é tirada do livro "O Vigário de Wakefield" de Oliver Goldsmith, escrito em 1766, traduzida por Olavo de Carvalho da edição J. M. Dent & Sons de 1931, pp. 37-39.
1 Squire - membro da pequena aristocracia rural
2 Moses - jovem filho do vigário-narrador
- Mais vale uma bela jovem do que todo o clero do mundo.
- Prove.
- Antes de tudo, você quer abordar o assunto analogicamente ou dialogicamente?
- Acho que se deve abordá-lo racionalmente, respondeu Moses, feliz por lhe permitirem discutir.
- Muito bem, disse o Squire, primeiro as primeiras coisas. Espero que você não negue que tudo aquilo que é, é. Se você não concede isto logo de início, não posso prosseguir.
- Acho que posso concedê-lo, para meu proveito.
- Espero, retorquiu o outro, que você concorde também que uma parte é menor que o todo.
- Concedo isso também, disse Moses. - É uma coisa razoável.
- Espero, disse o Squire, que você não negue que três ângulos de um triângulo sejam iguais a dois ângulos retos.
- Nada pode ser mais certo, respondeu o outro, e olhou em torno com seu habitual ar de importância.
- Muito bem, disse o Squire, falando muito rápido, - as premissas tendo sido assim colocadas, prossigo, fazendo observar que a concatenação das auto-existências, procedendo numa duplicada razão recíproca, naturalmente produz um dialogismo problemático, que em certa medida prova que a essência da espiritualidade pode ser referida ao segundo predicável.
- Pare! Pare!, gritou o outro. - Eu nego isso. Você pensa que posso me submeter assim docilmente a essas doutrinas heterodoxas?
- Que?, replicou o Squire, como tomado de paixão. - Não se submeter? Responda-me a uma questão direta: Você acha que Aristóteles tinha razão ao dizer que os relativos estão relacionados?
- Sem dúvida, replicou o outro.
- Se é assim, então responda-me diretamente: Você julga a investigação analítica da primeira parte do meu entimema deficiente secundum quoad ou quoad minus? E dê-me suas razões! Dê-me suas razões, digo, diretamente!
- Eu protesto!, gritou Moses! Não compreendo direito a força do seu raciocínio, mas, se ele for reduzido a uma proposição simples, poderei ter uma resposta.
- Oh, meu senhor!, respondeu o Squire. - Sou seu humilde servidor, mas o senhor pretende que eu lhe forneça também a argumentação e a inteligência. Não, senhor; isso, eu protesto, é demais pra mim.
Isto efetivamente despertou o riso contra o pobre Moses.
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