terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Dialética Erística - Estratagema do Pré-Silogismo


Se queremos chegar a uma certa conclusão, devemos evitar que esta seja prevista, e atuar de modo que o adversário, sem percebê-lo, admita as premissas uma de cada vez e dispersas sem ordem na conversação; do contrário ele buscará toda sorte de argúcias; ou, quando temos dúvida de que o adversário as admitirá, apresentaremos as premissas dessas premissas, fazendo pré-silogismos, procurando fazer com que admita as premissas de muitos desses pré-silogismos, sem ordem e confusamente, ocultando assim nosso jogo, até que tenhamos reunido tudo aquilo de que precisamos. Chega-se, portanto, à questão seguindo um longo caminho. Estas regras são apresentadas por Aristóteles nos Tópicos, Livro III, Cap. I.

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Esta técnica, das mais requintadas e complexas, pode ser usada não só no debate face a face, mas em todo processo de manipulação da opinião pública. Aceitando premissas parciais espalhadas aqui e ali pela propaganda, pelos espetáculos de teatro, por indivíduos famosos, aparentemente desconectadas entre si e sem qualquer intenção unitária subjacente, o público é levado, sem perceber, à conclusão desejada pelo manipulador. Se a conclusão não for declarada explicitamente em parte alguma, ela terá ainda mais força persuasiva, porque a vítima, ao tirá-la, acreditará estar raciocinando livremente e assumirá responsabilidade pela crença que lhe foi incutida, passando mesmo a defendê-la como expressão pura de sua opinião espontânea. Este processo é usado sistematicamente pela "revolução cultural" gramsciana, que descrevo em A Nova Era e a Revolução Cultural: Fritjof Capra E Antonio Gramsci, 2ª ed., Rio, IAL/Stella Cayimmi, 1994, pp. 65-109. A maioria das técnicas de manipulação da opinião em uso hoje em dia se constitui de adaptações e formidáveis ampliações de técnicas retórico-dialéticas. V. tb. Olivier Reboul, A Doutrinação, trad. rev. Heitor Ferreira da Costa, São Paulo, Nacional, 1980, e ainda Flo Conway and Jim Siegelman, Snapping - America's Epidemic of Sudden Personality Changes, New Yoor, Delta Book, 1979.


Arthur Schopenhauer em Como Vencer um Debate Sem Precisar Ter Razão. 
Nota de Olavo de Carvalho.

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