sábado, 6 de agosto de 2011

2º Mistério Gozoso - Maria visita sua prima


No mistério anterior, vimos como Maria abandona-se à vontade divina, de modo pleno, e que isto lhe possibilita assumir em seu bendito ventre o Verbo divino, desposada que foi pelo Espírito Santo.

Pois bem. Aqui veremos que, tão logo assume em si o próprio Deus e toma conhecimento de ser objeto da predileção divina, Maria não se põe a descansar, olhando o mundo como de cima para baixo. Não. Neste mistério, contemplamos que a mesma Maria que se disse "Ancilla Domine", permanece no seu ministério de serviço e, sabendo da gravidez de sua prima, uma senhora já de idade, a Virgem ruma para sua casa, enfrentando uma longa distância. A sede de servir na sua alma era grande, pois, além de ser agraciada com todas as virtudes, Maria trazia consigo o próprio Deus, Aquele mesmo que disse: "eu não vim para ser servido, mas para servir". Oh bem aventurada disposição esta que não considera nada como pesado. "Se te pedirem para andar mil passos, anda dois mil". Vazia de si mesma, Maria era plenamente revestida de Deus, era a Gratia Plena, a Kecharitomene (1), um oceano de bondade e de todas as demais virtudes.

E lá vai Maria. Sob o corpo talvez franzino daquela menina, um abismo de Mistério e, naquele ventre, o Altíssimo. Chega Maria na casa de sua prima e, ao ouvir a sua saudação, Isabel sente a criança em seu ventre, cujo nome será João, estremecer. A voz de Maria, vazia de si e rendida a Deus, torna-se suficiente para que o Espírito Santo preencha Isabel e santifique a criança no seu ventre. Aqui se realiza o que, mais tarde, este mesmo João irá dizer: "O amigo do Esposo se alegra ao ouvir a Sua voz". É ainda o mesmo que é descrito no livro dos Cânticos quando o Amado, ainda que sem se deixar ver, faz que a esposa note a Sua presença por trás da porta e, apenas isso, faz que a alma da esposa estremeça. Oh Virgem Santíssima que és a Porta Coeli, a Porta do Céu. Feliz o que te encontra e ouve a tua saudação. Feliz foi Isabel que, ao ouvi-la, exclamou: "De onde me vem a honra de que a Mãe do Meu Senhor me venha visitar?". Oh Maria, és como que o transporte divino, pois Deus vem a nós por meio de ti e é também por meio de ti que iremos a Ele.

De onde me vem a honra de que sejas minha Mãe? Certamente, não vem de mim mesmo. Mas do teu Filho, Deus feito carne, que, assumindo a nossa humanidade e tocando a nossa dor, elevou-nos e mereceu-nos tão inestimável dom. És uma digna mãe de Deus, já dizia um santo. E este Deus curou a nossa orfandade confiando-nos aos teus cuidados. Que honra! E, então, Maria canta:

"Minha alma engrandece o Senhor 
e meu espírito se transporta em santa alegria em Deus meu Salvador.
Porque pôs os olhos em sua humilde escrava; por isso todas as gerações me chamarão bem-aventurada.
Grandes maravilhas obrou comigo o Onipotente, cujo nome é santo.
Cuja misericórdia se estende de geração em geração em todos os que o temem.
Assim ostenta o poder de seu braço, transtorna os desígnios dos soberbos.
Derruba os poderosos do seu assento, e exalta os humildes.
Enche de bens os necessitados e os ricos deixa vazios.
Decretou exaltar Israel seu povo, lembrando-se de sua misericórdia.
Para cumprir a promessa que fez aos nossos pais, Abraão e a todos os seus descendentes."

Feliz, mãe, mil vezes feliz os que a ti se confiam e imitam o vosso abandono, se fazem vossos escravos e encarnam em si mesmos o Verbo que levaste em vosso seio.

Ave, mistério, vontade inefável!
Ave, ó fé maturada em silêncio!
Ave, prelúdio dos fastos de Cristo!
Ave, sumário do Santo Evangelho!

Akatistos, Ikos II


Fábio.

(1) Kecharitomene - termo grego usado pelo Arcanjo Gabriel em sua visita à Virgem Maria e que significa "plena de todas as graças de modo atemporal, isto é, desde o início da sua existência e para sempre".

Nenhum comentário: