Pouco tempo após o nascimento de Jesus, Maria e José vão a Jerusalém para apresentar o menino ao Templo. Isto era um costume judeu, segundo o qual o primeiro filho deveria ser apresentado ao Senhor. É justamente por isto, porque a Escritura determina a consagração do Primogênito, que os Apóstolos utilizam este termo para referir-se a Jesus, ao invés de "Unigênito". A objeção protestante de que Jesus teria tido irmãos de sangue já foi refutada de mil modos. Sigamos, então, a exposição.
A lei judaica determinava que a mulher que dava à luz um filho homem deveria esperar por um período de quarenta dias antes de entrar no templo. Obviamente, Maria era absolutamente isenta de qualquer mancha, pelo que não havia necessidade estrita de cumprir este preceito. No entanto, ela humildemente se submete e, mais uma vez, nos mostra que a grandeza não se associa à auto-suficiência ou auto-afirmação, mas é íntima da humildade e da obediência a Deus. Maria espera o tempo de purificação, embora fosse sem mancha, assim como o Seu Filho se submeterá a um batismo de perdão embora não houvesse cometido nenhum pecado.
E lá vai Maria ao templo, acompanhada de seu esposo, José, e de seu Filho Deus. Eles dão, como oferenda, um par de pombinhos, que era o típico dos pobres. Lembremos ainda que Maria era descendente direta de Davi e, portanto, possuía linhagem nobre. No entanto, ei-la aqui reconhecendo-se e se afirmando pobre. Da sua perfeita pobreza é que surge a sua imensa grandeza. Seu Filho um dia dirá que são felizes os pobres, porque deles é o Céu. Não à toa, o próprio Deus, o Amante da pobreza, quis nascer em tal meio, o que mais uma vez nos faz refletir: se queremos o convívio com o Cristo, necessário é fazer que o nosso coração se torne pobre, lembrando que a pobreza interior não se qualifica tanto como não ter nada, mas como um desapego, uma disposição de dar.
Maria foi perfeita em sua pobreza. Vimos como ela abandonou-se diante do anúncio do anjo. E por toda a vida, ela será constante nessa sua atitude interior. Quando a vemos, no livro do Apocalipse, tendo a lua por baixo dos pés, devemos entender que, sendo a lua o símbolo da inconstância, Maria pisou-a de modo tal que a retidão da sua alma nunca sofreu oscilação, nem mesmo a mais leve. Ela é a totalmente constante. Toda a vida de Maria foi uma plena perpetuação do seu "fiat".
Sabemos que as virtudes são amigas das virtudes, assim como os vícios são amigos dos vícios. Diz Nosso Senhor: "onde está o cadáver, aí estarão os abutres". Desse modo, Maria possuía em sua alma a plenitude de todas as virtudes. A sua perfeita pureza e a sua total pobreza permitiam um amor de tal modo grandioso e ardente por Jesus que, dizem os escritores espirituais, os seres angélicos poderiam ter descido a Nazaré a fim de aprender dela o amor a Deus. E, no entanto, ei-la apresentando o seu Filho no templo, como que fazendo um ofertório, reconhecendo que, embora O amasse imensamente, o seu Filho haveria de dedicar-Se à salvação de todo o mundo, obedecendo, antes de tudo, ao Pai, o que implicava toda uma vida de doação e sacrifício. Maria mantém a sua pobreza e oferta o seu bendito Filho. Abraão fora poupado deste sacrifício. Mas ela não será.
Ao chegarem no templo, havia um profeta idoso, de nome Simeão, que apenas esperava o dia, garantido por Deus, em que veria o prometido das nações e o objeto de espera de todos os profetas: Aquele que iria redimir a humanidade. Nos dias de hoje, temos muito pouca condição de compreender o que era esta espera visceral. Se fôssemos bons católicos, poderíamos entender algo disso em comparar com a espera que temos da vinda de Jesus. No entanto, para muitos esta promessa se tornou obscura e se converteu em matéria pouco provável ou distante. Para os profetas da Antiga Lei, porém, isto era o que havia de mais importava. E Simeão, agraciado pela promessa de que, literalmente, veria o Salvador, vivia apenas para este dia.
Quão profunda deve ter sido a alegria deste velhinho ao presenciar, diante de Si, Ele, o esperado! "Já podes deixar ir o teu servo, pois meus olhos viram a tua salvação", é o que ele exclamará. Agora, morrerá feliz, pois sabia que o Cristo já vivia no mundo. O fato de saber ou conhecer o Cristo, o libertava da sua longa espera. "Conhecereis a Verdade, e Ela vos libertará".
Dirá ainda, este profeta, a respeito de Jesus: "Ele será motivo de soerguimento para alguns, e de queda para outros", profetizando que ninguém permaneceria indiferente àquele menino. E a história o dirá: ou o amarão muito, ou o odiarão muito. Jesus mesmo se pronunciará a este respeito: "Quem não está comigo, está contra mim; quem comigo não ajunta, espalha" e ainda "feliz o homem para quem eu não for pedra de tropeço" e, por fim, "aquele sobre quem esta pedra cair se fará em pedaços". Toda a história humana tem o seu centro n'Ele e é o amor por Ele e a adesão a Ele o que determinará a bem-aventurança ou a eterna proscrição. Ele dividirá os homens à Sua direita e à Sua esquerda, sendo Ele mesmo o centro. Não é que seja amigo da arrogância, é que é, Ele mesmo, a Verdade, e não terá medo de o dizer.
E Simeão como que previra tudo isto quando O viu. Depois, olhando para os olhos da Virgem Santíssima, lhe adiantou: "Uma espada de dor transpassará o teu peito". Aqui se vê, claramente, uma alusão à Cruz e uma participação muito íntima de Maria na obra da Redenção. De fato, diz a Igreja: "O que Cristo sofreu no corpo, Maria o sofreu na alma". Desta dor, não fazemos sequer idéia. Alguém, sobre isto, se pronunciou deste modo: "Se a dor que Maria sentiu fosse dividida, em partes iguais, por todos os homens, todos, sem exceção, morreriam de imediato". Uma dor proporcional ao seu amor e, portanto, um abismo.
Por este mistério, peçamos, através da intercessão da Santíssima Virgem, um amor firmíssimo por Jesus, uma pureza imensa e uma pobreza perfeita.
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